quarta-feira, 7 de maio de 2014

O “Fundador dos Impérios” fala ao rei de Portugal – D. Afonso Henriques 2

Conde de Portugal D. Henrique de Borgonha
Conde de Portugal D. Henrique de Borgonha
Continuação do post anterior

D. Afonso, filho de D. Henrique foi se mostrando desde pequeno propenso a realizar as aspirações do pai em relação ao nascente Portugal. E os melhores vultos da nobreza — entre os quais o mítico Gonçalo Mendes, o Lidador — põem nele suas esperanças.

Ainda muito jovem, sai vencedor na Batalha de São Mamede, o que lhe assegura a soberania sobre seus territórios frente às pretensões dos reinos vizinhos e de facçõesinternas.

As relações com o governo leonês deixam de ser vassalo-senhor.

Mostrando seus propósitos de emancipação, D. Afonso vai ao mesmo tempo consolidando a estrutura de seus domínios. Favorece a estabilização do poder eclesiástico nas mãos do arcebispo de Braga e trabalha em prol de boas relações com a Santa Sé.

Os árabes agitam-se novamente, fazendo incursões e derrotando os portucalenses. D. Afonso assina um acordo de paz com o imperador de toda a Hispania (Afonso VII de Leão e Castela), assegurando a estabilidade em uma de suas frentes.

Para barrar o mouro invasor, intui que é preciso causar terror em seu meio. Aproveitando-se de uma crise dinástica entre Almorávidas e Almôhadas, penetra em território dominado por eles para dar batalha.


O número dos inimigos, entretanto, começa a esmorecer a coragem dos portucalenses. Assim narra o próprio D. Afonso:

“Eu estava com meu exército nas terras de Alentejo no Campo de Ourique para dar batalha a Ismael, e outros quatro reis mouros, que tinham consigo infinitos milhares de homens; e minha gente, temerosa de sua multidão, estava atribulada, e triste sobremaneira, em tanto que publicamente diziam alguns seria temeridade acometer tal jornada. E eu, enfadado do que ouvia, comecei a cuidar comigo o que faria”.(6)

Milagre de Ourique
Milagre de Ourique
No meio dessa preocupação, D. Afonso entra em sua tenda, toma a Sagrada Escritura, abre-a justamente na narrativa da vitória de Gedeão, e dirige em seguida uma prece a Deus:

“Mui bem sabeis Vós, Senhor Jesus Cristo, que por amor vosso tomei sobre mim esta guerra contra os blasfemadores de vosso nome”.

Cansado, adormece e, em sonho, vê um ancião que vem até ele, prometendo-lhe a vitória. Seu camareiro logo o desperta, apresentando o mesmo ancião que vira no sonho, o qual lhe dirige a mesma promessa de vitória, acrescentando que Nosso Senhor queria comunicar-lhe uma mensagem.

D. Afonso obedece às ordens daquele homem de Deus, dirigindo-se ao local determinado. “Vi de repente no próprio raio resplandecente o sinal da Cruz, mais resplandecente que o Sol, e

Jesus Cristo crucificado nela. Lancei-me por terra e, desfeito em lágrimas, comecei a rogar pela consolação de meus vassalos, e disse sem nenhum temor:

‘A que fim me apareceis, Senhor? Quereis por ventura acrescentar fé a quem tem tanta? Melhor é por certo que vos vejam os inimigos, e creiam em vós, que eu, que desde a fonte do Batismo vos conheci por Deus verdadeiro, Filho da Virgem, e do Padre Eterno, e assim vos conheço agora’.

O Senhor, com um tom de voz suave, que meus ouvidos indignos ouviram, me disse:

‘Não te apareci deste modo para acrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os princípios de teu Reino sobre pedra firme. Confia, Affonso, porque não só vencerás esta batalha, mas todas as outras, em que pelejares contra os inimigos da minha Cruz. Acharás tua gente alegre, e esforçada para a peleja, e te pedirá que entres na batalha com o título de Rei. Não ponhas dúvida; mas tudo quanto te pedirem lhe concede facilmente. Eu sou o fundador, e destruidor dos Reinos, e Impérios; e quero em ti, e teus descendentes, fundar para mim um Império, por cujo meio seja meu nome publicado entre as nações mais estranhas’.

‘Por que méritos, Senhor, me mostrais tão grande misericórdia? Ponde vossos benignos olhos nos Sucessores, que me prometeis, e guardai salva a gente portuguesa’.

‘Não se apartará deles, nem de ti, nunca, minha misericórdia, porque por sua via tenho aparelhadas grandes searas, e a eles escolhidos por meus segadores em terras mui remotas’.

Dito isto, desapareceu”.

Confortado por essas palavras, D. Afonso volta para o acampamento. No brilho dos seus olhos, e no vigor de sua expressão, seus cavaleiros encontram ânimo para dar batalha aos infiéis.

Notas:
1. Cf. Catolicismo, novembro/2010.
2. AMEAL, João. História de Portugal. Porto: Tavares Martins, 1940, p.27.
3. Idem, p.30.
4. Cristãos que preferiam a convivência a uma vida de constante luta contra o invasor muçulmano.
5. AMEAL, João, op. cit. p. 52.
6. Monarchia Lusitana, Tomo III, p. 127, disponível em http://www.angelfire.com/pq/unica/monumenta_1152_juramento.htm

(Autor: Guilherme Félix de Sousa Martins, CATOLICISMO, fevereiro 2013.



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