quarta-feira, 29 de julho de 2015

Lepanto: a maior batalha naval da História

Réplica da nau capitã de Don Juan d'Áustria em Lepanto
Réplica da nau capitânia de Don Juan d'Áustria em Lepanto
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








continuação do post anterior: A batalha de Lepanto: um Harmagedon naval entre a Cruz e o Crescente



“Toma, ditoso príncipe, a insígnia do verdadeiro Deus humanado”

As tratativas para a Santa Liga foram concluídas em 7 de março de 1571, festa de São Domingos. O Papa, exultante de alegria, entregou o empreendimento nas mãos de Nossa Senhora — as mesmas mãos que séculos atrás haviam dado o Rosário ao santo fundador da Ordem dos Pregadores.

O Santo Padre delegou o comando da pequena, mas prestigiosa frota dos Estados Pontifícios, composta de 12 naus de guerra, ao nobre Marco Antonio Colonna.

O príncipe ajoelhou-se para receber pessoalmente das mãos de São Pio V o estandarte da Liga, no qual estavam estampadas as imagens de Jesus Crucificado, São Pedro, o brasão do Papa e a inscrição “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás”).

Foi o lema visto acima de uma Cruz luminosa, no céu, pelo Imperador Constantino, no ano 312, e que o levou à vitória na famosa batalha de Ponte Mílvia, contra o usurpador Maxêncio.

O ponto de encontro de toda frota era a cidade de Messina, na Sicília. Primeiro, chegaram os venezianos com suas 66 naus, comandados pelo veterano Sebastião Veniero, que mantinha o fulgor de soldado, mesmo aos 70 anos. Logo depois, vieram as 60 naus espanholas comandadas por Andrea Doria, experiente navegador do Mediterrâneo.

A cidade de Messina fervia de entusiasmo pela vinda desses novos cruzados. Mas a verdadeira comemoração se deu quando D. João d’Áustria aportou com seus 45 navios.

Ele parecia uma figura angélica: vestido com sua armadura brilhante, cabelos loiros, de porte aristocrático, alto e esguio. O príncipe havia recebido do delegado pontifício, o Cardeal Granvela, o estandarte da Liga. O prelado lhe dissera:

“Toma, ditoso príncipe, a insígnia do verdadeiro Deus humanado. O sinal vivo da santa Fé, da qual tu és defensor nesta jornada. Ele te dará uma vitória gloriosa sobre o ímpio inimigo, e por tua mão será abatido seu orgulho. Amém!”.

Por sugestão do Papa, D. João d’Áustria tomou providências para garantir o sucesso da guerra, atraindo as graças de Deus, o Senhor dos Exércitos.

Todos os combatentes, marinheiros, soldados e nobres, jejuaram durante três dias, além de se confessarem e receberem a Sagrada Comunhão. Mulheres foram proibidas a bordo dos navios para evitar qualquer desregramento. A blasfêmia passou a ser punida com pena de morte.

Em 15 de setembro, a esquadra soltava as velas. O espetáculo da partida é digno de reverência. Centenas de naus se perfilavam com suas bandeiras multicolores.

Na ponta do cais, o Núncio papal, vestido com seus melhores paramentos, abençoava, uma a uma, as embarcações à medida que iam passando.

Nossa Senhora de Lepanto, Espanha
Nossa Senhora de Lepanto, Espanha
Os tripulantes ajoelhavam-se piedosamente no convés das naus, fazendo o sinal da cruz. O povo, em meio a ovações e aplausos, acompanhava tudo enlevado, seguindo os gestos dos guerreiros.

A insigne esquadra desses verdadeiros cruzados era composta de 208 galés e outra centena de pequenos barcos de transporte e apoio. Mais de 80 mil soldados, nobres e plebeus, era o total dos homens a bordo.

As notícias diziam que a frota turca se encontrava na região da Grécia. D. João d’Áustria decidiu ignorar os conselhos de alguns comandantes de tomar uma posição apenas defensiva. Ele optou por seguir a diretriz dada pelo Santo Padre: perseguir os turcos, atacá-los e aniquilá-los.

Já no litoral grego, os católicos ficaram horrorizados ao verem a destruição promovida pelos infiéis. Cidades destroçadas e incontáveis corpos de mártires espalhados pela região.

O horror produzido nos cruzados se transformava em indignação e maior vontade de acabar de vez com tal insolência dos muçulmanos.

Em 6 de outubro de 1571, a esquadra se aproximou da embocadura do estreito de Lepanto. O inimigo não estava distante. Era uma questão de horas até que ele aparecesse. A noite transcorreu tranquila, o mar calmo e o céu límpido ornado com luz do luar.

No raiar da manhã daquele memorável dia 7 de outubro, a esquadra turca surgiu no horizonte, ainda muito afastada para qualquer embate. Saindo do golfo, com vento favorável vindo do leste, enfunavam-se as velas de mais de 280 galés de combate, levando 100 mil turcos!

Os chefes cristãos vieram conferenciar com D. João d’Áustria em sua nau capitânia, La Real. “Não é prudente dar batalha a um inimigo numericamente superior”, disseram eles ao generalíssimo.

Mas o jovem príncipe retrucou com firmeza: “Não é hora de conversar, mas de lutar”.

Todos sentiram tal confiança estampada em seu rosto e em suas palavras, que não hesitaram mais. D. João d’Áustria concluiu: “Aqui venceremos ou morreremos”.

No início da tarde, um vento favorável soprou do oeste, lançando os cristãos em direção do inimigo. Era como se Deus estivesse “ansioso” para vê-los em ação.

