quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Beatificando a Carlos de Blois,
a Igreja glorificou o senhor feudal perfeito

Imagem do Beato Charles de Blois, duque da Bretanha,  na igreja de Notre-Dame de Bulat-Pestivien, Bretanha, França
Imagem do Beato Charles de Blois, duque da Bretanha,
na igreja de Notre-Dame de Bulat-Pestivien, Bretanha, França
Luis Dufaur


Do Beato Carlos de Blois, do qual o General Silveira de Melo, no livro “Santos Militares” diz o seguinte: (1ª Edição, 1953. Brochura ainda íntegra, marcas do tempo. 456pp. Dep. Imp. Nacional.)

“Carlos de Blois era filho do Conde de Blois, Louis de Fitillon e da Princesa Margarida, irmã de Felipe de Valois. Recebeu educação esmerada e foi muito adestrado militarmente. Casando-se com Joana, filha de Guy e neta de João III, Duque da Bretanha, por morte deste último recebeu o ducado como herança de sua esposa, no ano de 1341.

“Assumiu o governo desta província com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes. Entretanto, o Conde de Montfort, irmão do duque falecido, reclamou o direito à sucessão e pegou em armas para reivindicá-lo, no que foi apoiado pelos ingleses, enquanto a França tomava o partido de Carlos.

“O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor. Vinte e três anos durou essa luta que os ingleses suscitavam de fora. Em 1346, no combate de Roche Darrien, Carlos sofreu revés e caiu prisioneiro.

“Encerraram-no na Torre de Londres, onde permaneceu encarcerado durante nove anos. As orações que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha “.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

São Luís IX: o rei cruzado retratado por seu companheiro de armas – 2

São Luís administrando justiça. Fundo: interior da catedral Notre Dame, Paris.
São Luís administrando justiça.
Fundo: interior da catedral Notre Dame, Paris.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








continuação do post anterior: São Luís IX: o rei cruzado retratado por seu companheiro de armas – 1

O rei amou tanto toda espécie de pessoas que crêem em Deus e O amam, que deu dignidade de condestável de França ao Sr. Gilles Lebrun, que não era do reino da França, porque ele tinha grande reputação de crer em Deus e de amá-lo. E eu creio verdadeiramente que assim foi.

Muitas vezes acontecia que no verão ele ia sentar-se no bosque de Vincennes, depois da Missa, apoiava-se contra um carvalho e fazia-nos sentar em torno dele.

Todos aqueles que tinham assunto iam falar com ele, sem empecilho de ajudas de câmara nem de outros. Então ele mesmo perguntava:

“Há alguém aqui que tenha pendência?”

Aqueles que tinham pendência levantavam-se, e então ele dizia:

“Calai-vos todos, e sereis atendidos um depois do outro”. Então chamava o Sr. Pierre de Fontaines e o Sr. Geoffroy de Vilette, e dizia a um deles:

“Atendei-me esta pendência”. Quando via alguma coisa a corrigir, no arrazoado dos que falavam por outro, ele mesmo a corrigia.

Eu o vi alguma vez, no verão, ir ao jardim de Paris para atender suas gentes, vestido de uma cota de camelo, de um casaco de lã sem mangas, de um manto de tafetá preto em torno do pescoço, muito bem penteado e sem touca, e um chapéu de penas de pavão branco na cabeça.

São Luís recebe a vassalagem de Henrique III, rei da Inglaterra
São Luís recebe a vassalagem de Henrique III, rei da Inglaterra
Fazia estender um tapete para que nos sentássemos em torno dele, e todos aqueles que tinham assunto a tratar com ele ficavam de pé na sua frente. Então ele os fazia atender, do modo como fazia no bosque de Vincennes.

A lealdade do rei mostrou-se bem no caso do Sr. de Trie.

Este remeteu cartas ao santo rei, dizendo que o rei tinha dado aos herdeiros da condessa de Boulogne, recentemente falecida, o condado de Dammartin.

O selo das cartas estava rompido. Restava apenas do selo a metade das pernas da figura do rei e o escabelo sobre o qual o rei apoiava os pés. Mostrou-o a nós todos que éramos de seu conselho, e pediu-nos que o ajudássemos com nosso parecer.

