terça-feira, 29 de junho de 2021

Santo Agostinho de Cantuária e a verdadeira vitória

Santo Agostinho chefiou os monges que converteram a Inglaterra, iglesia de São Vincente Ferrer, New York
Santo Agostinho chefiou os monges
que converteram a Inglaterra.
Igreja de São Vicente Ferrer, New York
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Santo Agostinho da Cantuária [Canterbury em inglês], bispo e confessor, foi o cristianizador da Inglaterra no século VI. Tivemos ocasião recentemente de reproduzir belo artigo sobre ele e seu apostolado: Santo Agostinho de Cantuária, o monge que conquistou a Inglaterra 

Eis outros dados sobre sua maravilhosa vida. No famosíssimo livro “Les Moines d’Occident” (“Os Monges do Ocidente”), Hachette Livre-BNF, 2018) o conde de Montalembert escreve:

“Santo Agostinho foi o chefe dos monges enviados por São Gregório Magno para converter a Inglaterra.

“Ele e seus discípulos viveram épicos lances e marcaram, com sua influência, profundamente o futuro do povo inglês.

“Um dos seus sucessores, São Cutiberto, viveu uma história extraordinária, sendo considerado um dos heróis da Grã-Bretanha.

“Durante muito tempo era invocado pelos ingleses contra os escoceses.

“Possuía o santo um estandarte que sempre o acompanhava e que, quando empunhado, levou muitos combatentes à vitória.

“A última vez que essa bandeira apareceu nos campos de batalha foi nas mãos dos nobres da família Neville e Percy, na revolta dos católicos contra Henrique VIII”.

“Mas esse tirano, à custa do massacre da população rural e do assassinato dos principais fidalgos e abades da região sublevada, logrou vitória.

“Henrique VIII apoderou-se do santo troféu legado por São Cutiberto e o arrancou da caixa onde era venerado há séculos juntamente com os ossos de São Beda e a mulher de um padre apóstata lançou a bandeira ao fogo”.

“É notável observar como esses monges, apóstolos dos primeiros tempos da Inglaterra, foram notáveis marinheiros.

São Cutiberto, catedral de Newcastle, monge e bispo de Lindisfarne
São Cutiberto, monge e bispo de Lindisfarne,
catedral de Newcastle.
“Nisso, como em tudo o mais, os religiosos nos aparecem como os iniciadores da raça anglo-saxônica.

“É interessante vê-los preludiar, por sua coragem, as explorações do povo mais marítimo do mundo.

“As crônicas daquela época nos relatam as terríveis tempestades da costa oriental inglesa”.

O litoral inglês é muito batido por marés e o canal da Mancha, por exemplo, é terrível: as pessoas muitas vezes têm que se segurar nos bancos e nos vapores, de tal maneira joga o mar nesse local.

“Mas nenhum perigo detinha esses filhos de navegantes.

“Sob o capuz e o escapulário, os monges anglo-saxões não cediam em rigor e atividade a nenhum de seus antecessores.

“Pareciam e eram mesmo comparados a pássaros marinhos quando vistos de costas a lutar contra as tempestades.

“Foi essa a impressão que deram a São Cutiberto, jovem ainda e antes de ser religioso, quando assistiu da praia, em meio a uma multidão hostil e trocista, aos esforços infrutíferos dos monges contra o vento e a maré, alguns barcos carregados de madeira que transportavam para o seu mosteiro.

“A oração de São Cutiberto salvou-os, entretanto, e eles desembarcaram sãos e salvos”.

Agora vem uma oração de Santo Alfredo, o grande rei da Inglaterra, do século X:


“Eu Vos procuro, ó meu Deus. Abri meu coração e dizei-me como aproximar-me de Vós.

“Eu só Vos posso oferecer minha boa vontade, porque nada mais posso fazer por mim mesmo.

“Mas nada conheço de mais excelente do que Vos amar sobre todas as coisas, Vós o único sábio, o único puro, o único eterno”.


Ruínas do mosteiro de Santo Agostinho em Cantuária
Ruínas do mosteiro original de Santo Agostinho em Cantuária
Essa é uma pequena antologia sobre a Inglaterra.

