terça-feira, 15 de outubro de 2024

A Primeira Comunhão e a morte de Vivien

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




O poema “La Chanson de Guillaume” gira em torno de uma batalha desenvolvida por Guilherme do Nariz Curvo contra os sarracenos de Deramé, na planície de Larchamp.

Vivien atira-se à luta acompanhado de seu primo Girart. A batalha é calorosa e os franceses são dizimados.

Ao cair da tarde, Vivien envia Girart a pedir ajuda a Guilherme.

O conde Vivien perdeu 10 homens, dos 20 que lhe restavam. Os outros perguntaram:

— Que faremos na batalha, amigos?

Disse Vivien:

— Em nome de Deus, senhores, escutai-me. Enviei Girart levando uma mensagem. Hoje mesmo vereis Guilherme ou Luís, o piedoso. Com um ou outro venceremos os árabes.

— Avante, pois, valoroso marquês — responderam eles.

E ei-los que marcham contra o inimigo.

Os pagãos colocaram Vivien em grande perigo. De seus 10 homens, não deixam um só vivo.

É Segunda-feira à noite, e ele fica só na peleja. Tendo permanecido só, com seu escudo, ele os atormenta com cutiladas repetidas. Com sua espada, ele abate uma centena.

— Não chegaremos ao final — diziam os pagãos — enquanto deixarmos seu cavalo vivo debaixo dele.

Eles o perseguem através dos montes e vales, como o caçador acua um animal selvagem. Um grupo o surpreende no meio de um pequeno vale.

Atiram sobre ele flechas e dardos agudos, que se enterram no corpo de seu cavalo. Um bárbaro, montado em rápido cavalo, avança pelo meio do vale.

Três vezes ele brandiu a lança que tem na mão direita, e numa quarta vez a lançou. O projétil se enterra no lado esquerdo da cota de malhas, fazendo saltar 30 escamas.

Vivien recebe no corpo uma grave ferida, e sua insígnia branca lhe escapa das mãos. Jamais ele a reerguerá.

Ele coloca a mão atrás de si, sente a haste e extrai o dardo de seu corpo. Ele atinge o pagão nas costas e lhe enterra o ferro nos rins. De um só golpe ele o faz cair morto.

— Adeus, patife! Bérbere perverso! — brada o jovem Vivien — Não retornarás mais a teu país, e jamais te vangloriarás de ter matado um nobre de Luís.

Depois ele tira sua espada e retorna a combater. Quando ele golpeia as cotas de malha e os elmos, seus golpes os abatem até o chão.

— Santa Maria, Virgem Mãe e Donzela, enviai-me Luís ou Guilherme. Deus, Rei da glória, a quem devo a vida, vós que nascestes da Virgem Maria e cujo corpo foi criado em união com as Três Pessoas; vós que pelos pecadores sofrestes sobre a Cruz; que fizestes o céu e as estrelas, a terra e o mar, o sol e a lua, Eva e Adão para povoar o mundo, tão verdadeiramente como sois o verdadeiro Deus, impedi-me de ser tentado a recuar um só passo.

Antes, que eu perca a vida. Fazei que eu observe meu voto até a morte, e que, graças à vossa bondade, não o atraiçoe.

Santa Maria, Mãe de Deus, tão verdadeiramente que carregais Deus como vosso filho, protegei-me, por vossa santa piedade, para que os vilões sarracenos não me matem.


Logo que pronunciou essas palavras, se arrependeu:

— Tive um pensamento tolo, querendo evitar a morte. Nosso Senhor não agiu assim, Ele que sofreu, por nossa Redenção, a morte dos crucificados.

Não devo, Senhor, pedir um adiamento da morte, posto que Vós mesmo não quisestes isso. Enviai-me Guilherme de Nariz Curvo ou Luís, que governa a França. Graças a ele nós obteremos a vitória.

O calor era forte, como em maio, durante o outono. Os dias eram longos, e ele jejuava havia três dias. Sofria os tormentos da fome e da sede.

O sangue claro escorria de sua boca e da chaga que tinha ao lado esquerdo. Não havia água nas proximidades; a menos de quinze léguas, não conseguiria encontrar nem riacho nem fonte; não havia senão água salgada, das ondas marinhas.

No entanto, no meio da planície corre um vale com água lamacenta, brotada de uma rocha à beira-mar, que os sarracenos turvaram com seus cavalos. Está suja de sangue e de miolos.

