terça-feira, 19 de setembro de 2023

Reis monges à frente de exércitos:
São Sigiberto, rei de East Anglia

Reconstituição do elmo achado em Sutton Hoo
e atribuído a Rædwald rei de East Anglia,
pai de São Sigiberto.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O historiador Charles Forbes, conde de Montalembert (1810 – 1870) no livro “Les Moines d'Occident”(Ed. Lecoffre, 1867, 505 páginas, 4 vol.) descreve um aspecto inesperado da Idade Média: a vida de alguns reis que deixaram a coroa para se tornarem monges e que as circunstancias obrigaram a empunhar de novo a espada para defender seu povo :

“Dia veio em que Sigiberto, rei da Inglaterra, que era não só um grande cristão e um grande sábio de seu tempo, mas ainda um grande guerreiro, fatigado das lutas e desgostos do seu reino terrestre, declarou querer ocupar-se do reino do Céu e combater unicamente para o Rei Eterno.

“Ele cortou os cabelos e entrou como religioso no mosteiro que doara a um amigo irlandês.

“Deu assim o primeiro exemplo, entre os anglo-saxões, de um rei que abandonava a soberania e a vida secular para entrar no claustro e, como se verá, seu exemplo não foi estéril. Mas não lhe foi concedido, como ele esperava, morrer no claustro.

“O terrível Penda, flagelo da confederação anglo-saxônica, chefe infatigável dos pagãos, cobiçava seus vizinhos cristãos do leste e do norte.

“A testa de seus numerosos soldados, reforçados pelos implacáveis bretões, invadiu e saqueou a Inglaterra, tão encarniçadamente e com tanto sucesso quanto fizera com a Nortumbria.

“Os ingleses, abalados e muito inferiores em número, lembraram-se das proezas de seu antigo rei e foram tirar de sua cela Sigiberto, cuja coragem e experiência guerreira eram conhecidas dos soldados, e o colocaram à frente do exército.

“Ele bem quis resistir, mas foi preciso ceder às instâncias de seus antigos súditos.

“Mas para permanecer fiel à sua vocação, não quis armar-se com uma espada, mas com um bordão e foi com essa nova arma na mão que o rei monge pereceu à testa dos seus, sob o ferro do inimigo”.


(Autor: Charles Forbes René, conde de Montalembert, “Les Moines d'Occident”, Ed. Lecoffre, 1867, 505 páginas, 4 vol.).

Catedral de Norwich erigida posteriormente
no reino de East Anglia que São Sigiberto salvou dos pagãos.
Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

Naquele tempo os homens usavam cabelo comprido e raspar o cabelo como os frades era símbolo de perder a liberdade e se pôr sob a obediência de um superior.

Os dois fatos acontecem na mais alta Idade Média, no tempo em que o território inglês e o germânico, estavam divididos em reinos que não tinham território inteiramente fixado.

Os pagãos viviam entre o nomadismo e o estado sedentário. Eram hordas de bárbaros que infestavam certas regiões.

Havia, naturalmente, guerra religiosa entre pagãos e cristãos. Essa guerra religiosa foi conduzida muitas vezes por reis santos.

Grã-Bretanha é dividida pelos montes. O sul é a Inglaterra. Nessa parte os anglos eram católicos e os bretões, cristãos decadentes aliaram-se com os saxões pagãos.

Esse grande rei exercera a profissão mais prestigiosa de seu tempo, que era ser combatente. O homem completo devia ser um combatente. Sigiberto foi rei que se assinalou na guerra ficando recoberto de prestígio e glória, mas ao cabo de seus dias resolveu consagrar-se exclusivamente à Igreja e se tornou monge.

Quando houve um ataque dos pagãos, ele foi procurado pelo povo para chefiar a luta porque ninguém era como ele. Ele voltou, mas não quis conduzir uma espada, porque como monge não lhe era próprio derramar sangue alheio.

