Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Jocelyn de Courtenay: o espírito guerreiro, a fidelidade a Deus e a felicidade na Terra
Na vida e na morte de Jocelyn de Courtenay aparece o choque entre dos dois conceitos de vida que se opõem.
Um é o conceito segundo o qual a felicidade consiste em gozar a vida.
Outro é o conceito segundo o qual, nesta terra a felicidade consiste em ter conhecido o verdadeiro ideal e o ter servido heroicamente, com sacrifício, ainda que pesadíssimo. E com tanto mais alegria quanto mais pesado foi o sacrifício.
Os dois modos de ver se apartam diametralmente um do outro.
O segundo é de tal maneira grande, que é até incalculável. Tudo o que nós possamos excogitar, para nos dar um ideia do que é que pode ser a nossa felicidade no Céu, não é de nenhum modo suficiente para compreender o abismo de felicidade em que está imersa a última das almas do Céu.
Porque é uma felicidade completa. Tem graus, mas é completa. Para cada um ela é completa. O mesmo se pode dizer do inferno.
De maneira que do ponto de vista da mera vantagem, do prazer, do deleite, vale a pena servir a Deus, que é o Senhor de todo bem, de toda bondade e que tem meios de nos recompensar magnificamente.
O idealista é mais feliz morrendo na realização de uma grande obra, do que vivendo entre coisas secundárias
Por detrás disso há a ideia e que nesta terra há mais alegria em morrer depois de ter servido à causa verdadeira do que em viver como um pachá.
Os paraquedistas franceses exprimiam isso dizendo: “Mais vale a pena ser uma águia um minuto, do que sapo a vida inteira”
Quer dizer, o esplendor do voo de uma águia que se perde no azul, ainda que for um minuto vale mais vale a pena do que ser ingloriamente um sapo no brejo, coaxando anos e anos e anos, se refocilando naquilo que é sujo, secundário e sem interesse.
Jocelyn de Courtenay fez um voo de águia com um lampejo de glória voltada para o Céu e considerou realizada a vida.
Pelo contrário, na concepção burguesa, a glória não representa nada. O gozo é a razão de ser da vida. Então é preciso afastar a glória para ter só gozo.
Há reflexos dessa mudança de mentalidade em toda a civilização moderna. Cem atrás os políticos faziam guerras pela glória e nas relações internacionais a glória da nação era fator preponderante.
Hoje as relações das nações são exclusivamente comerciais. Não entra em jogo a glória, o renome, a honra, nada disso. As nações vão se transformando em empresas comerciais e a diplomacia visa o negócio porque a ideia do gozo material invade tudo.
Antigamente nas relações entre as pessoas tinha um grande papel o distinguir alguém, honrá-lo, elogiá-lo, realça-lo. Hoje não. As relações são ou negócio ou cumplicidade no vício; não há outro estilo de relações.
Não se ouve dizer que fulano foi visitar sicrano por uma questão de prestígio. Negócios e lucros é o conceito que está se afirmando. É exatamente a abolição de todos os valores morais e a afirmação apenas da utilidade penetrando na vida.
Esse tom de coisas representa a vitória do materialismo.
E, ao mesmo tempo, sua derrota.
Por quê?
Aliás, isso se dá na Rússia também. Quando os povos ficam longamente privados dos bens da alma, começam a sentir fome deles e não se aguentam mais sem eles. Então começa a vir uma nova era histórica que pede a restauração dos bens da alma.
Nós estamos terminando um período de saturação materialista criminosa. Caminhamos para o ponto onde essa saturação vai morrer e a apetência das grandes coisas vai renascer com fome de leão.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, 16/9/72, sem revisão do Autor)
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