terça-feira, 1 de outubro de 2024

A rainha Isabel, a Católica, faz Cruzada contra os mouros

Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs


continuação do post anterior: Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada


A cruzada contra os infiéis maometanos

Um dos maiores empenhos que Isabel teve em seu reinado foi mover a guerra santa contra o invasor muçulmano.

Para esse empreendimento, obteve do Papa as mesmas indulgências de Cruzada concedidas aos que iam lutar na Terra Santa, tendo o Sumo Pontífice lhe enviado uma cruz de prata para ir à frente de seus exércitos.

Nas várias campanhas que encetou, e sobretudo na reconquista de Granada, Isabel arrebatava seus soldados por sua energia sobre-humana, senso do dever e espírito sobrenatural.

Estes “criam que ela era uma santa. Como Santa Joana d’Arc, sempre lhes recomendava viver honestamente e falar bem. Não havia nem blasfêmias nem obscenidades no acampamento onde ela se achava, e viam-se curtidos soldados ajoelhar-se para rezar, enquanto se celebrava a missa ao ar livre por ordem da piedosa rainha”.(7)

A presença da soberana era para os guerreiros como uma garantia de vitória, pois lhes inspirava valor e confiança. Até os mouros admiravam a grande rainha, cantando sua bondade e beleza em suas canções, apesar de a temerem como inimiga.

Enquanto Fernando, um dos melhores guerreiros de sua época, comandava o exército, a rainha cuidava de toda a retaguarda, como recrutamento de reforços, envio de alimentos e munições, bem como projetava os hospitais — foi ela quem instituiu o primeiro hospital militar da História, e suas enfermeiras precederam as da Cruz Vermelha em mais de trezentos anos.

Cavalgava de um lugar a outro, indo mesmo aos acampamentos revestida de leve armadura de aço, para elevar o moral dos soldados. Mas essa rainha guerreira fazia questão de ela mesma costurar a roupa de seu marido, nunca usando o monarca outras senão as confeccionadas pelas hábeis mãos de Isabel ou de suas filhas.

Título glorioso de “Reis Católicos”

Um fato mostra a têmpera dessa rainha. No cerco de Granada, uma vela mal colocada ateou fogo na tenda ao lado da rainha, e desta propagou-se para todo o acampamento, que foi tomado pelas chamas. Os mouros, das muralhas, cantavam vitória.

O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo. Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo.
Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
Mas a enérgica soberana, para mostrar sua determinação de conquistar a cidade, mandou edificar novo acampamento de pedra, surgindo assim uma verdadeira cidade à qual deu o nome de Santa Fé. Foi de lá que partiram as investidas contra Granada, obtendo-se sua capitulação.

O Papa Alexandre VI concedeu ao real casal, por seus serviços em prol da Cristandade, o título de Reis Católicos, em harmonia com o de Rei Cristianíssimo, concedido anteriormente ao monarca francês.

A política matrimonial que seguiram os Reis Católicos teve como intuito isolar a França, sua grande rival na época. Mas não tiveram felicidade com seus filhos.

A primogênita, também chamada Isabel, casou-se com o jovem príncipe português Afonso e, ao enviuvar precocemente, contraiu matrimônio com o seu herdeiro Dom Manuel, o Venturoso.

O príncipe João casar-se-ia com Margarida de Áustria, filha do Imperador Maximiliano I, mas morreria jovem. Joana, que entrará para a História como Joana a Louca, contraiu matrimônio com Felipe de Áustria, o Formoso, e tornou-se herdeira do trono que passou para seu filho, o futuro Carlos V.

Maria casa-se com seu cunhado, o viúvo Dom Manuel, e Catarina será a desafortunada esposa do lúbrico Henrique VIII, da Inglaterra.

“O bom governo dos soberanos católicos levou a prosperidade da Espanha ao seu apogeu e inaugurou a Idade de Ouro do país”.(8)

Três meses após a conquista de Granada, Isabel assinou uma ordem de expulsão dos judeus de seus territórios; e favoreceu a empresa de Cristóvão Colombo, que descobriria assim a América.

A morte de Isabel a Católica. Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte de Isabel a Católica.
Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte desta grande rainha foi muito lamentada pelos seus contemporâneos. Um deles deixou este depoimento:

“O mundo perdeu seu adorno mais nobre; uma perda que deve chorar não somente a Espanha, que ela já não levará mais no caminho da glória, mas todas as nações da Cristandade, porque ela era o espelho de todas as virtudes, o amparo do inocente e o sabre vingador do culpado.

