terça-feira, 14 de maio de 2024

A Igreja glorificou o senhor feudal perfeito

Imagem do Beato Charles de Blois, duque da Bretanha,  na igreja de Notre-Dame de Bulat-Pestivien, Bretanha, França
Imagem do Beato Charles de Blois, duque da Bretanha,
na igreja de Notre-Dame de Bulat-Pestivien, Bretanha, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Do Beato Carlos de Blois, do qual o General Silveira de Melo, no livro “Santos Militares” diz o seguinte: (1ª Edição, 1953. Brochura ainda íntegra, marcas do tempo. 456pp. Dep. Imp. Nacional.)

“Carlos de Blois era filho do Conde de Blois, Louis de Fitillon e da Princesa Margarida, irmã de Felipe de Valois. Recebeu educação esmerada e foi muito adestrado militarmente. Casando-se com Joana, filha de Guy e neta de João III, Duque da Bretanha, por morte deste último recebeu o ducado como herança de sua esposa, no ano de 1341.

“Assumiu o governo desta província com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes. Entretanto, o Conde de Montfort, irmão do duque falecido, reclamou o direito à sucessão e pegou em armas para reivindicá-lo, no que foi apoiado pelos ingleses, enquanto a França tomava o partido de Carlos.

“O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor. Vinte e três anos durou essa luta que os ingleses suscitavam de fora. Em 1346, no combate de Roche Darrien, Carlos sofreu revés e caiu prisioneiro.

“Encerraram-no na Torre de Londres, onde permaneceu encarcerado durante nove anos. As orações que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha “.

O Beato Charles de Blois recebe representação dos habitantes de Jugon
O Beato Charles de Blois recebe representação dos habitantes de Jugon
“A Princesa Joana, sua enérgica esposa, assumiu a direção dos negócios públicos e da guerra, e manteve atitude de energia pela libertação do marido. Livre, Carlos prosseguiu com maior denodo as operações militares. Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte, até que por fim, em 1364, aos 29 de Setembro, festa do Arcanjo São Miguel, o Santo e bravo Duque caiu morto na Batalha de Auray“.

“Esta jornada heroica, última de sua vida, iniciou-a Carlos com a recepção dos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia. Morreu como vivera, pois em meio à todas as lutas que enfrentava, nunca afrouxou seus exercícios de piedade e austeridade, assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religião e para os seus súditos “.

“Tão evidentes foram as suas virtudes, que logo após sua morte, em 1368, deram inicio ao processo da beatificação. São Pio X confirmou o seu culto em 14 de Dezembro de 1904. É venerado no dia de sua morte, 29 de Setembro, mas seu culto especial em Blois dá-se a 20 de Julho”.

O Beato Charles de Blois é feito prisioneiro na batallha de la Roche-Derrien (1347).
O Beato Charles de Blois é feito prisioneiro na batallha de la Roche-Derrien (1347).
Os senhores estão vendo que se trata de um santo patrono dos guerreiros.

Há dois modos de ser patrono dos guerreiros: um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da fé, lutador pela doutrina Católica e pela Igreja Católica.

Mas aí é a função do guerreiro com um acréscimo que é extrínseco, que não é intrínseco, e que não é necessário à condição do guerreiro, quer dizer, o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua Vocação quando ele luta pela fé.

O normal do guerreiro não é lutar apenas pela fé, sobre tudo quando acrescenta a seu título a auréola de cruzado.

O bom guerreiro é aquele que luta na guerra justa pelo seu país, para defender o bem comum, ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estão confiados à sua direção.

O Bem-aventurado Carlos de Blois foi Duque da Bretanha em virtude de uma herança recebida de sua esposa.

O Beato Charles de Blois apresenta a Nossa Senhora seu senescal Rolland de Coatgourheden, basílica de Guincamp, Bretanha, França
O Beato Charles de Blois apresenta a Nossa Senhora seu senescal Rolland de Coatgourheden,
basílica de Guincamp, Bretanha, França
Mas o tio de sua esposa revoltou-se contra ele e moveu uma guerra contra ele. Ele era, portanto, a legítima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado.

Além disso, tratava-se da integridade do Reino da França, porque o tio da senhora dele, o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar e aniquilar com a França.

E ele lutava então pela integridade do território francês, lutando pela dependência da Bretanha em relação à França, em vez de ser dependente em relação à Inglaterra.

Esta luta pela França tinha um remoto significado religioso, porque a França era a nação predileta de Deus, a Filha Primogênita da Igreja. A Inglaterra era nesse tempo uma nação católica, mas futuramente haveria de tornar-se protestante.

Esta consideração de ordem religiosa nos faz ver o caráter providencial da luta. Ele tinha em vista, como Duque, lutar pela integridade do território de sua pátria próxima que era a Bretanha, e de sua pátria mais genérica que era a França.

"Pourpoint" espécie de vestimenta da época usada pelo Beato Charles
"Pourpoint": vestimenta da época usada pelo Beato Charles
Ele levou nesta luta perto de 30 anos de reveses, nove dos quais ele esteve preso. Mas ele soube comunicar o seu ardor guerreiro à sua esposa, que durante os nove anos em que ele esteve preso na Torre de Londres, também lutou valentemente para conservar o Ducado.

Canonizando-o a Igreja quis canonizar o senhor feudal perfeito. Ela quis elevar à honra dos altares um senhor feudal patriarca de suas terras, aristocrata e batalhador que sabia derramar o sangue pelos seus. Isto é a síntese do senhor feudal.

Para os revolucionários que vivem falando contra o feudalismo, o gesto da Igreja canonizando o Beato Carlos de Blois constitue um desmentido rotundo.

Porque mostra bem que o cargo é digno e santo, pode e deve ser exercido digna e santamente, e que através dele se pode chegar à honra dos altares.

Muitas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas. Enquanto não há exemplo de presidentes da República santos, tal vez com exceção de Gabriel Garcia Moreno, presidente do Equador.

As instituições têm uma psicologia, uma mentalidade como os indivíduos.

E a índole das instituições feudais era levar à santidade, como, por outro lado, as instituições que pressupõem uma igualdade completa levam ao contrário da santidade que é o espírito da Revolução.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra de 28.9.68, sem revisão do autor)




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