O bravo Vivien corre para lá e, inclinando-se, toma a contragosto aquela água salobra.

Os inimigos fazem chover sobre ele os golpes de lança, mas a cota é sólida e lhe protege o busto. Somente suas pernas e seus braços recebem mais de vinte ferimentos.

Ele então se reergue, como um javali feroz, e tira a espada que lhe pende ao lado.

Defende-se com coragem, mas os outros o atormentam como os cães a um javali.

A água salobra que ele bebeu, e que não pode reter, lhe sai pela boca e pelo nariz.

Ele sofre tanto, que sua vista se turva e ele perde a direção. Para acabar com sua bravura, os pagãos o cercam mais de perto.

Os inimigos o cobrem de golpes de lança e flechas de aço, por todas as partes.

Elas se cravam em seu escudo, tão numerosas que o conde não o pode manter à altura de sua cabeça, e o deixa escorregar para os pés.

Lançando setas agudas, dardos e ferros, os inimigos despedaçam a cota do conde. O aço cortante fende o ferro leve de seu peito coberto de malha. Suas entranhas saem para fora.

Como ele sente que seu fim está próximo, roga a Deus misericórdia.

Vivien caminha através da planície, arrastando suas entranhas entre seus pés e segurando-as com a mão esquerda.

Seu elmo afunda até a altura do nariz. Em sua mão direita ele segura uma lâmina de aço, vermelha da copa à ponta e até à bainha ensanguentada.

Já atormentado pela agonia da morte, ele caminha sustentado por sua espada. Pede com fervor a Jesus Todo-Poderoso de lhe enviar Guilherme, o bom francês, ou o Rei Luís, valente guerreiro.

— Verdadeiro Deus de glória, unido em Trindade, Tu que nasceste da Virgem Maria e foste criado em união com as Três Pessoas, Tu que foste crucificado pelos pecadores, defende-me, ó Pai!

Por tua santa bondade, para que eu não seja tentado a recuar um passo sequer na batalha, envia-me, Senhor, Guilherme do Nariz Curvo, porque ele sabe dirigir uma batalha. Deus, nosso Pai, Rei glorioso e forte, que jamais me venha a ideia de recuar um passo por medo da morte.

Um bérbere, vindo pelo pequeno vale e dando galope a seu cavalo rápido, fere na cabeça o nobre barão, com uma lança de aço que leva na mão direita, e seus miolos se espalham pela grama.

Vivien cai de joelhos. É uma grande perda a morte de um tal homem!

Os pagãos, surgindo de todas as partes, fazem em pedaços o seu cadáver. Eles o levam e o colocam sob uma árvore, ao longo do caminho, para que os católicos não o achem mais.

No campo de Aliscans, o exército cristão, comandado por Guilherme d’Orange — Guilherme do Nariz Curvo — tinha sido derrotado pelos sarracenos. Podiam-se contar apenas quatorze sobreviventes.

Próximo a uma fonte, em um prado, jazia um jovem, quase menino, que apesar disto era um guerreiro que nunca havia recuado. Tratava-se de Vivien, sobrinho de Guilherme, a quem ele amava como a um filho.

Percorrendo o campo de batalha, Guilherme reconhece Vivien e o crê morto, mas este faz um leve movimento.

Docemente o nobre duque se inclina e lhe murmura ao ouvido:

— Tu não gostarias de comungar Nosso Senhor Eucarístico? — e lhe mostrou uma Hóstia consagrada. — Porém é preciso que faças tua confissão.

— Eu quero muito — responde uma voz fraca — mas apressai-vos; eu vou morrer. Tenho fome deste Pão. Eis minha confissão: Não me recordo de uma só falta, a não ser que eu tinha feito o voto de jamais recuar um passo diante dos pagãos, e tenho muito medo de haver hoje faltado com a promessa feita ao bom Deus.

Guilherme do Nariz Curvo tira a Hóstia de uma teca que trazia ao peito, e a aproxima dos lábios entreabertos de Vivien, cujos olhos se iluminam.

A morte lhe desceu ao coração, quando acabou de fazer sua primeira comunhão.


(Fonte: “La Chanson de Guillaume” – “Extraits des Chansons de Geste” - Larousse, 1960, pp. 53; Funck-Brentano, “Féodalité et Chevalerie”)



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terça-feira, 1 de outubro de 2024

A rainha Isabel, a Católica, faz Cruzada contra os mouros

Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Encenação cinematográfica do rei mouro Boabdil.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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continuação do post anterior: Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada


A cruzada contra os infiéis maometanos

Um dos maiores empenhos que Isabel teve em seu reinado foi mover a guerra santa contra o invasor muçulmano.