“Não conheço ninguém de seu sexo, nos tempos antigos nem nos modernos, que, a meu juízo, possa equiparar-se com esta mulher incomparável”.(9)

Notas:
1. Luis Amador Sanchez, Isabel, a Católica, tradução de Mario Donato, Empresa Gráfica O Cruzeiro S. A., Rio de Janeiro, 1945, p. 55.
2. William Thomas Walsh, Isabel de España, tradução castelhana de Alberto de Mestas, Cultura Española, 1938, p. 49.
3. Ramón Ruiz Amado, DO, The Catholic Encyclopedia, Vol. VIII, transcrito por WGKofron, copyright © 1910 de Robert Appleton Company, online edition copyright © 1999 by Kevin Knight. 4. Id. ibid.
5. William Thomas Walsh, op.cit., p. 171.
6. (Site: www.artehistoria.com, Protagonistas de la História, Isabel la Católica.)
7. Walsh, op.cit., p. 160.
8. The Catholic Encyclopedia, online edition.
9. Carta de Pedro Mártir, um dos secretários da rainha, comunicando a morte de Isabel ao Arcebispo Talavera, in William Thomas Walsh, Isabel de España, p. 599.

(Fonte: revista "Catolicismo" nº 643, julho de 2004.




GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada

A rainha Isabel a Católica
A rainha Isabel a Católica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Muito foi escrito sobre esta soberana cujo processo de canonização está em andamento.

Seguem algumas pinceladas de sua extraordinária existência, ressaltando do seu aspecto guerreiro e espírito de cruzada, o que é possível transmitir num simples artigo.

Filha de João II, Rei de Castela, e sua segunda esposa, nasceu Isabel a 22 de abril de 1451 na pequena cidade de Madrigal das Altas Torres.

Aquela que seria a última mulher cruzada descendia, tanto pelo lado paterno quanto pelo materno, de dois reis santos e cruzados: São Luís IX, da França, e seu primo São Fernando III, de Castela.

Falecendo o pai quando sua idade era pouco mais de três anos, foi educada piedosamente pela mãe, juntamente com seu irmão menor Afonso.

“Bordava telas e casulas, costurava roupas para os pobres, aprendia a fiar como as mulheres do povo. Tecia sedas, urdia e confeccionava tapetes com assombrosa habilidade”.(1)

Aos 11 anos foi levada com Afonso por Henrique IV, seu meio-irmão, para a corte castelhana, considerada então a mais corrompida da Europa.

Na corte castelhana, dois partidos em disputa

Na corte castelhana, “a princesinha estudava música, pintura, poesia, costura e gramática. Cada dia passava muito tempo em oração pedindo a Deus que os guardasse, a ela e a Afonso, livres de todo pecado; e especialmente invocava a Bem-aventurada Virgem, São João Evangelista e o apóstolo São Tiago, patrono de Castela”.(2)

Pela fraqueza dos reis castelhanos, “nesse período [os nobres] tinham chegado ao ponto de despojar completamente o trono de sua autoridade.

Aproveitavam-se da incrível imbecilidade de Henrique IV e das escandalosas relações entre Joana de Portugal, sua segunda mulher, e seu favorito Beltran de la Cueva”,(3) a quem atribuíam a paternidade da infanta Joana, por isso cognominada la Beltraneja.

Com a chegada dos jovens príncipes, formaram-se logo na corte dois partidos: um que defendia a legitimidade destes ao trono, e outro que defendia a da Beltraneja.

O primeiro partido tornou-se tão poderoso, que obteve do fraco rei que reconhecesse Afonso e Isabel como seus legítimos herdeiros.

Falecendo o príncipe Afonso, o partido de Isabel quis aclamá-la rainha no lugar de Henrique IV.

“Nessa ocasião, Isabel deu uma das primeiras provas de suas grandes qualidades, recusando a coroa usurpada que lhe era oferecida, e declarando que nunca, enquanto seu irmão vivesse, aceitaria ela o título de rainha”.(4)

Aos 18 anos, Isabel casou-se secretamente com o herdeiro da coroa de Aragão, o príncipe D. Fernando, para evitar as tratativas que seu irmão fazia para casá-la com outro pretendente.

Assume as rédeas do governo e reconstrói o país

Isabel assumiu o governo aos 23 anos, à morte de Henrique IV. Com sua energia, e acompanhada de seu marido Fernando, foi obtendo a adesão de cada cidade para sua causa.