O bastão era mais uma arma de defesa do que uma arma de ataque. Ele combateu valorosamente e morreu durante a luta defendendo seu povo ameaçado de ruína.

(Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, 12.6.69. Sem revisão do autor)



continua no próximo post: São Teodorico de Cumbria, outro rei-monge falecido em combate





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terça-feira, 5 de setembro de 2023

São Teodoro contra o “Sínodo do adultério”

São Teodoro Studita, mosaico do século XI,
mosteiro de Nea Moni, em Chios, Grécia.
Roberto de Mattei
(1948 - )
professor de História italiano,
especializado nas ideias
religiosas e políticas no
pós-Concilio Vaticano II.



Com o nome de “Sínodo do adultério”, entrou para a História da Igreja uma assembleia de bispos que no século IX quis aprovar a prática do segundo casamento após o repúdio da esposa legítima.

São Teodoro Studita (759-826) foi um dos que mais vigorosamente se lhe opuseram, sendo por isso perseguido, preso e exilado três vezes.

Tudo começou em janeiro de 795, quando o imperador romano do Oriente (basileus) Constantino VI (771-797) encerrou sua esposa Maria de Armenia em um convento e iniciou uma união ilícita com Teodota, dama de honra de sua mãe Irene.

Poucos meses depois, o imperador fez proclamar Teodota “augusta”, mas não tendo conseguido convencer o patriarca Tarasius (730-806) a celebrar o novo casamento, encontrou finalmente um ministro complacente no hegúmeno José, abade do mosteiro de Kathara, na ilha de Itaca, que abençoou oficialmente a união adúltera.

Nascido em Constantinopla no ano de 759, São Teodoro era então monge no mosteiro de Sakkudion, na Bitinia, cujo abade era seu tio Platão, também venerado como santo.

O injusto divórcio produziu – informa ele numa carta – uma profunda comoção em todo o povo cristão: concussus est mundus (... Ep II, n 181, PG, 99, coll 1559-1560CD), o que o levou a protestar energicamente com São Platão em nome da indissolubilidade do vínculo.

O imperador deve ser considerado adúltero – escreveu – e, portanto, o hegúmeno José deve ser considerado gravemente culposo, por ter abençoado adúlteros e os ter admitido à Eucaristia. “Coroando o adultério” o hegúmeno José se opôs ao ensinamento de Cristo e violou a Lei de Deus, asseverou (Ep. I, 32, PG 99, coll. 1015 / 1061C).

Para Teodoro, também o patriarca Tarasius deveria ser condenado, pois embora não tivesse endossado o novo casamento, havia se mostrado tolerante, evitando excomungar o imperador e punir o padre José.

Constantino VI e sua mãe Irene. Moeda de ouro, anos 780-790.
Constantino VI e sua mãe Irene. Moeda de ouro, anos 780-790.
Essa atitude era típica de um setor da Igreja do Oriente, que proclamava a indissolubilidade do matrimônio, mas na prática mostrava uma certa submissão em relação ao poder imperial, semeando confusão nas pessoas e provocando o protesto dos católicos mais fervorosos.

Baseando-se nos escritos de São Basílio, Teodoro alegou o direito dos súditos de denunciar os erros do próprio superior (Epist. I, n. 5, PG, 99, coll. 923-924, 925-926D), e os  monges de Sakkudion romperam a comunhão com o patriarca, por sua cumplicidade com o divórcio do imperador.

Estourou assim a chamada “questão moicheiana” (de moicheia = adultério), que colocou Teodoro em conflito não só com o governo imperial, mas com os próprios patriarcas de Constantinopla.

Este é um episódio pouco conhecido, sobre o qual o Prof. Dante Gemmiti levantou o véu alguns anos atrás, numa cuidadosa reconstrução histórica baseada em fontes gregas e latinas (Teodoro Studite e la questioni moicheiana, LER, Marigliano 1993), confirmando como no primeiro milênio a disciplina eclesiástica da Igreja do Oriente ainda respeitava o princípio da indissolubilidade do casamento.