À distância, os turcos dispararam um canhão em sinal de ameaça. De sua nau capitânia — onde tremulava uma bandeira com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, vinda das possessões espanholas na América — D. João d’Áustria aceitou o desafio e ordenou um disparo de revide que afundou um dos barcos turcos.

O cenário estava montado para a maior batalha naval da História. É o que veremos no próximo post.

Fontes bibliográficas:

WEISS, Juan Bautista. Historia Universal, Barcelona: Tipografia La Educación, 1929, vol. IX, pp. 535 a 540.

Walsh, William Thomas. Felipe II, 7ª edição, Madri, Espasa-Calpe, 1976, pp. 565 a 579.

Lataste, J. (1911). Pope St. Pius V. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. http://www.newadvent.org/cathen/12130a.htm

Continua no próximo post : Lepanto: se engaja a batalha do tudo ou nada

(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, CATOLICISMO, janeiro 2015)






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quarta-feira, 15 de julho de 2015

A batalha de Lepanto: um Harmagedon naval
entre a Cruz e o Crescente

São Pio V vê miraculosamente
a vitória de Nossa Senhora em Lepanto
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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No ano de 1566 subia ao trono pontifício o Cardeal Antonio Ghislieri.

O novo Papa, de família nobre, entrara ainda jovem na Ordem dominicana, onde aprendeu a prática da virtude e da austeridade que deveria transmitir no governo da Igreja.

Ele assumia aos 62 anos o nome que passaria a ser conhecido como um dos maiores Papas de todos os tempos: São Pio V.

São Pio V — grande comandante das forças católicas

Mas o revide de Deus já estava pronto para entrar em cena. São Pio V assumiu com galhardia o supremo comando da Igreja e, à maneira de um bom general, trouxe a vitória da Cruz sobre todos seus inimigos.

Ele auxiliou os católicos perseguidos pelos príncipes alemães protestantes. Incentivou a Liga Católica contra os huguenotes na França. Apoiou a Espanha contra as revoltas protestantes nos Países Baixos. Excomungou a herética rainha Elizabete I da Inglaterra.

Internamente na Igreja, combateu com vigor o relaxamento moral do clero e incrementou a observância da disciplina eclesiástica do Concílio de Trento. Seu próprio exemplo pessoal foi poderoso antídoto contra os escândalos de certos clérigos.

Mas o foco deste artigo é a enérgica atitude de São Pio V diante do perigo muçulmano.

Desde o tempo das Cruzadas, os Romanos Pontífices recorriam à legítima força das armas quando os outros meios haviam se mostrado ineficazes.

A legitimidade da guerra, em certas circunstâncias, é ponto pacífico na doutrina católica. Em face do inimigo muçulmano não havia possibilidade de diálogo, diplomacia, nem concessões.

A única solução possível mostrou ser a força. E esse foi o recurso utilizado por São Pio V, com a autoridade conferida aos Papas pelo próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.

O oponente que o santo Pontífice tinha diante de si era terrível: a frota turca, equipada com centenas de navios de guerra e milhares de guerreiros bem treinados, uma força inconteste nas águas do Mediterrâneo.

Dom João d'Áustria, Pantoja de la Cruz (1553 – 1608), Museo del Prado, Madri.
Dom João d'Áustria,
Pantoja de la Cruz (1553 – 1608),
Museo del Prado, Madri.
Para enfrentá-los, só uma força à altura. Todavia, isoladamente nenhuma nação católica possuía tal poder. Era preciso estabelecer um acordo entre príncipes cristãos. Surgia na mente do Papa a ideia da Santa Liga.

As negociações entre Espanha, Veneza e outras cidades italianas se iniciaram, tendo como árbitro o Romano Pontífice. Muitos interesses estavam em jogo, o que retardava a concórdia, fazendo sofrer imensamente o Papa.

D. João d’Áustria — guerreiro enviado pela Providência


Em 1570, os turcos atacaram Chipre. A partir de então, o Pontífice não descansou até resolver todos os meandros diplomáticos para concluir o pacto das forças católicas. 

Os Estados Pontifícios se somariam a essas forças com seus próprios navios e soldados.

O comando geral da Santa Liga foi dado a D. João d’Áustria, filho do Imperador alemão Carlos V e meio-irmão de Felipe II, rei da Espanha. A escolha era ideal.

O jovem príncipe, de apenas 24 anos, fogoso e ávido de combates pela boa causa, deveria catalisar todos os esforços para o objetivo central: a destruição da armada turca.

A respeito desse eleito comandante da esquadra católica, São Pio V citou a Escritura: “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João” (Jo 1,6). Assim, o Papa dava sua chancela de que a escolha de D. João d’Áustria vinha do Céu.

Durante os vaivéns diplomáticos, Chipre sofria com a invasão turca. Nicósia, importante cidade de Chipre, caiu depois de 48 dias de cerco.

Famagusta, capital da ilha, resistiu durante meses, mas afinal, vendo que não havia possibilidade de vitória, e diante das notícias do atraso na formação da Santa Liga, o prefeito, Antonio Bragadino, combinou a rendição da praça com os turcos.

Estes concordaram em deixar os cristãos partirem em liberdade. Mas, diante das portas abertas da cidade, os muçulmanos traíram a palavra dada, atacaram e prenderam Bragadino.

Este foi esfolado vivo, enquanto toda a população era assassinada, inclusive mulheres e crianças. As atrocidades cometidas contra os católicos foram horríveis e indescritíveis.

(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, CATOLICISMO, janeiro 2015)

continua no próximo post: Lepanto: a maior batalha naval da História




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