Dissemos todos unanimemente que ele não estava em nada obrigado a pôr as cartas em execução. Chamou então Joan Sarrasin, seu chambellan, e mandou que trouxesse a carta que lhe tinha encomendado.

Quando recebeu a carta, disse: “Senhores, eis o selo de que eu me servia antes de ir a ultramar. Vê-se claramente por este selo que o sinete do selo quebrado é semelhante ao selo inteiro. Por isso eu não ousaria, em sã consciência, reter o dito condado”.

Chamou então o Sr. Renaud de Trie e disse-lhe: “Eu vos entrego o condado”.

(Charles de Ricault d’Héricault, “Histoire Anécdotique de la France” - Bloud et Barral, Paris, Tomo II, pp. 286-289)




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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

São Luís IX: o rei cruzado retratado por seu companheiro de armas – 1

São Luis rei, estátua equestre de St Louis, Missouri, EUA. Fundo: castelo de Pierrefonds, França.
São Luis rei, estátua equestre de St Louis, Missouri, EUA.
Fundo: castelo de Pierrefonds, França.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Em nome de Deus Todo-Poderoso, eu, João, senhor de Joinville, Senescal de Champagne, faço escrever a vida de nosso São Luís, e aquilo que eu vi e ouvi pelo espaço de seis anos que estive em sua companhia, na viagem de ultramar e depois que voltamos.

E antes de vos contar seus grandes feitos e sua cavalaria, contar-vos-ei o que vi e ouvi de suas santas palavras e bons ensinamentos, para que se achem aqui numa ordem conveniente, a fim de edificar os que ouvirem.

Esse santo homem amou Deus de todo o coração e agiu em conformidade com esse amor. Pareceu-lhe bem que, assim como Deus morreu pelo amor que tinha por seu povo, assim o rei colocasse seu corpo em aventura de morte, o que bem poderia ter evitado se tivesse querido, como se verá a seguir.

O amor que tinha a seu povo transpareceu no que ele disse a seu filho primogênito, durante uma grande doença que teve em Fontainebleau:

“Bom filho — disse-lhe — peço-te que te faças amar pelo povo de teu reino, pois verdadeiramente eu preferiria que um escocês viesse da Escócia e governasse o povo do reino bem lealmente, a que tu o governasses mal”.

Amou tanto a verdade, que não quis recusar, mesmo aos sarracenos, o que tinha prometido, como o vereis mais adiante.

Foi tão sóbrio no paladar, que jamais em minha vida o ouvi mandar que lhe servissem quaisquer iguarias, como fazem muitos nobres, mas comia pacientemente o que seus cozinheiros lhe traziam.

Foi moderado em suas palavras, pois jamais em minha vida o ouvi falar mal de ninguém, e nunca o ouvi nomear o diabo, cujo nome está tão espalhado pelo reino, o que acredito não agrada nada a Deus.

Ele diluía seu vinho na proporção em que via que o vinho lhe poderia fazer mal. Perguntou-me um dia, na ilha de Chipre, por que eu não colocava água no meu vinho. Eu lhe disse que os médicos não o ordenavam, por eu ter uma cabeça grande e um estômago frio, e que não podia me embriagar.

O rei disse-me que eles me enganavam, porque se eu não diluísse o vinho na minha mocidade, e quisesse fazê-lo na velhice, a gota e os males do estômago tomariam conta de mim, e nunca teria saúde; e que se eu bebesse o vinho totalmente puro na minha velhice, eu me embriagaria todos os dias, e que o embriagar-se era uma coisa muito vil para um valente homem.

Perguntou-me se queria ser honrado neste século e ter o paraíso depois de minha morte. Disse-lhe que sim, e ele continuou:

“Guardai-vos então de fazer ou dizer qualquer coisa que, se todo o mundo a souber, não a possais declarar e não possais dizer: ‘Eu fiz isso, eu disse aquilo’”.

São Luís na vitória de Taillebourg. Eugène Delacroix, museu de Versailles.
São Luís na vitória de Taillebourg. Eugène Delacroix, museu de Versailles.
Ele chamou-me uma vez e me disse:

“Por causa do espírito sutil de que estais dotado, não ouso falar-vos de coisa que se refere a Deus. Por isso chamei os irmãos que estão aqui, pois quero fazer-vos uma pergunta”.