Para esse empreendimento, obteve do Papa as mesmas indulgências de Cruzada concedidas aos que iam lutar na Terra Santa, tendo o Sumo Pontífice lhe enviado uma cruz de prata para ir à frente de seus exércitos.

Nas várias campanhas que encetou, e sobretudo na reconquista de Granada, Isabel arrebatava seus soldados por sua energia sobre-humana, senso do dever e espírito sobrenatural.

Estes “criam que ela era uma santa. Como Santa Joana d’Arc, sempre lhes recomendava viver honestamente e falar bem. Não havia nem blasfêmias nem obscenidades no acampamento onde ela se achava, e viam-se curtidos soldados ajoelhar-se para rezar, enquanto se celebrava a missa ao ar livre por ordem da piedosa rainha”.(7)

A presença da soberana era para os guerreiros como uma garantia de vitória, pois lhes inspirava valor e confiança. Até os mouros admiravam a grande rainha, cantando sua bondade e beleza em suas canções, apesar de a temerem como inimiga.

Enquanto Fernando, um dos melhores guerreiros de sua época, comandava o exército, a rainha cuidava de toda a retaguarda, como recrutamento de reforços, envio de alimentos e munições, bem como projetava os hospitais — foi ela quem instituiu o primeiro hospital militar da História, e suas enfermeiras precederam as da Cruz Vermelha em mais de trezentos anos.

Cavalgava de um lugar a outro, indo mesmo aos acampamentos revestida de leve armadura de aço, para elevar o moral dos soldados. Mas essa rainha guerreira fazia questão de ela mesma costurar a roupa de seu marido, nunca usando o monarca outras senão as confeccionadas pelas hábeis mãos de Isabel ou de suas filhas.

Título glorioso de “Reis Católicos”

Um fato mostra a têmpera dessa rainha. No cerco de Granada, uma vela mal colocada ateou fogo na tenda ao lado da rainha, e desta propagou-se para todo o acampamento, que foi tomado pelas chamas. Os mouros, das muralhas, cantavam vitória.

O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo. Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
O rei muçulmano Boabdil entrega as chaves de Granada à rainha e ao rei Fernando de Aragão, seu esposo.
Francisco Pradilla y Ortiz (1848–1921).
Mas a enérgica soberana, para mostrar sua determinação de conquistar a cidade, mandou edificar novo acampamento de pedra, surgindo assim uma verdadeira cidade à qual deu o nome de Santa Fé. Foi de lá que partiram as investidas contra Granada, obtendo-se sua capitulação.

O Papa Alexandre VI concedeu ao real casal, por seus serviços em prol da Cristandade, o título de Reis Católicos, em harmonia com o de Rei Cristianíssimo, concedido anteriormente ao monarca francês.

A política matrimonial que seguiram os Reis Católicos teve como intuito isolar a França, sua grande rival na época. Mas não tiveram felicidade com seus filhos.

A primogênita, também chamada Isabel, casou-se com o jovem príncipe português Afonso e, ao enviuvar precocemente, contraiu matrimônio com o seu herdeiro Dom Manuel, o Venturoso.

O príncipe João casar-se-ia com Margarida de Áustria, filha do Imperador Maximiliano I, mas morreria jovem. Joana, que entrará para a História como Joana a Louca, contraiu matrimônio com Felipe de Áustria, o Formoso, e tornou-se herdeira do trono que passou para seu filho, o futuro Carlos V.

Maria casa-se com seu cunhado, o viúvo Dom Manuel, e Catarina será a desafortunada esposa do lúbrico Henrique VIII, da Inglaterra.

“O bom governo dos soberanos católicos levou a prosperidade da Espanha ao seu apogeu e inaugurou a Idade de Ouro do país”.(8)

Três meses após a conquista de Granada, Isabel assinou uma ordem de expulsão dos judeus de seus territórios; e favoreceu a empresa de Cristóvão Colombo, que descobriria assim a América.

A morte de Isabel a Católica. Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte de Isabel a Católica.
Eduardo Rosales, Museu Nacional del Prado, Madri.
A morte desta grande rainha foi muito lamentada pelos seus contemporâneos. Um deles deixou este depoimento:

“O mundo perdeu seu adorno mais nobre; uma perda que deve chorar não somente a Espanha, que ela já não levará mais no caminho da glória, mas todas as nações da Cristandade, porque ela era o espelho de todas as virtudes, o amparo do inocente e o sabre vingador do culpado.