Em setembro de 796, Platão e Teodoro foram presos com certo número de monges do Sakkudion, internados e depois exilados a Tessalônica, aonde chegaram em 25 de março 797.

Em Constantinopla, no entanto, o povo julgava Constantino um pecador que continuava a dar escândalo público e, alentado pelo exemplo de Platão e Teodoro, aumentava sua oposição a cada dia.

O exílio durou pouco porque, na sequência de uma conspiração de palácio, o jovem Constantino foi cegado pela mãe, que assumiu sozinha o governo do império. Irene chamou de volta os exilados, que mudaram para o mosteiro urbano de Studios, juntamente com a maioria da comunidade de monges de Sakkudion.

Teodoro e Platão se reconciliaram com o patriarca Tarasio que, após a chegada de Irene ao poder, havia condenado publicamente Constantino e o hegúmeno José pelo divórcio imperial.

O reinado de Irene foi breve. Em 31 de outubro de 802, um de seus ministros, Nicéforo, depois de uma revolta palaciana, proclamou-se imperador. Pouco depois, quando morreu Tarasio, o novo basileus fez eleger Patriarca de Constantinopla um alto oficial imperial também chamado Nicéforo (758-828).

Em um sínodo convocado e presidido por ele, em meados do ano 806, Nicéforo reintegrou em seu ofício o hegúmeno José, deposto por Tarasio.

Teodoro, que se tornara chefe da comunidade monástica de Studios após Platão se retirar para a vida de recluso, protestou energicamente contra a reabilitação do hegúmeno José, e quando este último recomeçou a exercer o ministério sacerdotal, rompeu a comunhão com o novo patriarca.

A reação não tardou. Studios foi ocupado militarmente, Platão, Teodoro e seu irmão José, Arcebispo de Tessalônica, foram presos, condenados e exilados.

Em 808 o imperador convocou outro sínodo, que se reuniu em janeiro de 809. Foi essa assembléia sinodal que, em uma carta de 809 ao monge Arsênio, Teodoro definiu como “moechosynodus”, ou seja, o “Sínodo do adultério” (Ep. I, . 38, PG 99, coll. 1041-1042c).

O Sínodo dos Bispos reconheceu a legitimidade do segundo casamento de Constantino, confirmou a reabilitação do hegúmeno José e anatematizou Teodoro, Platão e seu irmão José, que foi deposto de seu cargo de Arcebispo de Tessalônica.

Para justificar o divórcio do imperador, o Sínodo utilizava o princípio da “economia dos santos” (tolerância na práxis). Mas para Teodoro nenhum motivo podia justificar a transgressão de uma lei divina.

Baseado nos ensinamentos de São Basílio, de São Gregório Nazianzeno e de São João Crisóstomo, ele declarou privada de fundamento bíblico a disciplina da “economia dos santos”, segundo a qual em algumas circunstâncias se podia fazer o mal em nome da tolerância para um mal menor – como neste caso do casamento adúltero do imperador.

Poucos anos depois, na guerra contra os búlgaros (25 de Julho 811), morreu o imperador Nicéforo, subindo ao trono outro funcionário imperial, Miguel I.

O novo basileus chamou Teodoro de volta do exílio, tornando-o um de seus mais escutados conselheiros. Mas a paz durou pouco.

São Teodoro Studita, ícone escola bizantina.
São Teodoro Studita, ícone escola bizantina.
No verão de 813, os búlgaros infligiram uma gravíssima derrota a Miguel I em Adrianópolis, e o exército proclamou imperador o chefe dos anatólios, Leão V, conhecido como “o Armênio” (775-820).

Quando Leão depôs o patriarca Nicéforo e condenou o culto às imagens, Teodoro assumiu a liderança da resistência contra a iconoclastia.

Teodoro de fato se destacou na História da Igreja não somente como adversário do “Sínodo do adultério”, mas também como um dos grandes defensores das imagens sagradas durante a segunda fase da crise iconoclasta.