A pergunta foi esta: “Senescal, quem é Deus?”

Eu respondi: “É tão boa coisa como melhor não pode ser”.

Continuou o rei: “Verdadeiramente está bem respondido, porque essa resposta que destes está escrita neste livro que tenho em mãos. Agora, pergunto-vos o que preferiríeis: ser leproso ou ter cometido um pecado mortal?”

E eu, que nunca lhe menti, respondi que preferiria ter cometido trinta pecados que ser leproso.

Quando os irmãos tinham partido, chamou-me a sós, fez-me sentar a seus pés e perguntou-me: “Como pudeste dizer-me aquilo?”

Eu reafirmei o que lhe dissera, e ele continuou: “Falais sem reflexão, como um avoado, pois não há lepra tão vil como a de se estar em pecado mortal. A alma que nele está é semelhante ao demônio do inferno. Por isso nenhuma lepra pode ser tão má.

“É verdade que quando o homem morre fica curado da lepra do corpo, mas quando o homem que cometeu o pecado mortal morre, não sabe e não é certo que tenha tido um arrependimento, e que Deus o tenha perdoado.

“Deve ter muito temor de que essa lepra lhe dure tanto tempo quanto Deus estiver no Paraíso. Assim, rogo-vos, tanto quanto eu possa, que tomeis a peito, pelo amor de Deus e de mim, o preferir que todo mal de lepra e toda outra doença chegue ao vosso corpo, antes que o pecado mortal chegue à vossa alma”.

continua no próximo post




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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Santa Adelaide imperatriz: heroína modelo de autêntica santidade

Santa Adelaide, estátua em Seltz, Alsácia
Santa Adelaide, estátua em Seltz, Alsácia
Luis Dufaur


Sobre Santa Adelaide (931-999), rainha, a respeito da qual Omer Englebert, na “Vida dos Santos”, diz o seguinte:

“Santa Adelaide, foi uma maravilha de graça e de beleza, segundo escreveu Santo Odilon de Cluny que foi seu diretor espiritual e seu biógrafo.

“Filha de Rodolfo II, rei da Borgonha, nasceu em 931, casando-se aos 15 anos com Lotário II, rei da Itália. A filha desse casamento foi, mais tarde, rainha da França.

“Adelaide tinha 18 anos quando seu marido morreu, segundo se crê, envenenado por seu rival Berengário II. Este, em breve, proclamou-se rei da Itália e ofereceu a mão de seu filho à viúva de sua vítima.

“Recusando-se Adelaide a fazer-lhe a vontade, Berengário apoderou-se de seus estados e conservou-a presa no castelo de Garda. Aí sofreu os maiores ultrajes, mas ninguém conseguiu demovê-la.

“Conseguindo fugir, dirigiu-se ao castelo de Canossa, propriedade da Igreja. Dessa fortaleza inexpugnável dirigiu um apelo a Oto I, rei da Germânia, que correu em seu auxílio com um poderoso exército. Cingiu ele a coroa de Itália em Pavia e foi, mais tarde, sagrado imperador em Roma. Entretanto, casava-se com Adelaide.

“O filho desse segundo casamento, Oto II, sucedeu seu pai e a princípio revoltou-se contra sua mãe. Temendo pela vida, ela refugiou-se na Borgonha. Foi então que conheceu Santo Odilon e espalhou benefícios pelos mosteiros franceses.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

São Bonifácio, Apóstolo da Alemanha

São Bonifácio, estátua em Mainz, Alemanha

Plinio Maria Solimeo
 
“Passara-se apenas um século desde que os discípulos de São Gregório Magno haviam desembarcado na Inglaterra, e já a ilha dos piratas convertera-se em ‘ilha dos santos’. Havia santos reis, virgens inflamadas no amor de Cristo, ascetas que deixavam atrás os solitários da Tebaida, sábios monges e figuras magníficas de bispos. Havia, sobretudo, apóstolos. O fogo do apostolado consumia os novos convertidos, e os empurrava longe de sua terra”.(1) 
São Bonifácio foi uma dessas almas de fogo cujo espírito apostólico o levou a deixar a Inglaterra para tornar-se o Apóstolo da Alemanha.