“Não conheço ninguém de seu sexo, nos tempos antigos nem nos modernos, que, a meu juízo, possa equiparar-se com esta mulher incomparável”.(9)

Notas:
1. Luis Amador Sanchez, Isabel, a Católica, tradução de Mario Donato, Empresa Gráfica O Cruzeiro S. A., Rio de Janeiro, 1945, p. 55.
2. William Thomas Walsh, Isabel de España, tradução castelhana de Alberto de Mestas, Cultura Española, 1938, p. 49.
3. Ramón Ruiz Amado, DO, The Catholic Encyclopedia, Vol. VIII, transcrito por WGKofron, copyright © 1910 de Robert Appleton Company, online edition copyright © 1999 by Kevin Knight. 4. Id. ibid.
5. William Thomas Walsh, op.cit., p. 171.
6. (Site: www.artehistoria.com, Protagonistas de la História, Isabel la Católica.)
7. Walsh, op.cit., p. 160.
8. The Catholic Encyclopedia, online edition.
9. Carta de Pedro Mártir, um dos secretários da rainha, comunicando a morte de Isabel ao Arcebispo Talavera, in William Thomas Walsh, Isabel de España, p. 599.

(Fonte: revista "Catolicismo" nº 643, julho de 2004.




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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada

A rainha Isabel a Católica
A rainha Isabel a Católica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Muito foi escrito sobre esta soberana cujo processo de canonização está em andamento.

Seguem algumas pinceladas de sua extraordinária existência, ressaltando do seu aspecto guerreiro e espírito de cruzada, o que é possível transmitir num simples artigo.

Filha de João II, Rei de Castela, e sua segunda esposa, nasceu Isabel a 22 de abril de 1451 na pequena cidade de Madrigal das Altas Torres.

Aquela que seria a última mulher cruzada descendia, tanto pelo lado paterno quanto pelo materno, de dois reis santos e cruzados: São Luís IX, da França, e seu primo São Fernando III, de Castela.

Falecendo o pai quando sua idade era pouco mais de três anos, foi educada piedosamente pela mãe, juntamente com seu irmão menor Afonso.

“Bordava telas e casulas, costurava roupas para os pobres, aprendia a fiar como as mulheres do povo. Tecia sedas, urdia e confeccionava tapetes com assombrosa habilidade”.(1)

Aos 11 anos foi levada com Afonso por Henrique IV, seu meio-irmão, para a corte castelhana, considerada então a mais corrompida da Europa.

Na corte castelhana, dois partidos em disputa

Na corte castelhana, “a princesinha estudava música, pintura, poesia, costura e gramática. Cada dia passava muito tempo em oração pedindo a Deus que os guardasse, a ela e a Afonso, livres de todo pecado; e especialmente invocava a Bem-aventurada Virgem, São João Evangelista e o apóstolo São Tiago, patrono de Castela”.(2)

Pela fraqueza dos reis castelhanos, “nesse período [os nobres] tinham chegado ao ponto de despojar completamente o trono de sua autoridade.

Aproveitavam-se da incrível imbecilidade de Henrique IV e das escandalosas relações entre Joana de Portugal, sua segunda mulher, e seu favorito Beltran de la Cueva”,(3) a quem atribuíam a paternidade da infanta Joana, por isso cognominada la Beltraneja.

Com a chegada dos jovens príncipes, formaram-se logo na corte dois partidos: um que defendia a legitimidade destes ao trono, e outro que defendia a da Beltraneja.

O primeiro partido tornou-se tão poderoso, que obteve do fraco rei que reconhecesse Afonso e Isabel como seus legítimos herdeiros.

Falecendo o príncipe Afonso, o partido de Isabel quis aclamá-la rainha no lugar de Henrique IV.

“Nessa ocasião, Isabel deu uma das primeiras provas de suas grandes qualidades, recusando a coroa usurpada que lhe era oferecida, e declarando que nunca, enquanto seu irmão vivesse, aceitaria ela o título de rainha”.(4)

Aos 18 anos, Isabel casou-se secretamente com o herdeiro da coroa de Aragão, o príncipe D. Fernando, para evitar as tratativas que seu irmão fazia para casá-la com outro pretendente.

