terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Carlos Martel: herói da Cristandade e salvador da Europa

Carlos Martel em combate contra Abderrahman, rei dos sarracenos, bronze de J-F-Théodore Gechter (1795-1844), Louvre. Fundo queda dos anjos rebeldes, Pieter Bruegel  (1525-1530 — 1569)
Carlos Martel em combate contra Abderrahman, rei dos sarracenos,
bronze de J-F-Théodore Gechter (1795-1844), Louvre.
Fundo queda dos anjos rebeldes, Pieter Bruegel (1525-1530 — 1569)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Em 732 a situação da Europa inspirava as piores apreensões. À anarquia feudal somavam-se as invasões. Pelo Norte, em geral por via marítima e fluvial, os vikings desciam saqueando, incendiando e massacrando cidades e campos.

Da Europa Oriental vinham os saxões e ainda outros povos bárbaros ávidos de sangue e destruição.

A estes temíveis perigos veio se somar um novo inimigo que entrava pelo sul.

Os muçulmanos tinham invadido a Espanha com velocidade fulgurante. Ébrios pelas vitórias atravessaram os Pirineus. Fazendo imenso botim e escravizando as populações chegaram até o coração da França.

A França, a “filha primogênita da Igreja”, por sua vez, era o coração da Cristandade em formação.

Os reis francos, da dinastia merovíngia, encontravam-se em grande decadência e não deram sinais de reação.

Foi então que se acendeu uma nova estrela no firmamento da Cristandade.

Seu nome foi Carlos Martel (688-741), filho do nobre Pepino de Heristal, nascido na Valônia, hoje Bélgica.

Carlos Martel desempenhava a função de “prefeito de palácio” do reino franco do Oriente desde 717, e a partir de 731, da totalidade dos três reinos em que se dividiam os francos. De fato, desde essa posição governava o país.

Seu nome encheu-se de glória pela vitória na Batalha de Poitiers (por alguns chamada de Tours) a meio caminho das duas cidades.

Nela, o herói Carlos Martel quebrou o ímpeto muçulmano e por isso é justamente considerado o salvador da Europa face ao expansionismo islâmico.

Da decisiva batalha de Poitiers (732) resta uma crônica árabe, de autor anônimo. Por certo, para o autor tratou-se de um desastre irrecuperável, lembrado com pesar.

O cronista islâmico narra assim o entre-choque bélico:

“Os muçulmanos golpearam os seus inimigos e atravessaram o rio Garonne, assolando o país e levando inúmeros cativos.

"Aquele exército passou por todos os lugares como uma tempestade devastadora. A prosperidade tornou esses guerreiros insaciáveis.

“Ao cruzarem o rio, Abderrahman arruinou o condado. O conde refugiou-se em sua fortaleza, mas os muçulmanos avançaram contra ele e, entrando à força no castelo, mataram o conde. Para tudo cediam suas cimitarras, que eram ladrões de vidas.

“Todas as regiões do reino dos francos temiam aquele exército terrível, assim, os francos recorreram a seu rei Carlos Martel e lhes contaram sobre a destruição feita pelos cavaleiros muçulmanos, e como subjugaram, ao atravessarem, toda a terra de Narbonne, Toulouse e Bordeaux. Eles também relataram a morte do conde.

“Então o rei alegrou-os, declarando que iria ajudá-los...

“O rei montou em seu cavalo, e levou um exército que não pode ser contado, e dirigiu-se contra os muçulmanos. Ele os encontrou na grande cidade de Tours.

“Abderrahman e outros cavaleiros prudentes viram a desordem das tropas muçulmanas, que estavam pesadas devido aos espólios de guerra; mas eles não se aventuraram a desagradar os soldados ordenando que eles abandonassem tudo, com exceção de suas armas e cavalos de guerra.

Carlos Martel montado em face a face com Abderrahman Al Ghafqi (direita). Óleo do barão Charles Guillaume Steuben (1788 – 1856). Sala das Cruzadas, Versailles
Carlos Martel montado em face a face com Abderrahman Al Ghafqi (direita).
Óleo do barão Charles Guillaume Steuben (1788 – 1856). Sala das Cruzadas, Versailles
“Abderrahman confiou no valor dos seus soldados e na boa sorte que estava lhe acompanhando. Mas a falta de disciplina é sempre fatal aos exércitos.