Winfrido, nome que recebeu no batismo, nasceu por volta do ano de 680 em Kirton, no Devonshire (Inglaterra). Seus pais eram de origem saxônica e desfrutavam de boa posição social. Não sabemos se tiveram outros filhos.

Quando Winfrido contava apenas cinco anos de idade, viu na casa paterna alguns religiosos que pregavam na região. Pediu então ao pai licença para segui-los ao seu mosteiro.

Tomando o pedido como fantasia de criança, o pai não deu ouvidos. Acontece que Winfrido levava a coisa a sério e continuava a insistir com o pai. Este, atacado por repentina doença que o pôs às portas da morte, viu finalmente nisso a mão de Deus, que o castigava por sua negativa ao filho.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Santa Joana d’Arc: intimação não atendida, ameaça cumprida

Santa Joana d'Arc, iluminura século XV
Santa Joana d'Arc, iluminura século XV
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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No dia da Ascensão de Nosso Senhor do ano de 1429, os ingleses defensores de Orleans receberam de Santa Joana d’Arc a seguinte intimação:
“A Vós, ingleses, que não tendes nenhum direito sobre este Reino da França, o Rei dos Céus vos ordena e intima por mim, Jeanne la Pucelle: retirai-vos de vossas fortalezas e retornai a vosso país, pois senão vos farei tal mortandade que dela se guardará perpétua memória. Eis o que vos escrevo pela terceira e última vez, e não mais escreverei”.

Assinado: Jesus, Maria e Jeanne la Pucelle”.
Os ingleses se dispensaram de responder à intimação. No dia seguinte, 8 de maio, após violento assalto, Santa Joana D’Arc entrava vitoriosa em Orleans.

O cerco da praça forte durara apenas 8 dias.


(Fonte: Régine Pernoud, “Vie et Mort de Jeanne D’Arc”)




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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Novas lutas, novas vitórias – D. Afonso Henriques 4

Continuação do post anterior

Mas o mouro não descansa. Quer manter a todo custo seus domínios na Península Ibérica, e convoca para isso contínuos reforços do norte da África. D. Afonso responde à altura, como um gigante infatigável e onipresente.

A promessa de Nosso Senhor cumpre-se a cada novo empreendimento. Em março de 1147, o Rei ataca o castelo de Santarém em poder dos infiéis.

Mortas as sentinelas, vencidas as resistências, abre-se a maciça porta de ferro aos cavaleiros portugueses. E há um momento de profunda beleza: no meio da torrente que se precipita para o interior do castelo, aureolado pelo clarão puro do sol nascente, D. Afonso reza de joelhos, dando graças a Deus, que lhe protegeu a empresa.

Nesse mesmo ano de 1147, com a ajuda decisiva de uma grande frota de cruzados alemães, franceses, ingleses e flamengos de retorno da Terra Santa, efetua-se, de julho a outubro, a laboriosa conquista de Lisboa.

Assédio longo e sangrento, com alternativas inúmeras, terrenos disputados palmo a palmo, mortíferos engenhos bélicos. Sintra, Almada e Palmela, ante a queda de Lisboa, entregam-se.

Anos depois, em 1158, cai Alcácer do Sal, praça que defende uma importante zona entre os rios Sado e Tejo. Em 1159, Évora, logo perdida; Beja, perdida também e, em 1162, retomada.

“Portugal alarga-se, talhado à espada sobre a decomposição do velho império almorávida. O prestígio de D. Afonso cresce, impõe-se, quer na península, quer além dela”.(9)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Um país “talhado à espada” – D. Afonso Henriques 3

Continuação do post anterior


A batalha de Ourique, cuja importância para o nascimento de Portugal é inegável, ainda hoje é alvo de disputas.

É verdade que os detalhes se perderam nas brumas do passado; mas os efeitos da batalha não fizeram senão confirmar o plano da Providência Divina: formou-se um povo soberano, marcado a fundo em sua personalidade pela fé verdadeira, povo que tomou a peito o ideal da propagação dessa mesma fé até os confins da Terra.

