quarta-feira, 23 de março de 2016

Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada

A rainha Isabel a Católica
A rainha Isabel a Católica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs


Muito foi escrito sobre esta soberana cujo processo de canonização está em andamento.

Seguem algumas pinceladas de sua extraordinária existência, ressaltando do seu aspecto guerreiro e espírito de cruzada, o que é possível transmitir num simples artigo.

Filha de João II, Rei de Castela, e sua segunda esposa, nasceu Isabel a 22 de abril de 1451 na pequena cidade de Madrigal das Altas Torres.

Aquela que seria a última mulher cruzada descendia, tanto pelo lado paterno quanto pelo materno, de dois reis santos e cruzados: São Luís IX, da França, e seu primo São Fernando III, de Castela.

Falecendo o pai quando sua idade era pouco mais de três anos, foi educada piedosamente pela mãe, juntamente com seu irmão menor Afonso.

“Bordava telas e casulas, costurava roupas para os pobres, aprendia a fiar como as mulheres do povo. Tecia sedas, urdia e confeccionava tapetes com assombrosa habilidade”.(1)

Aos 11 anos foi levada com Afonso por Henrique IV, seu meio-irmão, para a corte castelhana, considerada então a mais corrompida da Europa.

Na corte castelhana, dois partidos em disputa

Na corte castelhana, “a princesinha estudava música, pintura, poesia, costura e gramática. Cada dia passava muito tempo em oração pedindo a Deus que os guardasse, a ela e a Afonso, livres de todo pecado; e especialmente invocava a Bem-aventurada Virgem, São João Evangelista e o apóstolo São Tiago, patrono de Castela”.(2)

Pela fraqueza dos reis castelhanos, “nesse período [os nobres] tinham chegado ao ponto de despojar completamente o trono de sua autoridade.

Aproveitavam-se da incrível imbecilidade de Henrique IV e das escandalosas relações entre Joana de Portugal, sua segunda mulher, e seu favorito Beltran de la Cueva”,(3) a quem atribuíam a paternidade da infanta Joana, por isso cognominada la Beltraneja.

Com a chegada dos jovens príncipes, formaram-se logo na corte dois partidos: um que defendia a legitimidade destes ao trono, e outro que defendia a da Beltraneja.

O primeiro partido tornou-se tão poderoso, que obteve do fraco rei que reconhecesse Afonso e Isabel como seus legítimos herdeiros.

Falecendo o príncipe Afonso, o partido de Isabel quis aclamá-la rainha no lugar de Henrique IV.

“Nessa ocasião, Isabel deu uma das primeiras provas de suas grandes qualidades, recusando a coroa usurpada que lhe era oferecida, e declarando que nunca, enquanto seu irmão vivesse, aceitaria ela o título de rainha”.(4)

Aos 18 anos, Isabel casou-se secretamente com o herdeiro da coroa de Aragão, o príncipe D. Fernando, para evitar as tratativas que seu irmão fazia para casá-la com outro pretendente.

Assume as rédeas do governo e reconstrói o país

Isabel assumiu o governo aos 23 anos, à morte de Henrique IV. Com sua energia, e acompanhada de seu marido Fernando, foi obtendo a adesão de cada cidade para sua causa.

A rainha de Castela, Isabel a Católica, anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500), Colección Generalife
A rainha de Castela, Isabel a Católica,
anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500),
Colección Generalife
Mas o Rei de Portugal, Afonso V, querendo assenhorear-se de Castela, entrou no país para casar-se com a Beltraneja, a qual, afirmava ele, era a legítima herdeira do trono.

Vários potentados castelhanos tomaram seu partido, aliando-se a ele. A alternativa para Isabel era ceder, ou então guerrear. E ela não cedia num ponto em que julgava estar inteiramente com a razão.

Assim, apesar de estar esperando um segundo filho, pôs a cota de malhas e, a cavalo, foi recrutando gente em todas as suas cidades, enquanto Fernando fazia o mesmo em Aragão.

Habilíssimo general e grande estrategista, Fernando obteve retumbante vitória sobre o soberano português, consolidando assim Isabel no trono.

Triste foi a herança que recebeu Isabel de seu fraco e imoral meio-irmão.