A rainha de Castela, Isabel a Católica, anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500), Colección Generalife
A rainha de Castela, Isabel a Católica,
anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500),
Colección Generalife
Mas o Rei de Portugal, Afonso V, querendo assenhorear-se de Castela, entrou no país para casar-se com a Beltraneja, a qual, afirmava ele, era a legítima herdeira do trono.

Vários potentados castelhanos tomaram seu partido, aliando-se a ele. A alternativa para Isabel era ceder, ou então guerrear. E ela não cedia num ponto em que julgava estar inteiramente com a razão.

Assim, apesar de estar esperando um segundo filho, pôs a cota de malhas e, a cavalo, foi recrutando gente em todas as suas cidades, enquanto Fernando fazia o mesmo em Aragão.

Habilíssimo general e grande estrategista, Fernando obteve retumbante vitória sobre o soberano português, consolidando assim Isabel no trono.

Triste foi a herança que recebeu Isabel de seu fraco e imoral meio-irmão.

“As indústrias quebravam, a moeda andava escassa, centenas de cidades desafiavam sua autoridade sob o mando de prefeitos que se criam reis delas, o povo morria de fome e de epidemias. A Igreja necessitava de reforma, o governo existia só de nome, e por todas as partes os camponeses estavam oprimidos por bandos de ladrões”.(5)

Os jovens soberanos entregaram-se com energia à tarefa de reconstruir o país. Começaram a reprimir severamente os abusos e aplicar a justiça contra quem quer que fosse.

Fizeram reviver, para isso, a Santa Irmandade, força de voluntários que servia de polícia local, com jurisdição sobre assassinatos, atos de violência, rapina, atentados a mulheres e desobediência às leis e aos magistrados.

Isabel obteve do Papa a instauração da Santa Inquisição em Castela para pôr fim aos abusos, na esfera religiosa, principalmente de cristãos-novos (judeus convertidos), muitos dos quais tinham fé duvidosa e utilizavam a usura para pressionar os cristãos.

Isabel era muito ciosa de sua autoridade como rainha. Por isso, em 1475 firmou com seu esposo o acordo denominado Concórdia de Segóvia, pelo qual recebeu o título de Rainha e proprietária de Castela, e seu esposo o de rei consorte.

“Desde esse momento os esposos formam um bloco impossível de dividir, e com essa firmeza podem fazer frente ao estalido da guerra”.(6)



(Fonte: revista "Catolicismo" nº 643, julho de 2004.




GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Brian Boru, rei herói da Irlanda


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Brian Bórumha mac Cennétig (Brian filho de Kennedy), conhecido em inglês como Brian Boru (941 — 23 de Abril de 1014) nasceu perto de Killaloe, no moderno condado de Clare, na Irlanda.

Brian Boru em gaélico significa o dos tributos, pois tributou outros governantes menores da Irlanda para reconstruir os mosteiros e as bibliotecas destruídas pelas invasões dos Vikings.

Tornou-se rei de Munster em 976 e em 1002 ganhou o título de Grande Rei de toda a Irlanda (em inglês High King of All Ireland e em irlandês Árd Righ Gaidel Éirinn).

Brian Boru provavlmente,
Capela Real do castelo de Dublin
Nos registos eclesiásticos, além de Rei da Irlanda, é tratado de Imperador dos Escotos (Rex Hiberniæ et Imperator Scottorum, em latim).

Harpa que teria pertencido a Brian Boru,
Trinity College, Universidade de Dublin
Brian Boru morreu numa Sexta-feira Santa, 23 de Abril de 1014, durante a batalha de Clontarf, lutando contra os Vikings pagãos.

Sem o seu heroico líder, a Irlanda caiu no caos e na anarquia dinástica, e nunca mais voltou a ficar unida sob o domínio de um irlandês.

No entanto, a sua fama continuou a ser tão grande que os seus descendentes, os O’Briens, tornaram-se subsequentemente uma das principais famílias do país.

Ainda hoje o símbolo nacional da Irlanda é a Harpa de Brian Boru, conservada no Trinity College de Dublin, e que se diz ter pertencido ao soberano irlandês.


GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Jocelyn de Courtenay e os dois conceitos da felicidade

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



continuação do post anterior: Jocelyn de Courtenay: o espírito guerreiro, a fidelidade a Deus e a felicidade na Terra



Na vida e na morte de Jocelyn de Courtenay aparece o choque entre dos dois conceitos de vida que se opõem.

Um é o conceito segundo o qual a felicidade consiste em gozar a vida.

Outro é o conceito segundo o qual, nesta terra a felicidade consiste em ter conhecido o verdadeiro ideal e o ter servido heroicamente, com sacrifício, ainda que pesadíssimo. E com tanto mais alegria quanto mais pesado foi o sacrifício.