“Assim, Abderrahman e suas hostes atacaram Tours para ainda adquirir mais espólio. Eles lutaram contra esta cidade tão ferozmente que a fúria e a crueldade dos muçulmanos para com os seus habitantes da cidade eram como a fúria e crueldade de tigres raivosos.

“Eles assaltaram a cidade quase diante dos olhos do exército que veio salvá-la. Era manifesto que Deus iria castigar tais excessos; e a sorte logo virou-se contra os muçulmanos.

“Próximo ao rio Loire, os dois grandes exércitos, de duas línguas e de dois credos, estavam em ordem, um frente ao outro.

“Os corações de Abderrahman, de seus capitães e de seus homens estavam cheios de ira e orgulho, e eles foram os que primeiro começaram a lutar.

“Os cavaleiros muçulmanos dirigiram-se com ferocidade contra os batalhões dos francos, que resistiram virilmente. Muitos caíram mortos de ambos os lados, até o pôr do sol.

“A noite separou os dois exércitos: mas ao amanhecer os muçulmanos voltaram à batalha. Os cavaleiros logo chegaram, sem muito esforço, no centro do batalhão cristão.

“Mas muitos dos muçulmanos estavam temerosos pela segurança do espólio que tinham armazenado em suas barracas.

Carlos Martel recebeu do Papa Gregório III o título de Herói da Cristandade. Ele está sepultado na abadia de Saint Denis de Paris, necrópole dos reis da França.
Carlos Martel recebeu do Papa Gregório III
o título de Herói da Cristandade.
Ele está sepultado na abadia de Saint Denis de Paris,
necrópole dos reis da França.
“Um falso grito surgiu nas suas fileiras, alertando que alguns dentre os inimigos estavam saqueando o acampamento; o que levou vários esquadrões da cavalaria muçulmana a voltarem atrás para proteger suas barracas.

“Porém, parecia que eles estavam fugindo dos cristãos e todo o exército muçulmano ficou preocupado.

“E enquanto Abderrahman se esforçava para controlar o tumulto e conduzir os seus homens novamente para a luta, guerreiros francos o cercaram e ele foi perfurado por muitas lanças, de forma que morreu. Então todo o exército muçulmano evadiu-se ante o inimigo e muitos morreram na fuga ...”
“A batalha de Tours, ou Poitiers, como deveria ser chamada, é considerada como uma das batalhas decisivas da história mundial. Ela decidiu que os cristãos, e não os muçulmanos, seriam o poder dominante na Europa.

Carlos Martel é celebrado especialmente como o herói dessa batalha”, escreveu John H. Haaren, no livro “Famous Men of the Middle Ages”.

Ainda posteriormente seu neto, Carlos Magno faria uma incursão militar na Espanha e trucidaria as últimas posses islâmicas na França.

O território francês foi fonte continuada de cruzados e monges que cooperaram com os reis da Espanha e Portugal para banir o Crescente da península ibérica.

Carlos Martel recebeu do Papa Gregório III o título de Herói da Cristandade. Ele foi sepultado na abadia de Saint Denis de Paris, necrópole dos reis da França.


(Fonte: Edward Creasy, “Fifteen Decisive Battles of the World”, New York, E. P. Dutton & Co., s/d, p. 168-169; traduzido e adaptado por Profa. Dra. Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), in História Medieval.




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10 comentários:

  1. O Reino Franco estava sendo invadido por bárbaros (denominação dada a não romanos)? Mas isso já havia acontecido e foi o motivo para a queda do Império Romano que aconteceu alguns anos antes do nascimento de Carlos Martel. Os tempos relatados por vc são outros.

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    1. O texto diz que os barbaros invadiram a Europa e não só a França(invadida por mulçumanos!Leia direito, rapaz!

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    2. A sua resposta parece que não tem nada a ver com a pergunta. Além do mais é grosseira. Eu também acho que a invasão dos bárbaros se deu antes.