“As indústrias quebravam, a moeda andava escassa, centenas de cidades desafiavam sua autoridade sob o mando de prefeitos que se criam reis delas, o povo morria de fome e de epidemias. A Igreja necessitava de reforma, o governo existia só de nome, e por todas as partes os camponeses estavam oprimidos por bandos de ladrões”.(5)

Os jovens soberanos entregaram-se com energia à tarefa de reconstruir o país. Começaram a reprimir severamente os abusos e aplicar a justiça contra quem quer que fosse.

Fizeram reviver, para isso, a Santa Irmandade, força de voluntários que servia de polícia local, com jurisdição sobre assassinatos, atos de violência, rapina, atentados a mulheres e desobediência às leis e aos magistrados.

Isabel obteve do Papa a instauração da Santa Inquisição em Castela para pôr fim aos abusos, na esfera religiosa, principalmente de cristãos-novos (judeus convertidos), muitos dos quais tinham fé duvidosa e utilizavam a usura para pressionar os cristãos.

Isabel era muito ciosa de sua autoridade como rainha. Por isso, em 1475 firmou com seu esposo o acordo denominado Concórdia de Segóvia, pelo qual recebeu o título de Rainha e proprietária de Castela, e seu esposo o de rei consorte.

“Desde esse momento os esposos formam um bloco impossível de dividir, e com essa firmeza podem fazer frente ao estalido da guerra”.(6)



(Fonte: revista "Catolicismo" nº 643, julho de 2004.




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quarta-feira, 9 de março de 2016

Santa Joana d'Arc, virgem e guerreira heróica


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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Também Santa Joana d'Arc é, por assim dizer, uma heroína da aquela realidade produto de nosso espírito onde habitam os homens-mito que personificam os valores que julgamos superiores, i. é, a trans-esfera.

Queira-se ou não, até hoje ela pesa no curso da História da França.

Portanto, a humilde donzela da batalha de Orleans, decorridos muitos séculos de sua morte, ainda comove os espíritos!

É muito bela a conjunção dessas duas virtudes: a castidade e o heroísmo.

O maior exemplo dessa conjunção nós temos em Santa Joana d'Arc, a virgem e guerreira heroica, nascida na Lorena.

A castidade é uma virtude cheia de delicadeza, cheia de fragilidade. A coragem é uma virtude cheia de fortaleza, cheia de intrepidez.

A junção desses opostos forma uma verdadeira maravilha.

São como duas partes de uma ogiva que se unem para formar um todo harmônico muito bonito.

Santa Joana d'Arc está numa posição em que ela é mais ou menos inatingível.

Se alguém quiser falar contra ela, nem todas as simpatias da mídia servem para atenuar a má impressão que esse indivíduo causa contra si.

Imagine que se fique sabendo que tal literato está escrevendo uma série de artigos contra Santa Joana d'Arc... está liquidado!

Escrever uma série de artigos contra Santo Inácio de Loyola, que eu admiro talvez mais do que Santa Joana d'Arc, isso não desdoura tanto o indivíduo.

Mas Santa Joana d'Arc, na sua couraça, com seu gonfalon Mon Dieu et Saint Denis, e com aquilo tudo, está nos páramos da inatingibilidade.

Ninguém pode lançar uma estocada contra ela sem se quebrar a si próprio.

São desígnios de Deus sobre as várias glórias terrenas post-mortem dos bem-aventurados.



Fonte: “A inocência primeva e a contemplação sacral do universo no pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira”, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, São Paulo, 2008.




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terça-feira, 1 de março de 2016

Carlos Magno, modelo ideal de imperador católico

Carlos Magno, modelo ideal de imperador católico

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Todas as áreas de civilização têm seus homens-mito, que simbolizam certos traços de caráter e fatos que efetivamente não se deram na vida desses homens.

Em outras palavras, há um modo de ver o homem-mito que transcende o próprio homem.

Corresponde a uma concepção que freqüentemente se tem a respeito de pessoas que personificam o que elas simbolizam.

São pessoas que simbolizam uma realidade superior que é, por sua vez, um produto de nosso espírito.

Tal fato decorre da necessidade que sentimos da individuação ou personificação de certos princípios ou valores.

O homem-mito se situa, pois, numa esfera transcendente, uma super-esfera, da qual ele comunica aos homens a sua transcendência.

Essa transcendência é o mito. Então, a idéia de mito traz consigo a idéia de uma trans-esfera.