Assume as rédeas do governo e reconstrói o país

Isabel assumiu o governo aos 23 anos, à morte de Henrique IV. Com sua energia, e acompanhada de seu marido Fernando, foi obtendo a adesão de cada cidade para sua causa.

A rainha de Castela, Isabel a Católica, anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500), Colección Generalife
A rainha de Castela, Isabel a Católica,
anônimo atribuído a Antonio del Rincón (1466-1500),
Colección Generalife
Mas o Rei de Portugal, Afonso V, querendo assenhorear-se de Castela, entrou no país para casar-se com a Beltraneja, a qual, afirmava ele, era a legítima herdeira do trono.

Vários potentados castelhanos tomaram seu partido, aliando-se a ele. A alternativa para Isabel era ceder, ou então guerrear. E ela não cedia num ponto em que julgava estar inteiramente com a razão.

Assim, apesar de estar esperando um segundo filho, pôs a cota de malhas e, a cavalo, foi recrutando gente em todas as suas cidades, enquanto Fernando fazia o mesmo em Aragão.

Habilíssimo general e grande estrategista, Fernando obteve retumbante vitória sobre o soberano português, consolidando assim Isabel no trono.

Triste foi a herança que recebeu Isabel de seu fraco e imoral meio-irmão.

“As indústrias quebravam, a moeda andava escassa, centenas de cidades desafiavam sua autoridade sob o mando de prefeitos que se criam reis delas, o povo morria de fome e de epidemias. A Igreja necessitava de reforma, o governo existia só de nome, e por todas as partes os camponeses estavam oprimidos por bandos de ladrões”.(5)

Os jovens soberanos entregaram-se com energia à tarefa de reconstruir o país. Começaram a reprimir severamente os abusos e aplicar a justiça contra quem quer que fosse.

Fizeram reviver, para isso, a Santa Irmandade, força de voluntários que servia de polícia local, com jurisdição sobre assassinatos, atos de violência, rapina, atentados a mulheres e desobediência às leis e aos magistrados.

Isabel obteve do Papa a instauração da Santa Inquisição em Castela para pôr fim aos abusos, na esfera religiosa, principalmente de cristãos-novos (judeus convertidos), muitos dos quais tinham fé duvidosa e utilizavam a usura para pressionar os cristãos.

Isabel era muito ciosa de sua autoridade como rainha. Por isso, em 1475 firmou com seu esposo o acordo denominado Concórdia de Segóvia, pelo qual recebeu o título de Rainha e proprietária de Castela, e seu esposo o de rei consorte.

“Desde esse momento os esposos formam um bloco impossível de dividir, e com essa firmeza podem fazer frente ao estalido da guerra”.(6)



(Fonte: revista "Catolicismo" nº 643, julho de 2004.




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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Brian Boru, rei herói da Irlanda


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Brian Bórumha mac Cennétig (Brian filho de Kennedy), conhecido em inglês como Brian Boru (941 — 23 de Abril de 1014) nasceu perto de Killaloe, no moderno condado de Clare, na Irlanda.

Brian Boru em gaélico significa o dos tributos, pois tributou outros governantes menores da Irlanda para reconstruir os mosteiros e as bibliotecas destruídas pelas invasões dos Vikings.

Tornou-se rei de Munster em 976 e em 1002 ganhou o título de Grande Rei de toda a Irlanda (em inglês High King of All Ireland e em irlandês Árd Righ Gaidel Éirinn).

Brian Boru provavlmente,
Capela Real do castelo de Dublin
Nos registos eclesiásticos, além de Rei da Irlanda, é tratado de Imperador dos Escotos (Rex Hiberniæ et Imperator Scottorum, em latim).

Harpa que teria pertencido a Brian Boru,
Trinity College, Universidade de Dublin
Brian Boru morreu numa Sexta-feira Santa, 23 de Abril de 1014, durante a batalha de Clontarf, lutando contra os Vikings pagãos.

Sem o seu heroico líder, a Irlanda caiu no caos e na anarquia dinástica, e nunca mais voltou a ficar unida sob o domínio de um irlandês.

No entanto, a sua fama continuou a ser tão grande que os seus descendentes, os O’Briens, tornaram-se subsequentemente uma das principais famílias do país.

Ainda hoje o símbolo nacional da Irlanda é a Harpa de Brian Boru, conservada no Trinity College de Dublin, e que se diz ter pertencido ao soberano irlandês.


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