E Nossa Senhora, aparecendo em solo português nos albores do século XX, ao profetizar os castigos, afirmou, entretanto, que “em Portugal se conservaria sempre o dogma da Fé”.(2)


Batalha de Ourique

Comandando seus homens nos campos de Ourique — situados quer no Baixo Alentejo, quer no Cartaxo, cerca de Santarém, quer junto às nascentes do Liz, próximo a Leiria, a discussão é grande a tal respeito (3) — e certo da vitória, garantida por Nosso Senhor, D. Afonso Henriques dá batalha à multidão de mouros que cercavam seu exército.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O “Fundador dos Impérios” fala ao rei de Portugal – D. Afonso Henriques 2

Conde de Portugal D. Henrique de Borgonha
Conde de Portugal D. Henrique de Borgonha
Continuação do post anterior

D. Afonso, filho de D. Henrique foi se mostrando desde pequeno propenso a realizar as aspirações do pai em relação ao nascente Portugal. E os melhores vultos da nobreza — entre os quais o mítico Gonçalo Mendes, o Lidador — põem nele suas esperanças.

Ainda muito jovem, sai vencedor na Batalha de São Mamede, o que lhe assegura a soberania sobre seus territórios frente às pretensões dos reinos vizinhos e de facçõesinternas.

As relações com o governo leonês deixam de ser vassalo-senhor.

Mostrando seus propósitos de emancipação, D. Afonso vai ao mesmo tempo consolidando a estrutura de seus domínios. Favorece a estabilização do poder eclesiástico nas mãos do arcebispo de Braga e trabalha em prol de boas relações com a Santa Sé.

Os árabes agitam-se novamente, fazendo incursões e derrotando os portucalenses. D. Afonso assina um acordo de paz com o imperador de toda a Hispania (Afonso VII de Leão e Castela), assegurando a estabilidade em uma de suas frentes.

Para barrar o mouro invasor, intui que é preciso causar terror em seu meio. Aproveitando-se de uma crise dinástica entre Almorávidas e Almôhadas, penetra em território dominado por eles para dar batalha.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O milagre de Ourique e o nascimento de Portugal – D. Afonso Henriques 1

Escudo do Rei de Portugal
Quando nos debruçamos sobre a história de Portugal logo somos assaltados por um interessante paradoxo: como pôde um país tão pequeno em extensão territorial realizar uma epopeia — navegações, descobrimentos, conquistas, feitos missionários — de tão grande monta?

A história do nascimento dessa nação traz um pouco de luz para a solução do intrigante problema.

Com efeito, Deus Nosso Senhor, tal como fez com o povo eleito do Antigo Testamento, escolheu Portugal para intervir na História, a seu modo preparando “um Império” por cujo meio seu nome seria “publicado entre as nações mais estranhas”.



Antecedentes


Os visigodos arianos, expulsos da França pela ação de Clóvis,(1) penetraram na Península Ibérica, ali encontrando os suevos, povo pagão instalado naquelas terras.

O longo trabalho da Igreja, aliado à influência de povos já convertidos, vai entretanto dobrando aos poucos a dura cerviz dos “bárbaros”. Por volta de 560, conforme narra o historiador luso João Ameal,

“o povo suevo se converte à verdadeira religião, graças a São Martinho de Dume. Em Braga se celebra (em 561) um concílio para festejar a conversão. Cria-se o rito bracarense — e a metrópole sueva torna-se, como então foi dito, a Roma das Espanhas”.(2)

quarta-feira, 12 de março de 2014

Godofredo de Bouillon, primeiro rei de Jerusalém

O duque Godofredo de Bouillon dirigie o assédio
O duque Godofredo de Bouillon dirigie o assédio

Os infiéis, tomados de espanto (devido às vitórias dos francos) nada melhor acharam para fazer do que mandar uma embaixada de Ascalom, de Cesareia e de Tolemaida, a Godofredo, para saudá-lo da parte daquelas cidades.

A mensagem estava assim redigida:

“O Emir de Ascalom, o Emir de Cesareia e o Emir de Tolemaida ao Duque Godofredo e a todos os outros, saudação.

Nós te suplicamos, mui glorioso duque e muito magnífico, que, por tua vontade, nossos cidadãos possam sair para seus negócios em paz e segurança. Nós te mandamos dez bons cavalos e três boas mulas, e todos os meses te oferecemos, a título de tributo, cinco mil bizantinos”.