Não a Inglaterra de hoje, nascida de Henrique VIII, mas a Inglaterra de outrora, nascida de Santo Agostinho de Cantuária e do batismo na Igreja Católica.

O fato desse estandarte tem um significado profundo.

O estandarte de São Cutiberto era levado pelos ingleses na luta, sobretudo contra os escoceses, que nesses tempos eram pagãos.

O estandarte portava as bênçãos de São Cutiberto e era uma garantia da proteção divina.

O estandarte ainda no século XVI era tão respeitado, que estava num relicário junto com os ossos de um grande santo muito venerado pelos ingleses, que era São Beda.

O herético Henrique VIII mandou queimar esse estandarte junto com os ossos de São Beda pelas mãos de um padre apóstata.

Numa província da Inglaterra, nobres e plebeus se revoltaram contra o rei que fundou a igreja anglicana.

Henrique VIII exigia um ato de fidelidade à sua igreja e mandou decapitar São Tomás Moro, São João Fisher e outros.

Atual abadia de Santo Agostinho em Cantuária
Atual abadia de Santo Agostinho em Cantuária
Nessa província, os católicos fizeram uma cruzada com o estandarte de São Cutiberto. Mas foram derrotados e Henrique VIII conseguiu pegá-lo.

Eis a tristeza do fim religioso de uma nação católica protegida por esse estandarte durante séculos.

Deus teria abandonado esses católicos? Nada leva a crer. Deus não abandona os que lhe são fiéis.

Mas a Inglaterra cometeu um supremo pecado não participando na rebelião católica.

Recusando essa graça o estandarte de São Cutiberto não lhes valeu de mais nada. Deus retirou suas graças e a Inglaterra caiu na heresia.

É este o destino das nações que apostatam.


Continua no próximo post: Santo Agostinho de Cantuária, os beneditinos e os homens que vencem


(Autor: excertos de palestra de Plinio Corrêa de Oliveira em 28-05-1969. Apud PlinioCorreadeOliveira.info).



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terça-feira, 22 de junho de 2021

São Leão IX: a Cristandade precisa lutar! E converte os normandos

São Leão IX, fonte em Eguisheim
São Leão IX, fonte em Eguisheim
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Continuação do post anterior: São Leão IX: Deus não abandona quem luta com coragem



No tempo de São Leão IX, os normandos, os famosos vikings, vinham pelo Mar do Norte, pelo Atlântico, entravam pelo estreito de Gibraltar atacavam o sul da Itália; depois havia ainda restos de bárbaros nos países eslavos; os maometanos atacavam de todos os lados.

A Cristandade precisava lutar. Mas no momento se apresentava debilitada por essa venda de cargos eclesiásticos que causava uma decadência de toda a vida espiritual da Cristandade.

Ele então começou imediatamente a punir e depor os bispos que não prestassem e a nomear outros bons no lugar.

Quando ele estava nessa luta feroz ele recebeu um aviso de que os normandos tinham invadido seu território. Então foi à toda pressa à Alemanha pedir ao Imperador, que era parente dele, que mandasse um exército para defendê-lo.

O Imperador prometeu e ele desceu até a famosa Abadia de Monte Cassino. Qual não foi a surpresa dele quando chega, e há apenas 500 lorenos que não eram propriamente alemães. O exército imperial desistiu de descer os Alpes.

No caminho tinham se incorporado alguns contingentes italianos, mas os normandos eram muito mais numerosos e começaram a fazer uma carnificina tremenda; o exército italiano do Papa fugiu e os lorenos lutaram heroicamente.

Mas não adiantava de nada. O rei dos normandos, Roberto Giscard, resolveu cessar a batalha pois estavam derrotados.

E o Papa?

Ele vai sozinho ao campo dos normandos. Quando chega é tal a impressão que produz que os normandos com o rei à testa, se prosternam e dizem que querem se batizar.

E carregaram o papa em triunfo à cidade de Benevento e depois à Roma, onde receberam a instrução religiosa com as famílias, se batizaram e receberam residências no sul da Itália.

Foi uma conversão em massa produzida pela presença de um só homem.

O que foram os normandos poderiam bem ser hoje os comunistas.

Um Papa imbuído da teologia de hoje, quantas concessões faz aos comunistas e quanto cede e colabora?