Assim, no Domingo de Ramos de 815, foi possível assistir a uma procissão dos mil monges de Studios dentro de seu mosteiro, mas bem visíveis, portando os ícones sagrados e cantando solenes aclamações em sua honra.

A procissão, contudo, provocou a reação da polícia. Entre 815 e 821, Teodoro foi açoitado, preso e exilado em vários lugares da Ásia Menor.

Finalmente pôde voltar a Constantinopla, mas não ao seu próprio mosteiro. Então ele se estabeleceu com seus monges no outro lado do Bósforo, em Prinkipo, onde morreu em 11 de novembro 826.

O “non licet” (Mt 14, 3-11) que São João Batista opôs ao tetrarca Herodes pelo seu adultério, soou várias vezes na História da Igreja.

São Teodoro Studita, um simples religioso que ousou desafiar o poder imperial e as hierarquias eclesiásticas da época, pode ser considerado um dos patronos celestes daqueles que, ainda hoje, em face das ameaças de mudança da prática católica sobre o casamento, têm a coragem de repetir um inflexível non licet.

(Fonte: Corrispondenza Romana, 26 de agosto 2015)

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terça-feira, 22 de agosto de 2023

São Lourenço de Brindisi prometeu a vitória
e ordenou atacar

São Lourenço de Brindisi com crucifixo à mão ordena atacar.
São Lourenço de Brindisi com crucifixo à mão ordena atacar.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




continuação do post anterior: São Lourenço de Brindisi líder vitorioso contra os turcos invasores



O Pe. Rohrbacher continua:

“O frade opinou pelo ataque. E, pela segunda vez, assegurou à assembleia uma vitória completa.”

O que evidentemente transmitia uma certeza carismática.

Ele comunicou coragem, naturalmente.

“Tendo diminuído o temor com essa resposta decidiu-se começar a batalha e os soldados foram colocados em posição.”

Ou seja, foi a palavra dele que determinou isso que, humanamente falando, seria possivelmente ou provavelmente uma temeridade.

“Frei Lourenço, a cavalo, colocou-se na primeira linha revestido de seu hábito religioso.”

Não para combater, porque um sacerdote não derrama sangue mas é para estimular com sua presença. Quer dizer, para levar os outros ao combate, para levar os outros à luta.

São Lourenço de Brindisi, piedoso Doutor da Igreja inflamou os exércitos católicos e os levou à vitória contra os turcos invasores.
São Lourenço de Brindisi, piedoso Doutor da Igreja
inflamou os exércitos católicos
e os levou à vitória contra os turcos invasores.
“Então, elevando um Crucifixo que segurava, voltou-se para as tropas e falou-lhes com tanta força que eles não quiseram mais esperar o ataque dos turcos.”

Isso é um orador! E isso é um orador sacro! Quantas vezes os senhores viram alguém, do alto de um púlpito, falar com esse fogo?

“Lançaram-se contra o inimigo com um valor incrível”.

Isso é o que ensina Dom Chautard  na sua obra “A Alma de todo o Apostolado” aplicado a assuntos militares!

Em outros termos, se é um homem de Deus e se tem verdadeiramente vida interior, sua palavra pega fogo e move montanhas. Mas é preciso ser um homem de Deus! Aqui está a precedência da santidade sobre a vida ativa.

“Os turcos, de seu lado, os receberam com firmeza e o choque foi terrível. O irmão Lourenço foi, num momento, rodeado pelos infiéis”.

Os senhores já imaginaram a coragem de ir cavalgando na frente dos outros e sem armas? E, naturalmente, bradando: Avanço! Avanço!

Que atitude magnífica ver esse Capuchinho a cavalo e incentivando todo mundo para a guerra e continuando os seus sermões por meio de exclamações e, de repente, quase cercado pelos infiéis.

“Mas os coronéis Rossburg e Altaim, correndo para defendê-lo, arrancaram-no do perigo e o conjuraram a retirar-se, dizendo que lá não era seu lugar.