Os dois modos de ver se apartam diametralmente um do outro.

O segundo é de tal maneira grande, que é até incalculável. Tudo o que nós possamos excogitar, para nos dar um ideia do que é que pode ser a nossa felicidade no Céu, não é de nenhum modo suficiente para compreender o abismo de felicidade em que está imersa a última das almas do Céu.

Porque é uma felicidade completa. Tem graus, mas é completa. Para cada um ela é completa. O mesmo se pode dizer do inferno.

De maneira que do ponto de vista da mera vantagem, do prazer, do deleite, vale a pena servir a Deus, que é o Senhor de todo bem, de toda bondade e que tem meios de nos recompensar magnificamente.

O idealista é mais feliz morrendo na realização de uma grande obra, do que vivendo entre coisas secundárias

Por detrás disso há a ideia e que nesta terra há mais alegria em morrer depois de ter servido à causa verdadeira do que em viver como um pachá.

Os paraquedistas franceses exprimiam isso dizendo: “Mais vale a pena ser uma águia um minuto, do que sapo a vida inteira”

Quer dizer, o esplendor do voo de uma águia que se perde no azul, ainda que for um minuto vale mais vale a pena do que ser ingloriamente um sapo no brejo, coaxando anos e anos e anos, se refocilando naquilo que é sujo, secundário e sem interesse.

Jocelyn de Courtenay fez um voo de águia com um lampejo de glória voltada para o Céu e considerou realizada a vida.

Pelo contrário, na concepção burguesa, a glória não representa nada. O gozo é a razão de ser da vida. Então é preciso afastar a glória para ter só gozo.

Há reflexos dessa mudança de mentalidade em toda a civilização moderna. Cem atrás os políticos faziam guerras pela glória e nas relações internacionais a glória da nação era fator preponderante.

Hoje as relações das nações são exclusivamente comerciais. Não entra em jogo a glória, o renome, a honra, nada disso. As nações vão se transformando em empresas comerciais e a diplomacia visa o negócio porque a ideia do gozo material invade tudo.

Antigamente nas relações entre as pessoas tinha um grande papel o distinguir alguém, honrá-lo, elogiá-lo, realça-lo. Hoje não. As relações são ou negócio ou cumplicidade no vício; não há outro estilo de relações.

Não se ouve dizer que fulano foi visitar sicrano por uma questão de prestígio. Negócios e lucros é o conceito que está se afirmando. É exatamente a abolição de todos os valores morais e a afirmação apenas da utilidade penetrando na vida.

Esse tom de coisas representa a vitória do materialismo.

E, ao mesmo tempo, sua derrota.

Por quê?

Aliás, isso se dá na Rússia também. Quando os povos ficam longamente privados dos bens da alma, começam a sentir fome deles e não se aguentam mais sem eles. Então começa a vir uma nova era histórica que pede a restauração dos bens da alma.

Nós estamos terminando um período de saturação materialista criminosa. Caminhamos para o ponto onde essa saturação vai morrer e a apetência das grandes coisas vai renascer com fome de leão.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 16/9/72, sem revisão do Autor)



GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Jocelyn de Courtenay: o espírito guerreiro,
a fidelidade a Deus e a felicidade na Terra

Jocelyn de Courtenay, ou Josselin II de Courtenay
Jocelyn de Courtenay, ou Josselin II de Courtenay
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Jocelyn de Courtenay, ou Josselin II de Courtenay nasceu entre 1070 e 1075, foi para Terra Santa em 1101, onde morreu em 1131. Ele foi príncipe de Galileia e Tiberiades de 1113 a 1119 e conde de Edessa de 1119 a 1131.

Do livro Les Templiers, de Georges Bordonove tiramos a ficha seguinte sobre ele.

“Jocelyn de Courtenay foi senhor do Condado de Edessa, no limite norte do reinado latino de Jerusalém. Era neto dos Cruzados que conquistaram a Cidade Santa.

“Ao norte, o Condado de Edessa, havia sido invadido por um lugar-tenente de Reng, principal guerreiro muçulmano da época, perdendo seu velho senhor Jocelyn de Courtenay”.

“Esmagado pelo desabamento de uma torre que fora minada, Jocelyn foi retirado dos escombros todo desfeito. Em seguida os infiéis se precipitaram para cercar Faizum, residência do Patriarca de Edessa.

“Quase morrendo, Jocelyn se fez carregar para socorrer a fortaleza. E tal era o seu prestígio que, mesmo carregado numa liteira, ele amedrontou os turcos a ponto de fugirem diante de sua presença.

