terça-feira, 20 de setembro de 2022

Simão de Montfort, campeão da ortodoxia contra a heresia

Montfort l'Amaury, cidade natal de Simon de Montfort, perto de Pariws, Heróis medievais
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Simão IV, conde de Montfort, foi o segundo filho de Simão III e de Amícia, filha de Roberto de Beaumont, conde de Leicester, na Inglaterra. Nasceu aproximadamente em 1150.

Tendo sucedido a seu pai como barão de Montfort em 1181, casou-se em 1190 com Alice de Montmorency, de quem teve três filhos.

Em 1198 partiu para a Palestina com uma tropa de cavaleiros franceses, mas obtiveram poucos êxitos.

Em 1202 participou da IV Cruzada. Mas vendo que seus companheiros se desviavam do fim piedoso que os tinha movido, e tomaram de assalto Constantinopla, separou-se deles e foi para a Terra Santa, onde se cobriu de glória.

Simon de Montfort, selo, Heróis Medievais

Alguns anos mais tarde, em 1209, aderiu à cruzada convocada pelo Papa Inocêncio III contra os albigenses, no sul da França.

Quem eram os albigenses

Tomando o seu nome da cidade de Albi, ao sul da França, centro da heresia, essa seita panteísta e maniqueísta pregava a existência de dois princípios (ou deuses) opostos, um bom e outro mau.

O bom era o criador do mundo espiritual, e o mau o do material.

Eram considerados males — frutos do princípio mau — os fenômenos naturais, como o crescimento dos homens, animais e plantas, e mesmo os fenômenos extraordinários, como terremotos; esse princípio mau era também responsável pelas desordens sociais, como a guerra.

Imoralíssimos cátaros expulsos pelos Cruzados anti-albigenses. As Cruzadas
Fora ele quem criara o corpo humano, e, sendo responsável pela matéria, era o autor do pecado, o qual teria sua origem nela, e não do espírito.

Por isso a procriação era também um mal, porque perpetuava a matéria. Foram eles precursores dos atuais inimigos da vida, utilizando preservativos e práticas anti-natalistas.

Daí tiravam como conseqüência os maiores absurdos. O ideal para os mais perfeitos era aniquilar o corpo até atingir uma espécie de nirvana budista.

Para livrar-se da matéria pecaminosa, alguns chegavam a tais excessos, que procuravam a morte pela abstenção da comida e da bebida (endura), por sangramentos ou veneno, ou ainda fazendo-se degolar para não voltar a cair na classe dos impuros.

Segundo essa doutrina, Cristo, como era perfeito, só tinha espírito. Seu corpo material era apenas uma aparência. Com isso, conseqüentemente, negava-se sua paixão e morte real; negavam também a maternidade divina de Nossa Senhora e os Sacramentos.

Evidentemente, os albigenses eram contra a Igreja enquanto instituição e contra sua Hierarquia, e visavam sua extinção, como também a do Estado.

Quéribus, fortaleza catara conquistada por Simon de Montfort, Heróis medievais
onstituíam uma seita “socialista, ou seja, anarquista”, contrária ao casamento e à propriedade privada, e mesmo contra a raça humana, ao pregar o suicídio.

Desejavam extinguir a Igreja e instalar um Estado onde só houvesse puros. O Papa Inocêncio III dizia que os albigenses eram piores que os sarracenos.

Quando os albigenses adquiriram força suficiente, com o auxílio de vários senhores da região, aos poucos começaram a atacar igrejas e mosteiros, a expulsar bispos de suas cidades e a ameaçar os fiéis.

A situação chegou a tal estado de calamidade, que uma testemunha ocular declara: “Vi igrejas incendiadas e destruídas até os alicerces, e vi os mosteiros transformados em habitação dos animais do campo”.

O grande São Bernardo, visitando aquela região, registra que encontrou “as igrejas sem povo, o povo sem sacerdotes, os cristãos sem Cristo”.

Carcassonne não resistiu ao embate dos cruzados. Heróis medievaisTal seita teve um grande defensor no conde Raimundo VI, de Toulouse, que “levava uma vida licenciosa, havia-se casado cinco vezes e voltara a se separar de suas mulheres ao seu capricho; atribuíam-se a ele os lances mais licenciosos”. Outros senhores da região, que levavam vida igualmente licenciosa, favoreceram também a heresia.