Um homem de Deus que se aproximasse e se apresentasse aos comunistas, convertê-los-ia como a Roberto Giscard e aos normandos?

Reencenamento histórico das guerras dos normandos pagãos (vikings), Dinamarca
Reencenamento histórico das guerras dos normandos pagãos (vikings), Dinamarca
Deus pode tudo, mas também não seria provável, porque a maldade dos comunistas é incomparavelmente pior do que a maldade dos normandos.

Mas Deus nunca abandona os que lutam por ele com coragem e com destemor. Ainda mais quando é seu próprio Vigário.

Comparemos São Leão IX com Paulo VI! Comparem os normandos bárbaros capazes de olhar para um santo e se converterem com os comunistas de hoje que coisa terrível!

Não é apenas verdade que os católicos de hoje são muito piores do que os católicos daquele tempo; mas é verdade também que os bárbaros de hoje são incomparavelmente piores do que os bárbaros daquele tempo.

Mas é verdade também que naquele tempo Deus suscitava santos que convertiam o povo. Onde estão hoje em dia?

Deus está longe, distante. Esses grandes milagres quase não se realizam.

A graça brota no fundo de certas almas; no resto é um mundo que Deus rejeitou, que está marcado para o castigo, para a ruína e para a destruição.

A Idade Média era um mundo agitado, mas que ia subindo; hoje o mundo angustiado está no fundo de um abismo. E para que outros abismos vai descendo!

“A doença doce mensageira da felicidade eterna veio anunciar-lhe que sua hora tinha chegado. No dia 12 de fevereiro de 1054, ele celebrou pela última vez o Santo Sacrifício da Missa e dirigiu à multidão uma exortação comovedora”.

Como essa expressão “A doença doce mensageira” é contrária do paganismo higiênico que tem horror da doença em nossos dias.

Deve-se combater a doença, é evidente, mas há “combater” e “combater” a doença. A expressão é linda! É de quem pensa no além, no Céu, em Deus.

“No dia seguinte sabendo que sua hora estava próxima, ele quis ser transportado da cidade Benevento para Roma. Os normandos reivindicaram a honra de o levar numa liteira”.

“Foi assim que o Papa voltou ao palácio de Latrão no mês de abril de 1054. Era a época na qual habitualmente ele reunia o Sínodo dos Bispos das províncias eclesiásticas circunvizinhas de Roma. Ele as convocou para o dia 17 de abril.

“Reunidos, ele lhes disse: Eu me recomendo à Vossa fraternidade porque o tempo de minha dissolução chegou”.

É uma palavra de São Paulo, que desejava ter separada a alma do corpo para se unir a Jesus Cristo.

“Na última noite - em visão - a glória da Pátria celeste me foi manifestada. Eu reconheci, entre os grupos de mártires, aqueles que morreram na Apúlia em defesa da Igreja...”

Os lorenos valentes que morreram na Apúlia em defesa da Igreja, estavam esperando a ele no Céu, na qualidade de mártires. E ele os viu antes de subir ao céu. Que linda reminiscência desse episódio admirável da vida dele.

“Venha, lhe disseram eles, e permanece entre nós, porque foi por teu intermédio que nós conseguimos a eterna felicidade. Mas uma voz, ao mesmo tempo, se fez entender, dizendo: Não já, mas daqui a três dias somente.

“No dia seguinte, ele reuniu de novo os Bispos, se colocou numa liteira, e conduzido pelos seus fiéis normandos, em procissão, ele foi à Basílica de São Pedro”.

Foi para morrer lá. Um Papa deitado numa liteira, os Bispos formando o cortejo, cantando com velas, e o tropel dos normandos armados caminhando para a Basílica de São Pedro.

Qual procissão ou qual desfile militar pode ser mais bonito do que esse? Não há.

“Prosternado diante do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, ele fez uma oração pela Igreja e pela conversão dos pecadores.

“Quando ele acabou, um aroma delicioso, cujo perfume era superior ao perfume mais puro se exalava da sepultura de São Pedro”.

Era São Pedro manifestando seu agrado diante desse sucessor digno dele.

“O Papa permaneceu mais ou menos durante uma hora em contemplação silenciosa”.