“Vencedor sem combate, Jocelyn rendeu graças a Deus, nestes termos dignos de uma canção de gesta:

‘Beau Sir Dieu Belo Senhor Deus , eu vos glorifico e agradeço como posso, por me terdes honrado tanto no século, principalmente agora, ao encerrar a minha vida.

‘Vós me sois tão misericordioso e magnânimo, que quisestes que de mim semi-morto e impotente, reduzido a uma carcaça que nem a si mesmo pode ajudar, os inimigos tivessem um tal pavor que não ousaram esperar no campo de batalha e fugiram todos por causa de minha chegada.

Beau Sir Dieu, eu bem sei que tudo isso prova a Vossa bondade e Vossa cortesia’.

“E tendo dito essas coisas, de todo coração recomendou-se a Deus e em seguida sua alma o deixou”.

Confrontando a posição desse homem e a mentalidade moderna nós compreenderemos tudo quanto de épico e de reluzente existe em seu espírito.

Josselin gravemente ferido conduz suas tropas em socorro de Faizum. Iluminura do século XIII.
Josselin gravemente ferido conduz suas tropas em socorro de Faizum.
Iluminura do século XIII.
Ele foi um guerreiro de uma família feudal que era senhora de uma cidade na Terra Santa. Ele era descendente de Cruzados, lutou valentemente pela Santa Sé, e entretanto, as desgraças se acumularam sobre a família dele e sobre ele, uma em cima da outra.

A cidade da qual ele era senhor feudal foi invadida. Ele perdeu, portanto, esse ponto de apoio, essa fortuna, esse fator de prestígio.

Guerreiro, ele foi esmagado pelo desabamento de uma torre e foi reduzido a uma carcaça.

Ele poderia, segundo os padrões modernos, ter uma queixa de Deus. Porque ele poderia achar normal que Deus o premiasse na Terra.

E achar – aqui está o ponto sensível do problema – que o prêmio consistiria em ele viver na cidade dele, como senhor feudal, feliz, rico, tranquilo, sem guerras nem aborrecimentos, sem heroísmo nem provações, gozando a vida largamente, fazendo viagens, anexando outras terras por algum casamento lucrativo, fazendo negócios,. Enfim, levando uma vida burguesa.

Esse homem, pelo contrário, perde todas as coisas que representavam o regalo da vida burguesa ou da vida aristocrática com sabor burguês.

Ele é reduzido por um acidente glorioso ao longo de uma luta a uma carcaça, como ele diz.

Ele poderia ficar queixoso em relação a Deus. Entretanto, o que é que se dá?

Ação de graças do guerreiro que sente sua vida realizada

Ele era um grande guerreiro e um grande general. Pela sua fama os adversários várias vezes tinham fugido dele no campo de batalha.

Na última vez, sabem que ele é levado para o campo de batalha. E embora saibam que ele vai numa liteira e que ele não pode se mover, têm medo do ímpeto que ele comunica aos soldados, têm medo do talento guerreiro dele e, por causa disso, fogem.

Ele se considera realizado bem ao contrário do ideal burguês do homem de nosso século.

Mapa do Condado de Edessa, 1098-1131
Mapa do Condado de Edessa, 1098-1131
E ele diz: “Meu Deus, eu tenho alegria de ter sido feito carcaça por amor a Vós. Vós me dais mais uma alegria, ó Deus: é de ter dado tanto medo nos meus inimigos que eles fogem todos.

“Simplesmente sabendo que esta pobre carcaça, que já não pode andar por si, esta pobre carcaça está no campo de batalha, os inimigos fogem!

“Meu Deus, como Vós fostes bom para mim! A minha vida atingiu seu objetivo: eu Vos servi como um herói. E a prova disso é que os Vossos inimigos têm medo de mim.

“Eu Vos agradeço, ó meu Deus, a Vossa bondade”.

E depois essa expressão deliciosa: “Eu Vos agradeço a Vossa cortesia!”

É delicioso esse conceito de Deus cortês, elegante, distinto para com sua criatura.

Tendo dito isso, ele assume a atitude do Nunc dimitis do velho Simeão:

“Agora chamai em paz o Vosso servo, porque a minha alma viu o meu Salvador”.

A alma não viu o Salvador, a alma viu a realização da vida que ele tinha querido ter na terra. Ele morreu, e sua alma foi para o Céu.


continua no próximo post: Jocelyn de Courtenay e os dois conceitos da felicidade


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, extraído de palestra. Não revisto pelo Autor)






GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS