quarta-feira, 22 de outubro de 2014

São Luís IX: o rei cruzado retratado por seu companheiro de armas – 2

São Luís administrando justiça. Fundo: interior da catedral Notre Dame, Paris.
São Luís administrando justiça.
Fundo: interior da catedral Notre Dame, Paris.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








continuação do post anterior: São Luís IX: o rei cruzado retratado por seu companheiro de armas – 1

O rei amou tanto toda espécie de pessoas que crêem em Deus e O amam, que deu dignidade de condestável de França ao Sr. Gilles Lebrun, que não era do reino da França, porque ele tinha grande reputação de crer em Deus e de amá-lo. E eu creio verdadeiramente que assim foi.

Muitas vezes acontecia que no verão ele ia sentar-se no bosque de Vincennes, depois da Missa, apoiava-se contra um carvalho e fazia-nos sentar em torno dele.

Todos aqueles que tinham assunto iam falar com ele, sem empecilho de ajudas de câmara nem de outros. Então ele mesmo perguntava:

“Há alguém aqui que tenha pendência?”

Aqueles que tinham pendência levantavam-se, e então ele dizia:

“Calai-vos todos, e sereis atendidos um depois do outro”. Então chamava o Sr. Pierre de Fontaines e o Sr. Geoffroy de Vilette, e dizia a um deles:

“Atendei-me esta pendência”. Quando via alguma coisa a corrigir, no arrazoado dos que falavam por outro, ele mesmo a corrigia.

Eu o vi alguma vez, no verão, ir ao jardim de Paris para atender suas gentes, vestido de uma cota de camelo, de um casaco de lã sem mangas, de um manto de tafetá preto em torno do pescoço, muito bem penteado e sem touca, e um chapéu de penas de pavão branco na cabeça.

São Luís recebe a vassalagem de Henrique III, rei da Inglaterra
São Luís recebe a vassalagem de Henrique III, rei da Inglaterra
Fazia estender um tapete para que nos sentássemos em torno dele, e todos aqueles que tinham assunto a tratar com ele ficavam de pé na sua frente. Então ele os fazia atender, do modo como fazia no bosque de Vincennes.

A lealdade do rei mostrou-se bem no caso do Sr. de Trie.

Este remeteu cartas ao santo rei, dizendo que o rei tinha dado aos herdeiros da condessa de Boulogne, recentemente falecida, o condado de Dammartin.

O selo das cartas estava rompido. Restava apenas do selo a metade das pernas da figura do rei e o escabelo sobre o qual o rei apoiava os pés. Mostrou-o a nós todos que éramos de seu conselho, e pediu-nos que o ajudássemos com nosso parecer.

Dissemos todos unanimemente que ele não estava em nada obrigado a pôr as cartas em execução. Chamou então Joan Sarrasin, seu chambellan, e mandou que trouxesse a carta que lhe tinha encomendado.

Quando recebeu a carta, disse: “Senhores, eis o selo de que eu me servia antes de ir a ultramar. Vê-se claramente por este selo que o sinete do selo quebrado é semelhante ao selo inteiro. Por isso eu não ousaria, em sã consciência, reter o dito condado”.

Chamou então o Sr. Renaud de Trie e disse-lhe: “Eu vos entrego o condado”.

(Charles de Ricault d’Héricault, “Histoire Anécdotique de la France” - Bloud et Barral, Paris, Tomo II, pp. 286-289)




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