“‘Vós vos enganais’, respondeu-lhes em voz alta. ‘É aqui que eu devo estar. Avancemos, a vitória é nossa’.”

São Lourenço de Brindisi, O.F.M. Cap.,
Doutor da Igreja, estátua em Rovigo, Véneto, Itália.
Os senhores já imaginaram o que é isso? Um santo a cavalo no meio da guerra que grita: Avancemos, avancemos, a vitória é nossa! Com o Crucifixo na mão! Isso é lutar! isso é fazer guerra!

“Os cristãos recomeçaram a carga e o inimigo, tomado de terror, fugiu em todas as direções.”

Não tem comentários…!

“Essa batalha deu-se a 11 de outubro de 1611. Uma segunda batalha teve lugar a 14 do mesmo mês; seguida do mesmo sucesso. Os turcos retiraram-se para além do Danúbio após terem perdido trinta mil homens.

“Não se saberia exprimir os sentimentos de admiração que o irmão Lourenço havia inspirado aos generais e soldados.

“O duque de Mercoeur, que comandava sob o arquiduque, declarou que o santo religioso fizera mais nessa guerra do que todas as tropas juntas.”

É evidente que foi mesmo. E é um homem só. Mas um homem no qual está Deus. Aqui está a questão!

“E, depois de Deus e da Virgem Maria, era a ele que se deveria atribuir as duas vitórias conseguidas. Mais uma vez a Europa livrava-se da barbárie do infiel oriental”.

Os senhores podem imaginar o que seria a História do mundo se essas batalhas tivessem sido perdidas? Se as tropas tivessem chegado até Viena? Se tivessem chegado até Roma?

Com aquele pulular de protestantismo e de heresias por toda a Europa? Não podemos imaginar o que poderia ter sido…

Enfim, isso foi salvo por um homem de Deus que não teve medo de fazer dezoito mil homens derramarem o sangue abundantemente pela causa da Igreja. E o resultado magnífico aí está. Vamos nos recomendar, portanto, a ele.


(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Transcrição de gravação de conferência em 21 de julho de 1966, mantendo o estilo verbal, não revista pelo autor).




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terça-feira, 8 de agosto de 2023

São Lourenço de Brindisi líder vitorioso contra os turcos invasores

São Lourenço de Brindisi enfrenta cimitarra com a Cruz.
São Lourenço de Brindisi enfrenta cimitarra com a Cruz.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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A respeito de São Lourenço de Brindisi (1559-1619) diz o Pe. René François Rohrbacher (1789 – 1856) na sua célebre obra “História Universal da Igreja Católica” o seguinte relativo à reconquista da cidade húngara de Székesfehérvár (Alba Regalis) em 1601:

“O imperador Rodolfo II, conhecendo a habilidade do padre Lourenço, empregou-o num trabalho bem difícil. Maomé III, tendo avançado em direção ao Danúbio, anunciava o projeto de invadir a Hungria.”

Rodolfo dizia de Maomé III que este queria penetrar através do Danúbio e da Hungria e da Áustria até a Itália. E que os cavalos de seu exército comessem no altar de São Pedro como se fosse uma manjedoura.

“Rodolfo organizou um exército e convidou todos os príncipes da Alemanha, tanto católicos quanto protestantes, para unirem-se a ele em defesa da Cristandade.

“Mas, temendo que seu convite não fosse bastante eficaz, enviou-lhes o Padre Lourenço. O sucesso do piedoso Capuchinho foi completo. Todos os socorros pedidos foram enviados rapidamente e o arquiduque Matias foi escolhido como generalíssimo do exército cristão.

“Mas não devia terminar aí a missão do bem-aventurado Lourenço. O Senhor lhe reservava um triunfo de outro gênero.