Papa Inocêncio III procurou antes ganhar os hereges pela persuasão, enviando entre eles monges cartuxos como missionários. Mas os hereges não lhes deram ouvidos e continuaram em sua impiedade.

Simon de Montfort, Toulouse restaura muralhas destruídas por Simon de Montfort, Herois medievaisO Pontífice incitou então o conde de Toulouse a perseguir seus súditos hereges.

Raimundo VI fez jogo duplo, expulsando alguns deles, mas concorrendo para o assassinato do legado papal, Pedro de Castelnau (1208).

Inocêncio III então o excomungou, desligando seus súditos do juramento de fidelidade, e pregou uma cruzada contra os albigenses.

Entretanto, o rei da França, Felipe Augusto, suserano de Raimundo VI, e por isso mais diretamente responsável pela cruzada, não acorreu ao chamado do Papa por estar em guerra contra João Sem-Terra, da Inglaterra. Mas liberou seus vassalos para esse fim.

Uma multidão deles atendeu ao apelo pontifício, entre os quais o conde Simão de Montfort, que logo foi eleito capitão general da empresa.

Foi ele o homem talhado para tal, pois
“era da madeira de que se fazem os fundadores de Estados. Se bem que já com 60 anos de idade, era ainda um homem formoso, hábil, prudente, intrépido, de heróico valor, incansável, eloqüente, afável; soube inspirar em seus súditos uma fervorosa adesão, e exercia sobre seus inimigos uma forma de fascínio que os paralisava”.
“Levanta-te e cinge-te da espada”

O Papa, temendo o desaparecimento da Igreja naquelas paragens, incentivou Simão a combater tenazmente os hereges:
“Eia, paladino de Cristo, o sangue dos justos clama a ti para que ponhas diante da Igreja o escudo da fé contra seus inimigos! levanta-te e cinge-te da espada”.
Simon de Montfort, batalha de Muret, Herois medievaisAcusa-se de excessos a Simão de Montfort em sua campanha, mas tem-se que levar em conta os usos bárbaros que ainda persistiam de algum modo naquele século.

Sobretudo é necessário ressaltar que a crueldade dos albigenses em seus ataques às igrejas e mosteiros, seu ódio à Religião católica e seu fanatismo religioso causavam justa indignação no ânimo de seus adversários católicos.

Ademais, aquela guerra adquirira ainda o caráter de uma guerra de civilizações,
“pelo ódio que dividia então as duas raças – os franceses do norte e os franceses do sul – tão diferentes pela sua língua, costumes e grau de civilização”.

Se não fosse o valor e a energia de Simão de Montfort, provavelmente a heresia albigense teria dominado não só o sul da França, mas teria se estabelecido na Itália e outros países europeus.

Monségur, último castelo cátaro tomado pelos Cruzados. As CruzadasEm 1213 Simão derrotou o Rei Pedro de Aragão, genro de Raimundo, na batalha de Muret.

Os albigenses foram então esmagados, mas Simão continuou a guerra como uma guerra de conquista, sendo indicado, pelo Conselho de Montpellier, senhor de todos os recém- conquistados territórios, como Conde de Toulouse e Duque de Narbonne (1215).

O Papa confirmou essa indicação, entendendo que ele efetivamente completaria a supressão da heresia.

Mas não era o fim da guerra. Em 1218 Raimundo voltou da Espanha, para onde fugira. Com a ajuda de seu sobrinho Jaime I, de Aragão, formara poderoso exército, e com ele cercou Toulouse.

Simão de Montfort estava assistindo à Missa quando lhe foram dar a notícia.

Era antes da Consagração. Respondeu ele: “Não vou enquanto não tiver visto meu Salvador”.

E quando o sacerdote elevava a Hóstia, ele estendeu as mãos ao céu e exclamou: “Senhor, deixa que teu servo morra em paz, se é tua vontade”.

Logo montou a cavalo e correu para o lugar da luta, quando viu seu irmão Guido de Montfort caindo do cavalo, ferido por uma seta.

