quarta-feira, 4 de junho de 2014

Novas lutas, novas vitórias – D. Afonso Henriques 4

Continuação do post anterior

Mas o mouro não descansa. Quer manter a todo custo seus domínios na Península Ibérica, e convoca para isso contínuos reforços do norte da África. D. Afonso responde à altura, como um gigante infatigável e onipresente.

A promessa de Nosso Senhor cumpre-se a cada novo empreendimento. Em março de 1147, o Rei ataca o castelo de Santarém em poder dos infiéis.

Mortas as sentinelas, vencidas as resistências, abre-se a maciça porta de ferro aos cavaleiros portugueses. E há um momento de profunda beleza: no meio da torrente que se precipita para o interior do castelo, aureolado pelo clarão puro do sol nascente, D. Afonso reza de joelhos, dando graças a Deus, que lhe protegeu a empresa.

Nesse mesmo ano de 1147, com a ajuda decisiva de uma grande frota de cruzados alemães, franceses, ingleses e flamengos de retorno da Terra Santa, efetua-se, de julho a outubro, a laboriosa conquista de Lisboa.

Assédio longo e sangrento, com alternativas inúmeras, terrenos disputados palmo a palmo, mortíferos engenhos bélicos. Sintra, Almada e Palmela, ante a queda de Lisboa, entregam-se.

Anos depois, em 1158, cai Alcácer do Sal, praça que defende uma importante zona entre os rios Sado e Tejo. Em 1159, Évora, logo perdida; Beja, perdida também e, em 1162, retomada.

“Portugal alarga-se, talhado à espada sobre a decomposição do velho império almorávida. O prestígio de D. Afonso cresce, impõe-se, quer na península, quer além dela”.(9)

O legado de D. Afonso

D. Afonso Henriques deixa um reino firmado e definido. A sua espada o traçou em riscos de sangue. Mas se o reino é um fato político, as intérminas guerras, saques e devastações miseravelmente o descarnaram.

O Fundador mal tem tempo ou sossego para outros empreendimentos que não sejam os das armas. Ainda tenta, com a doação de largos domínios ao sul do rio Douro à Ordem Cisterciense — instalada, desde 1153, no Mosteiro de Alcobaça — promover a sua colonização e valorização sob o incomparável influxo dos monges de São Bernardo.

Dom Afonso Henriques, túmulo na Igreja de Santa Cruz, Coimbra, Portugal
Dom Afonso Henriques, túmulo na Igreja de Santa Cruz, Coimbra, Portugal
“Talhado à espada”, pode-se dizer que Portugal está em carne viva, exaurido por mil feridas, enfraquecido nas suas energias vitais.

Assim o recebe Dom Sancho, filho e sucessor de D. Afonso, com a morte deste em 1185, após meio século de grandes esforços, de vitórias consecutivas, de atividade incrível.

E logo, cônscio do papel da realeza, se entrega à diligente enfermagem do corpo exangue que lhe é confiado. A sua atividade exerce-se na restauração de fortalezas em ruínas, no repovoamento de lugares devastados pela guerra, no estímulo a todos os aglomerados que mostrem tendências de estabilidade e desenvolvimento, nas numerosas doações feitas às Ordens Militares.

Os trabalhos agrícolas são igualmente auxiliados com medidas propícias, para que o solo português acuda às necessidades dos seus habitantes.

E então o solo, regado por anos pelo sangue dos primeiros heróis, vai começar a produzir as novas gerações de heróis e missionários que herdarão o dever de “publicar o nome do Salvador pelas terras mais estranhas”.

Notas:
1. AMEAL, João. História de Portugal. Porto: Tavares Martins, 1940, p.XIII.
2. WALSH, William Thomas. Nuestra Señora de Fátima. Madrid: Espasa-Calpe, 1960, p. 111
3. AMEAL, op. cit., p.66
5. BRANDÃO, Antônio [et al.]. Terceira Parte da Monarchia Lusitana. Lisboa, 1632. p. 120. Mantivemos a grafia original. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=xDsUNklTpPoC&pg=RA1-PA258-IA4&dq=cronica+de+dom+afonso+henriques.
6. Idem, p. 127.
7. Os Lusíadas, canto III, estância 53. Disponível em http://www.historia.com.pt/lusiadas/ourique.htm.
8. Oito séculos mais tarde, esse ato de vassalagem será lembrado por Pio XII na Encíclica Sæculo Exeunte Octavo, de 13 de junho de 1940. “1. O VIII centenário da fundação de Portugal e o III de sua restauração, que a vossa gloriosa e nobre pátria celebra este ano com grande solenidade e unidade de intentos, não podiam deixar indiferentes o vigilante interesse desta Sé Apostólica, nem, muito menos, o nosso coração de pai comum dos fiéis. 2. Temos igualmente motivo especial para participar da comemoração de vossa primeira independência, sendo um fato que a Santa Sé, como é notório, colaborou para que lhe viesse dada uma constituição jurídica. 3. Os atos com os quais os nossos predecessores do século XII, Inocêncio II, Lúcio II e Alexandre III aceitaram a homenagem de obediência prestada por Afonso Henriques, conde e, em seguida, rei de Portugal, tendo-lhe prometido sua proteção, declararam independência de todo o território, que ao preço de duríssimas lutas tinha sido valorosamente recuperado do domínio sarraceno, foi o prêmio com o qual a Sé de Pedro compensou o generoso povo português por suas extraordinárias benemerências em favor da fé católica. 4. Tal fé católica, tendo sido, de certo modo, a linha vital, que alimentou a nação portuguesa desde seu nascimento, assim foi senão a única, certamente a principal fonte de energia, que elevou a vossa pátria ao apogeu da sua glória de nação civil e nação missionária, ‘expandindo a fé e o império’”.Disponível em http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_13061940_saeculo-exeunte-octavo_po.html
9. AMEAL, op. cit., p.70.

(Autor: Guilherme Félix de Sousa Martins, CATOLICISMO, fevereiro 2013.



GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário! Comente sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus necessariamente os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.