“Depois ele mandou trazer pão e vinho. Ele os abençoou, comeu três pedaços de pão, bebeu um pouco de vinho e distribuiu o resto aos assistentes. Ninguém comeu. Todo mundo guardou como relíquia os pedaços de pão que ele distribuiu”.

“Levantando-se então, ele se dirigiu para o túmulo que ele mesmo tinha feito preparar para si na Basílica, e disse para os Bispos:

“Vede, meus irmãos, como é miserável, frágil e efêmera a glória humana; que esse exemplo jamais saia de vossas memórias. Do nada, eu fui levado, um dia, ao que há de mais alto; e agora, eu vou ser reduzido novamente a nada. Terei como moradia esse cárcere escuro e estreito; hoje ainda convosco carne e sangue, amanhã serei poeira e cinza”.

Que linda pregação! Os Bispos em volta, os normandos e todo mundo olhando e um homem ainda em vida dizendo isso. Que anúncio maravilhoso da morte!

“Todos os assistentes se puseram em prantos. E o Papa os despediu e disse: Venham, amanhã, assistir meu último suspiro.

“São Leão retirou-se ao palácio próximo, onde passou toda a noite em oração. Na manhã seguinte, sustentado por dois assistentes, ele voltou para a Basílica, e veio se prosternar diante do altar-mor. Estendeu-se sobre uma cama que tinham preparado junto ao altar, fez sinal com a mão para impor silêncio e dirigiu ao povo uma última exortação.

“Depois chamou os Bispos para junto de si e fez a confissão de seus pecados. Sob sua ordem, um dos Bispos celebrou a Missa e deu-lhe a Comunhão.

“Depois do que, o Papa, tendo comungado, disse: ‘Fazei silêncio, porque parece que eu vou dormir’. Inclinando a cabeça, ele adormeceu, com uma calma celeste, e acordou no Céu.

“Ele morreu diante do altar de São Pedro, no dia 19 de abril do ano da graça de 1057”.


Não se deve comparar santo com santo, mas assim como se pode dizer que Luís XIV foi o rei, que São Luís Rei foi o rei santo por excelência e Felipe II foi o espanhol, assim São Gregório VII foi o Papa

Quando se fala “o Papa”, vem ao espírito São Gregório VII. E ele era o secretário dele São Leão IX.

Que coisa linda ver um santo como São Gregório VII, moço ainda, e vendo a alma de São Leão IX subindo ao Céu!

Quando a leitura acaba tem-se a impressão de voltar para o charco.

Lendo-a nós respiramos um pouco o odor das virtudes de São Leão IX. Que ele reze por nós.



(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de palestra de 29 de outubro 1974, sem revisão do autor. Apud PlinioCorreadeOliveira.info)






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terça-feira, 15 de junho de 2021

São Leão IX: Deus não abandona quem luta com coragem

São Leão IX, Eguisheim
São Leão IX, Eguisheim
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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Eis uma ficha bem-feita, mas de uma biografia não bem-feita, de um grande Papa da Idade Média: São Leão IX, Papa.

“São Leão IX nasceu no ano de 1002 nos confins da Alsácia. Seu pai era conde Eguisheim e primo-irmão do Imperador Conrado, o Sálico. Sua mãe lhe deu o nome de Bruno.

“Quando atingiu idade de 5 anos foi confiado, pelos pais, à educação do venerável Bispo de Toul, Bertoldo, que dirigia então uma escola no próprio palácio episcopal”.

“Bruno foi confiado particularmente, no colégio, a um seu primo, chamado Aderico, que era filho do príncipe de Luxemburgo. Os dois se tomaram de uma íntima amizade.

“Esse filho do príncipe de Luxemburgo era modelo de todas as virtudes e serviu extraordinariamente para formar Bruno”.

Começa com uma pequena mas rica nota medieval, patriarcal: uma escola episcopal funcionando no palácio do Bispo, e dirigida por ele.

As pessoas da Idade Média, da mais alta categoria social, e de virtude extraordinária faziam uma aliança entre a grandeza terrena e o serviço de Deus inteiramente diverso de nossa época.

Na nossa época quanto mais se sobe, mais as pessoas estão ao serviço da Revolução.

“O bispo de Toul lhe conferiu as sagradas ordens e pouco depois Bruno foi ser clérigo na capela imperial do palácio do Imperador Conrado, o Sálico”.