Morte de Simon de Montfort, Heróis medievais
Morte de Simão de Montfort
Nesse momento uma pedra, atirada por uma máquina de guerra, lhe rompeu a cabeça. Ele morreu recomendando sua alma a Deus. Foi enterrado no mosteiro de Haute-Bruyère.

À morte do intrépido comandante, os cruzados retiraram-se para um acampamento fortificado, enquanto na cidade os rebeldes, de alegria, fizeram tocar a repique os sinos de todas as igrejas.

Dos três filhos do heróico comandante, o mais velho, Amaury, herdou suas possessões francesas; e o caçula, com o mesmo nome que o pai, sucedeu-o como barão de Leicester, desempenhando um importante papel na história da Inglaterra.

Amaury, filho de Simão, estava longe de ter o valor do pai. Tanto ele quanto Raimundo VII, que também sucedera ao pai, cederam seus direitos sobre o território ao rei da França.

O Concílio de Toulouse, em 1229, confiou a vigilância religiosa do território à Inquisição. Mais tarde, em 1233, esta passou aos dominicanos.

Mas a perniciosa heresia só iria desaparecer no fim do século XIV.

Entretanto, Simão de Montfort lhe havia dado o golpe mortal.










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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Imperador Carlos Magno: “Entre os homens é como a águia entre os pássaros”

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A foto à esquerda é da famosa pintura de Albrecht Dürer. Carlos Magno, nesta ilustração, parece estar entre a idade madura e a orla da velhice.

Seu bigode ainda é, em parte, castanho louro, mas na outra parte, já completamente branco. Seu olhar, de um homem experimentado, está prevenido para enfrentar o adversário vindo de qualquer lado e a qualquer momento.

Ele é seguro de si como um Himalaia. Seu olhar revela vigilância permanente. Seu modo de ser, o rosto, o corpo e tudo o mais indicam a contínua estabilidade, a contínua distância psíquica.

É como se ele estivesse dizendo: “Por enquanto, estou tranqüilo, e na hora do combate não deixarei de estar tranqüilo, porque confio em Deus, meu Senhor”.

Ele usa um manto maravilhoso de brocado, com a águia imperial servindo de ornato em alguns pontos. Dir-se-ia que a águia é ele. Ele é, entre os homens, o que a águia é entre os pássaros.

Está portando uma coroa magnífica que contém jóias ainda não lapidadas, encimada pela Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim como a Cruz esteve no alto do Calvário, no alto dessa brilhante coroa, reluz também a Cruz, ao mesmo tempo lembrança adorável de nosso Redentor e sua glorificação.

E, por outro lado, tal Cruz é quase um ato de reparação, de quem diz: “Fizeram para Nosso Senhor uma Cruz, preta, dura, um instrumento de suplício, de difamação.

Quiseram difamá-lo. Pois bem, ela será colocada no alto da coroa imperia,l em ouro e pedras preciosas! Para glorificá-Lo!

Algozes miseráveis, que fizestes o que fizestes, eis aqui o Sacro Império Romano, do alto da minha fronte, oferecendo um ato de reparação!”

* * *

Imaginemos que se interrompa uma novela pornográfica na televisão, para apresentar uma análise deste quadro. Haveria, por certo, quem desejasse destruir isto para continuar a ver a pornografia!

Nós, entretanto, queremos liquidar a pornografia e pôr neste horizonte o mundo do século XXI.

* * *

Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 22 de fevereiro de 1986. Sem revisão do autor.

Carlos Magno foi Rei dos francos (768–814), dos lombardos e Imperador do Ocidente (800–814). Pode ser considerado como o protótipo de Imperador cristão.

Albrecht Dürer: famoso pintor e gravurista alemão, filho de um ourives húngaro, nasceu e faleceu na cidade de Nüremberg (1471–1528). Considerado o maior pintor germânico do Renascimento, pode ser comparado aos grandes mestres italianos da época. Embora conservando em sua arte uma base germânica, ele assimilou o requinte dos artistas flamengos, apropriou-se do espírito de invenção dos italianos e contribuiu para os ornatos destes, tanto com seus tratados teóricos quanto por sua obra pictórica e de gravação.




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