Ali Pachá chefe supremo islâmico em Lepanto caiu abatidoe e sua morte semeou o desconcerto entre os sectários do Corão. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Lepanto: se engaja a batalha do tudo ou nada
Num lance decisivo, Ali Pachá é abatido
Por duas vezes, os turcos penetraram na Real de D. João d’Áustria até o mastro principal. Sangrentas lutas corpo a corpo tiveram lugar ali.
E por duas vezes os valorosos soldados espanhóis rechaçaram as ondas de guerreiros turcos. O comandante católico levou um tiro no pé. Veniero, com seus 70 anos, combatia de espada na mão.
As primeiras forças de auxílio de Álvaro Bazan foram ao socorro da ala norte, salvando a situação. Bazan também percebeu o vão entre o centro e a ala de Doria, e enviou para lá mais algumas reservas para controlar a situação que já se tornava desesperadora.
As horas passavam durante o violento confronto. O tórrido sol da tarde fazia refletir sua luz nas águas do mar, agora tingidas de vermelho. As últimas naus de reserva foram enviadas ao centro, onde a batalha fervia.
As seis grandes galeaças de Duodo já haviam afundado, incendiado ou botado a pique incontáveis navios turcos.
Mas no centro, a luta era dramática para os católicos. As tropas de reserva chegaram apenas para salvar o generalíssimo ferido e já encurralado em sua própria nau.
D. João decretou que todos os prisioneiros por crimes pequenos que remavam nas galés receberiam a liberdade se combatessem valorosamente.
Os duzentos novos soldados de auxílio enviados por Bazan começavam agora a empurrar os turcos de volta para a Sultana.
A luta neste ponto foi terrível. Os valentes espanhóis invadiram por três vezes o navio de Ali Pachá e por três vezes foram expulsos. Os conveses das duas naus-capitânias estavam cobertos de cadáveres. Sentia-se uma inexplicável hesitação nas hostes turcas.
Então, Ali Pachá, quando repelia o último ataque católico, foi atingido pelo tiro preciso de um arcabuzeiro espanhol.
Em meio à confusão, seu corpo foi arrastado até D. João d’Áustria. Um espanhol levantou a cabeça do general turco na ponta de uma lança e um forte brado de vitória repercutiu nas fileiras católicas.
Os turcos entraram em pânico e começaram a bater em retirada, usando o que restara de sua esquadra.
Muitos deles ainda foram capturados ou mortos. Um estandarte com o Divino Crucificado foi hasteado no mastro da Sultana. Uluch Ali ainda conseguiu fugir com algumas embarcações.
Lepanto, Andrea Vicentino (1542 -1617) Palazzo Ducale, Venezia. |
Vitória contra a ameaça maometana
Maria Auxílio dos Cristãos. Santuário Maria Ausiliatrice, Turim. |
Na mesma hora do desfecho da batalha, em Roma, o Papa São Pio V tratava de assuntos internos do Vaticano. Ele voltou-se para uma janela e teve uma visão surpreendente:
“Não é hora de negócios, mas sim de rezar e agradecer a Deus. Nossa esquadra acaba de obter uma grande vitória”, disse ao secretário.
As notícias oficiais só chegaram duas semanas mais tarde...
O Santo Padre foi em procissão até São Pedro cantando o Te Deum. Depois ordenou a comemoração da vitória, designando o dia 7 de outubro em honra de Nossa Senhora do Rosário.
Mais tarde mandou acrescentar aos títulos da Santíssima Virgem na Ladainha Lauretana a invocação Auxílio dos Cristãos.
Foi a Mãe de Deus quem vencera em Lepanto, pois, conforme narrativas feitas pelos próprios muçulmanos, Ela apareceu durante a batalha, aterrorizando os combatentes seguidores de Maomé.
A espetacular vitória da Santa Liga foi um golpe do qual o império turco-islâmico jamais se recuperaria.
Alguns historiadores afirmam, porém, que Lepanto não teve grande efeito, pois enquanto a Santa Liga se desfazia, em menos de um ano a frota turca estava recomposta com mais de 200 navios.
Contudo, tal afirmação é facilmente desmentida pelos fatos. Em 1572, no litoral da África, com apenas 22 galés, D. João d’Áustria enfrentou Ulich Ali, o mesmo que havia fugido em Lepanto e que comandava agora 250 embarcações.
Os turcos não tiveram coragem de sair de seu refúgio para enfrentar o jovem príncipe. As tempestades acabaram por separar as duas frotas sem combates.
No mar, a força moral dos turcos contra a Cristandade ficou arrasada para sempre.
Ainda demoraria um pouco para que o mesmo acontecesse em terra.
FIM
(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, CATOLICISMO, abril 2015)
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Referências
1. WEISS, Juan Baptista. História Universal. Barcelona: Tipografia La Educación, 1929, vol. IX, pp. 535 a 540.
2. Walsh, William Thomas. Felipe II, 7ª edição, Madri, Espasa-Calpe, 1976, pp. 564 a 579.
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