Todos os imperadores tinham um conjunto de capelães que asseguravam o culto na capela pessoal do Imperador.

Era, uma situação de alta confiança, porque dava oportunidade de contato com o Imperador.

O imperador tinha como elemento central de sua vida e de sua corte o Ofício Divino: a Missa, o Ofício etc.

Por quê?

Por causa da convicção profunda de que a Igreja Católica é o centro de todas as coisas.

Portanto, na Corte imperial o elemento central tinha que ser a capela, onde está o Rei dos reis.

Quer dizer, o Santíssimo Sacramento, realmente presente Nosso Senhor Jesus Cristo. Onde se cultua Nossa Senhora com o culto de hiperdulia etc.

Tão diferente também dos grandes da terra hoje em dia, tão laicos, tão separados de tudo quanto é verdadeiro.

“Nessa capela Bruno é imediatamente bem-visto pelo Imperador, que se impressiona com as virtudes dele e começa a tratá-lo de ‘meu sobrinho’.”

Era uma honra extraordinária nas Cortes antigas ser tratado de primo ou de sobrinho do rei.

Ele de fato era parente do rei, mas não num grau tão próximo. Era filho de primos do rei e não filho de irmãos. Não era sobrinho.

O imperador tratando-o de sobrinho como que o elevava à categoria de príncipe da Casa Imperial. E a razão dessa honraria era a virtude dele.

A Idade Média uma época em que a posse do estado de graça na maior parte das pessoas criava um ambiente onde a virtude era bem-vista.

Não era um título para perseguição, mas era um título para ascensão, para exercer sua influência.

Ao contrário de hoje em dia, em que a virtude atrai toda espécie de ódios e cerceia a influência que a pessoa quer exercer.

“Algum tempo depois, no ano de 1026, o Imperador recebeu a visita de clérigos da diocese de Toul, de onde tinha sido originário Bruno, anunciando-lhe que o Bispo tinha morrido e que a população inteira pedia para ser designado, para a diocese vaga, a Bruno.

“Conrado cedeu, se bem que Bruno não tivesse ainda a idade canônica”.

A nomeação de um bispo nunca deixou de ser privilégio exclusivo do Papa. Mas o Papa pode receber indicações, que ele é livre de aceitar ou recusar, para tal ou tal diocese.

Na Idade Média se estabeleceu com frequência que o povo da diocese podia propor um nome para o Papa aceitar ou não.

No Sacro Império, os imperadores tomaram hábito também de proporem bispos ao papa.

Então, o povo propunha ao imperador um nome e este, se estava de acordo, propunha ao Papa; se o papa estava de acordo, nomeava Bispo.

O imperador aceitou que Bruno fosse indicado e de fato, ele foi nomeado Bispo pela Santa Sé embora ele não tivesse a idade suficiente.

“Ele se destacou pela capacidade e virtude com que ele dirigia a diocese.

“Durante 22 anos Bruno governou pacificamente e com brilho a Diocese de Toul. No ano de 1048 morreu o para Dâmaso II e os romanos mandaram uma deputação ao imperador Henrique III para lhe pedir para designar um novo papa.

“Henrique III reuniu, para esse efeito, uma Dieta em Worms, em que participavam todos os bispos do Império. Todas as vozes designaram Bruno, Bispo de Toul. Mas ele não queria ser papa de nenhum modo, por humildade e pediu alguns dias para refletir”.

“Terminado o prazo, diante de toda a Dieta de Worms disse que ia fazer uma confissão pública de eus pecados, para perceberem como ele não merecia ser papa. Ajoelhou-se e fez a confissão pública”.

A confissão mal dava para um pecado venial. Quando ele terminou, todos se levantaram e o aclamaram. Um bispo que tinha uma tal limpeza de consciência, apenas podia ser ele ser o Papa.

Então, ele levantou um problema muito sério: o imperador não tem o direito de nomear papa.

O papa só pode ser eleito pelo clero de Roma, na forma canônica, ouvido, quando queria, o povo de Roma. Então, ele iria a Roma e iria consultar se o clero e o povo o queriam como papa. Tomou o traje de peregrino, e foi de Worms a Roma, a pé.