O sultão Maomé III.
O sultão Maomé III.
“A pedido de Matias, do Núncio e de numerosos príncipes confederados, o Papa ordenou-lhe de se unir ao exército a fim de contribuir para o sucesso da campanha com seus conselhos e com suas preces. Ele obedeceu sem resistência. Logo que chegou, postou-se diante dele o exército em ordem de batalha”.

Os senhores precisam imaginar a beleza dessa cena: ele era um Capuchinho, de aspeto venerável e que comparecia então às cortes da Europa central, algumas delas bastante pomposas, para pregar essa nova Cruzada.

É preciso se por em mente os trajes pomposos da época, o fausto das salas, de todo o ambiente e a majestade do Capuchinho que entra com suas sandálias, com seu burel, com seu rosário, com sua longa barba, com seu bastão de viandante, não tendo outra coisa para se impor a não ser a carência de tudo aquilo por onde os outros se impunham, mas com a missão de Nosso Senhor e a grandeza da pobreza franciscana.

Falando então como enviado do Papa e enviado de Deus, tratando de cima para baixo com os maiores da Terra e ouvido como tal… dentro de toda a sua pobreza. Isso é que é compreender e amar!

Depois dele conseguir que os príncipes mandassem numerosas forças, é enviado como a alma do exército, que deve dar os conselhos, orientar a luta etc. Temos, então, essa cena magnífica descrita:

“O santo, logo que ele chegou ao exército, o exército em [formação de] batalha, postou-se diante dele.”

Os senhores podem imaginar a beleza do quadro. Um exército com cavalaria, com couraças, com armas reluzentes, com todos aqueles homens, com aqueles chapéus de plumas, com canhões que os senhores podem ver em gravuras, todos eles de bronze e trabalhados, naquela época da arte e de grande estilo.

A batalha ainda com qualquer coisa de cavalheiresco. Chega o velho Capuchinho e o exército todo se posta diante dele em atitude de batalha: é um acontecimento!

Isso é que é o esplendor da era constantiniana, que já não se conhece hoje, mas nem de longe! Entretanto, ela é a refulgência da glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“O santo religioso, a cruz na mão, falou aos soldados e assegurou-lhes uma vitória certa”.

“Em seguida, preparou-os para o combate pela prece e pela penitência.”

São Lourenço de Brindisi, O.F.M.Cap. doutor da Igreja
pregador ardoroso contra os turcos invasores
Vimos isso a respeito da vitória de Lepanto também: preparar para a luta não é valendo-se de comedorias, mas é preparar pela penitência e pela oração. Assim é que o homem se torna verdadeiramente lutador.

“No dia da luta o chefe dos turcos apresentou oitenta mil homens em ordem de batalha. O general cristão tinha somente dezoito mil.”

Os senhores estão vendo a desproporção.

“Tocados com essa diferença, alguns oficiais do Imperador, mesmo dos mais intrépidos, aconselharam agir com prudência e retirar-se para o interior do país.”

É a teoria do “ceder não perder”: por toda parte há gente que tem esse tipo de “prudência”. São os que enterram todas as causas boas.

“O arquiduque, tendo chamado Frei Lourenço ao conselho, fê-lo tomar conhecimento da deliberação”.

Os senhores imaginem o conselho de guerra reunido, interpretando a situação do ponto de vista militar, do qual talvez houvesse razões para achar que era o caso de se retirar. Mas chama-se o homem de Deus.

Então, podemos imaginar a tenda do arquiduque Matias com tudo quanto podia haver de magnífico na tenda de um arquiduque generalíssimo de exército: guardas do lado de fora, mesa de conselho…

Chega lá o Capuchinho, leigo em matéria militar, e que vai dar sua opinião, que é acatada como de um homem de Deus. Porque os homens de Deus já eram raros, mas ainda eram profundamente ouvidos.


continua no próximo post: Quando São Lourenço de Brindisi prometeu a vitória e ordenou atacar


(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Transcrição de gravação de conferência em 21 de julho de 1966, mantendo o estilo verbal, não revista pelo autor).




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