Magiares ainda pagãos tomam posse do território |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Enquanto em 955 o rei Otton estava em campanha contra os eslavos, um exército húngaro de mais de 100.000 homens abateu-se sobre a Baviera, devastando-a. A vitória que o rei obteve sobre esse inimigo a 10 de agosto em Lechfeld, junto de Augsburgo, é uma das mais formosas, digna de agradecer-se e cheia de conseqüências.
A Alemanha teve desde então tranqüilidade, a derrota trouxe como efeito para os húngaros a conversão ao Cristianismo e, com isso, a entrada no concerto dos reinos católicos.
A derrota de Lechfeld foi a salvação da nação húngara. Se os húngaros tivessem permanecido pagãos, teriam compartilhado a sorte dos hunos e ávaros, os quais finalmente sucumbiram ante os povos civilizados .
Sem declaração de guerra, os húngaros tinham invadido a Alemanha a mando de três generais: Lehel, Bultzu e Botend. Tentaram tomar Augsburgo, protegida por um simples muro.
Cavaleiro magiar, ou húngaro |
Se Augsburgo se sustentasse alguns dias, Otton teria tempo para reunir um exército. Isto ter sido possível foi mérito de Santo Ulrico, Bispo de Augsburgo, fiel partidário do rei.
Com a confiança em Deus própria de um Santo, com o valor de um herói e a prudência de um general, Santo Ulrico dirigiu a defesa da cidade.
Refreiou os temerários, e suas palavras e orações inflamaram o menosprezo da vida nos corações dos tímidos. Um assalto se seguia a outro. Entre a chuva dos projéteis, o Prelado de 65 anos, com ornamentos sacerdotais, sem escudo, montado a cavalo, sem ser ferido por nenhuma seta, inflamava os lutadores, consolava os feridos e dava conselhos e ordens.
– “Ainda nas sombras da morte, não temo, porque Vós estais comigo, ó Senhor” era a máxima do heróico bispo.
À testa de uma coalizão de povos cristãos, Otton vence a horda invasora |
De fato, Otton avançava com uma tropa escolhida de saxões, caminhando por Weissengur a Denauwort. Chamou a si a Boêmia, a Suábia e as tropas da Baviera:
“Também o Duque Conrado, com uma numerosa cavalaria, chegou ao acampamento, e animados por sua chegada, os guerreiros desejavam que não se diferisse a peleja. No combate, ora a pé, ora a cavalo, era irresistível. Para seus amigos era tão caro na guerra como na paz”.
Os húngaros recolheram-se na margem esquerda do Lech. Um profundo sentimento religioso penetrava o exército alemão.
“A 9 de agosto mandou-se fazer no acampamento um jejum e que todos estivessem preparados para a batalha no dia seguinte. Com o primeiro alvor da manhã puseram-se de pé, deram-se mutuamente a paz, e juraram primeiro a seus chefes e logo uns para com outros o mútuo auxílio. Logo saíram do acampamento com as bandeiras ao vento, em número de oito legiões. O exército foi conduzido por um terreno acidentado e difícil, para que os inimigos não tivessem ocasião de inquietar a expedição com suas setas”.
As três primeiras legiões constituíam-se de bávaros, a quarta de francos a mando de Conrado, a quinta de escolhidos entre milhares de guerreiros, a mando do próprio Otton, em cuja bandeira estava pintado o arcanjo São Miguel, vencedor dos poderes das trevas.
A sexta e sétima divisões as formavam os suavos a mando de Burkhard II, pois não possuíam ainda o direito de lugar à frente no Império.
Os boêmios, como oitava legião, protegiam as bagagens. Uma divisão de húngaros tinha rodeado o exército formando um largo arco. Com um ataque súbito dispersou a legião de boêmios e pôs os suavos em confusão.
Somente Conrado com seus francos voltou a estabelecer a ordem. Otton já tinha formado sua ordem de batalha, e depois de uma alocução entusiasta, lançou-se com os seus contra o inimigo.
A luta foi longa e árdua. A vitória completa pela tarde. Os inimigos que não juncavam o campo de batalha fugiram sem ordem. Poucos chegaram a seu país. Segundo a lenda magiar, só sete, que foram declarados eternamente sem honra e incapazes de a possuir. Em toda parte levantou-se o povo dos campos como para uma caçada.
Matou e queimou os húngaros fugitivos, julgou-os em fossos, e em um dia vingou-se das injúrias de cinqüenta anos!
Os capitães prisioneiros, Botond, Lehel e Bultzu, não foram tratados conforme o direito da guerra, mas enforcados afrontosamente em Regensburg, porque sem declaração de guerra tinham invadido o país.
Mas com o júbilo misturou-se a tristeza pelo favorito do exército, o heróico Conrado, “o qual, sentindo excessivo calor pelo fogo interior e a violência do sol, que estava muito forte naquele dia, abriu a base do elmo para tomar ar, e caiu ferido na garganta por uma seta”.
Debaixo de sua couraça achou-se um cilício, sinal de quão arrependido estava de sua rebelião, a qual expiou com suas heróicas façanhas e seu sangue.
A derrota de Lechfeld teve para os húngaros o efeito de quebrar a força bárbara da nação e fazer com que os elementos mais nobres ali vencessem.
Outra conseqüência da vitória do dia de São Lourenço foi a fundação das Markas, de onde foi-se formando pouco a pouco a Áustria atual (a Ostmark, que depois seria o Ostroeich).
(Autor: João Batista Weiss, “História Universal”, Tipografia la educación, Barcelona, Volume V, pp. 31 a 34)
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