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    3. Sim, bárbaros e mustafas atacando... Por exemplo magiares atacaram por boa parte da idade média posterior a carlos magno, outro exemplo: ainda tinha os vikings [os nórdicos não eram cristãos até para bem depois de 900 por ai... tem que levar isso em consideração e outras coisas]. E para o Império Romano [Os "Bizantinos"] os Francos também eram bárbaros... E depois vem a cristianização dos "alemães" com o sacro-império, muito depois de Carlos magno...
      Os Kebab acharam resistência e ainda iriam levar sova na Austria [coisas que os kebabs ficam muito revoltadinhos até hoje]... Uma coisa que as zéroupa esqueceu em sua babaquice é que os inimigos não sumiram como passe de mágica, eles estão invadindo a zeuropa hj e vão querer seu "califado da paz"...

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    4. Cara curti seu comentário. Kkkkk os rabibi tomo Peia na frança e taca na Áustria. Detalhe os salim eram bem mais ricos q qualquer país erupeu na época Tinham exército maior mais bem equipado visto que a Europa tava mergulhada em caus após a queda do imperio romano os bárbaros germanicos estavam dividindo a Europa entre eles e os reinos de hj estavam apenas se formando além disso eles guerreavam muito entre si o que enfraquecia mais, já os rabibi estavam ricos viam de um saque após o outro das cidades do oriente q eles conquistaram e do reino visigodo da espanha e eles era Unidos e não brigados como os europeus da época Tendo um contingente muito maior. Ou seja são grosso memo tendo tudo melhor ainda tomaro taca e no fim ainda foram expulsos da espanha visigoda. E hj eu vejo ums retardado do estado islamico me fala q vai marcha sobre roma e fazê as mulheres e crianças de escravos e destruir todas as cruses. Conclusão os cara nem quando era mais rico não ganho imagina agora q nao tem dinheiro pra compra nem oque come direito. Kkkk por favor habibis menos desçam da mula. Sem conta que pra chega em Roma tem que passa pela Áustria cuidado com outra taca... Há é hj a Europa é bem unida então não vai rola. Mais sonha não custa nada Kkkkk. o único jeito e fazer oque ce falo eles irem se infiltrando com as oreia mucha dando uma de bonsinho refugiado. Aí depois mostrarem as garras como já está acontecendo. E ce ngm abrir o olha vai piora

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  2. Muito bom o conteúdo. Bem resumido e objetivo para quem busca conhecer melhor sobre esses fatos marcantes da história ocidental.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Carlos Martel é um herói. Apenas com a infantaria, duramente treinada, enfrentou a cavalaria, feito militar raro. Com visão de general, semeou a confusão na retaguarda muçulmana e em seguida o atentado bem sucedido ao comandante. Prudente, não perseguiu os vencidos e esperou o raiar do dia para completar sua vitória. Um mestre!

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  5. Carlos Martel foi um dos heróis da cristandade... Talvez hoje seríamos muçulmanos se ele tivesse perdido aquela batalha, Portugal talvez virasse "muçulmana" e a os portugueses trariam a religião deles para o Brasil... As cruzadas também tentou "reconquistar" a terra santa (Israel / Palestina / Jerusalém) do poderio muçulmano porém ficou apenas "dividida" entre as 3 maiores religiões do mundo (católica / muçulmana e judia) e agora temos o Estado Islâmico iniciando o que pode ser a décima cruzada e uma nova invasão da Europa e África e formar o maior Califado que já existiu... Como os cristãos estão divididos entre "católicos", "adventistas", "anglicanos" e outras denominações por aí afora será mais difícil juntar uma "força-tarefa" unida para combatê-los pois os árabes são unidos quanto a isso...

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  6. acredito que se Carlos martel tivesse perdido a luta talvez viriam outros cristãos derrotarem os muçulmanos ou se a Europa fosse islamizada acredito que a "eurábia" nunca alcançaria a América, pois os muçulmanos ao decorrer da história sempre foram tecnologicamente mais atrasados que os europeus(esse foi o motivo do islã nunca ter chegado às américas, ainda bem). acredito que a revolução francesa nunca teria acontecido, surgiria outras seitas muçulmanas que nunca existiram e o mundo muçulmano viveria em constante guerra entre eles mesmos pelas diferenças religiosas. hoje em dia seríamos muito mais atrasados tecnologicamente, pois o renascimento e a revolução industrial nunca teria acontecido, os recursos naturais conhecidos ficariam escassos e aí poderia ser o fim da humanidade.

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