É extraordinário! Porque tem a passagem dos Alpes, com neves eternas, montanhas escarpadíssimas, estradas que são caminhos de cabras. Ele fez como penitente e foi a pé até Roma.

São Leão IX, imagem em Eguisheim
São Leão IX, imagem em Eguisheim
“Mas esperava chegar como um peregrino desconhecido, quando chegou nas cercanias de Roma encontrou a cidade toda que tinha saído...”

“Ele entrou em Roma sem dar atenção para ninguém, e foi direto ao túmulo de São Pedro e rezou.

“O povo de Roma quis entronizá-lo aclamando-o; ele disse para pensarem ainda. Afinal de contas, o povo estava de tal maneira resolvido, que ele foi entronizado na Sé Romana”.

Comparem isso com as intrigas, as encrencas, as políticas que vieram depois. Aí temos o dinamismo oposto, o que faz tocar com a mão como é praticável que o estado de graça seja abundante em determinada época, ocasionando gestos extraordinários.

“Ele tomou por inspiração divina, o título de Leão, considerando que devia à testa da Igreja, lutar como um verdadeiro leão. E mal se entronizou, começou a lutar contra os verdadeiros inimigos da Igreja”.

Ora, quem São Leão IX considerava os verdadeiros inimigos da Igreja? Era a maior parte dos Bispos e dos padres no tempo.

O abuso péssimo chamado simonia, quer dizer, homens vorazes de cargos lucrativos que pagavam o povo ou ao imperador para serem eleitos bispos; ou um filho, um primo, um sobrinho, financeira e politicamente ligado a eles.

Às vezes subornavam os cardeais, ou o povo para elegerem um papa. E comprava-se até a tiara romana.

Esse processo trazia os piores inconvenientes porque bispos e padres desavergonhados davam um escândalo geral na Cristandade, e um amolecimento dos católicos diante das investidas dos pagãos.



terça-feira, 8 de junho de 2021

Santo Agostinho de Cantuária, o monge que conquistou a Inglaterra

Santo Agostinho de Cantuária, Canterbury
Santo Agostinho de Cantuária, Canterbury
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Antiga tradição inglesa reconhece como introdutor do cristianismo no país nada menos que José de Arimatéia, o rico discípulo do Redentor que depôs seu santíssimo corpo no sepulcro.

Tertuliano (c. 155- c. 222) afirma que a Religião cristã já havia penetrado “na Caledônia” — nome que os romanos davam à Grã-Bretanha — no século II, isto é, no território para além dos limites da província romana.

Essa cristandade já teria seus mártires na perseguição de Diocleciano, e o nome de seus bispos aparecido nos primeiros concílios do Ocidente, como o de Arles (314), no qual três prelados da região haviam participado.

No ano 429, bispos da Grã-Bretanha enviaram um apelo ao continente pedindo reforços para combater os hereges pelagianos. O Papa São Celestino enviou então São Germano de Auxerre e São Lobo de Troyes.

Após combater vitoriosamente os asseclas de Pelágio, São Germano permaneceu algum tempo na Grã-Bretanha, pregando e estabelecendo escolas para a formação do clero.(1) 
 
Quando as legiões romanas deixaram o país, no início do século V, este foi invadido pelos saxões, que se estabeleceram no sul e no leste, e pelos anglos, que fundaram a East-Anglia.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Espada de São Fernando irrita esquerdas em Sevilha

Pendão de Sevilha
Pendão de Sevilha
Luis Dufaur
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Os cavaleiros medievais “batizavam” suas espadas com nomes e até lhes reconheciam feitos prodigiosos que Deus operava por meio delas.

Durante séculos esta crença foi partilhada por nações inteiras e algumas dessas espadas sobreviveram às vicissitudes da história e são exibidas em museus como relíquias.

Figuram como motivo de orgulho em brasões e símbolos heráldicos de famílias, cidades e países.

A disputa pela inclusão da espada do rei São Fernando III de Castela no brasão da cidade de Sevilha suscitou uma aparatosa polêmica na Assembleia Municipal informou o jornal espanhol “ABC”.

Por fim, até o esquerdista PSOE votou em seu favor ao lado dos partidos conservadores PP e Ciudadanos, mas enfrentando uma enraivecida oposição das agrupações de esquerda e extrema-esquerda.