terça-feira, 15 de junho de 2021

São Leão IX: Deus não abandona quem luta com coragem

São Leão IX, Eguisheim
São Leão IX, Eguisheim
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Eis uma ficha bem-feita, mas de uma biografia não bem-feita, de um grande Papa da Idade Média: São Leão IX, Papa.

“São Leão IX nasceu no ano de 1002 nos confins da Alsácia. Seu pai era conde Eguisheim e primo-irmão do Imperador Conrado, o Sálico. Sua mãe lhe deu o nome de Bruno.

“Quando atingiu idade de 5 anos foi confiado, pelos pais, à educação do venerável Bispo de Toul, Bertoldo, que dirigia então uma escola no próprio palácio episcopal”.

“Bruno foi confiado particularmente, no colégio, a um seu primo, chamado Aderico, que era filho do príncipe de Luxemburgo. Os dois se tomaram de uma íntima amizade.

“Esse filho do príncipe de Luxemburgo era modelo de todas as virtudes e serviu extraordinariamente para formar Bruno”.

Começa com uma pequena mas rica nota medieval, patriarcal: uma escola episcopal funcionando no palácio do Bispo, e dirigida por ele.

As pessoas da Idade Média, da mais alta categoria social, e de virtude extraordinária faziam uma aliança entre a grandeza terrena e o serviço de Deus inteiramente diverso de nossa época.

Na nossa época quanto mais se sobe, mais as pessoas estão ao serviço da Revolução.

“O bispo de Toul lhe conferiu as sagradas ordens e pouco depois Bruno foi ser clérigo na capela imperial do palácio do Imperador Conrado, o Sálico”.

Todos os imperadores tinham um conjunto de capelães que asseguravam o culto na capela pessoal do Imperador.

Era, uma situação de alta confiança, porque dava oportunidade de contato com o Imperador.

O imperador tinha como elemento central de sua vida e de sua corte o Ofício Divino: a Missa, o Ofício etc.

Por quê?

Por causa da convicção profunda de que a Igreja Católica é o centro de todas as coisas.

Portanto, na Corte imperial o elemento central tinha que ser a capela, onde está o Rei dos reis.

Quer dizer, o Santíssimo Sacramento, realmente presente Nosso Senhor Jesus Cristo. Onde se cultua Nossa Senhora com o culto de hiperdulia etc.

Tão diferente também dos grandes da terra hoje em dia, tão laicos, tão separados de tudo quanto é verdadeiro.

“Nessa capela Bruno é imediatamente bem-visto pelo Imperador, que se impressiona com as virtudes dele e começa a tratá-lo de ‘meu sobrinho’.”

Era uma honra extraordinária nas Cortes antigas ser tratado de primo ou de sobrinho do rei.

Ele de fato era parente do rei, mas não num grau tão próximo. Era filho de primos do rei e não filho de irmãos. Não era sobrinho.

O imperador tratando-o de sobrinho como que o elevava à categoria de príncipe da Casa Imperial. E a razão dessa honraria era a virtude dele.

A Idade Média uma época em que a posse do estado de graça na maior parte das pessoas criava um ambiente onde a virtude era bem-vista.

Não era um título para perseguição, mas era um título para ascensão, para exercer sua influência.

Ao contrário de hoje em dia, em que a virtude atrai toda espécie de ódios e cerceia a influência que a pessoa quer exercer.

“Algum tempo depois, no ano de 1026, o Imperador recebeu a visita de clérigos da diocese de Toul, de onde tinha sido originário Bruno, anunciando-lhe que o Bispo tinha morrido e que a população inteira pedia para ser designado, para a diocese vaga, a Bruno.

“Conrado cedeu, se bem que Bruno não tivesse ainda a idade canônica”.

A nomeação de um bispo nunca deixou de ser privilégio exclusivo do Papa. Mas o Papa pode receber indicações, que ele é livre de aceitar ou recusar, para tal ou tal diocese.

Na Idade Média se estabeleceu com frequência que o povo da diocese podia propor um nome para o Papa aceitar ou não.

No Sacro Império, os imperadores tomaram hábito também de proporem bispos ao papa.

Então, o povo propunha ao imperador um nome e este, se estava de acordo, propunha ao Papa; se o papa estava de acordo, nomeava Bispo.

O imperador aceitou que Bruno fosse indicado e de fato, ele foi nomeado Bispo pela Santa Sé embora ele não tivesse a idade suficiente.

“Ele se destacou pela capacidade e virtude com que ele dirigia a diocese.

“Durante 22 anos Bruno governou pacificamente e com brilho a Diocese de Toul. No ano de 1048 morreu o para Dâmaso II e os romanos mandaram uma deputação ao imperador Henrique III para lhe pedir para designar um novo papa.

“Henrique III reuniu, para esse efeito, uma Dieta em Worms, em que participavam todos os bispos do Império. Todas as vozes designaram Bruno, Bispo de Toul. Mas ele não queria ser papa de nenhum modo, por humildade e pediu alguns dias para refletir”.

“Terminado o prazo, diante de toda a Dieta de Worms disse que ia fazer uma confissão pública de eus pecados, para perceberem como ele não merecia ser papa. Ajoelhou-se e fez a confissão pública”.

A confissão mal dava para um pecado venial. Quando ele terminou, todos se levantaram e o aclamaram. Um bispo que tinha uma tal limpeza de consciência, apenas podia ser ele ser o Papa.

Então, ele levantou um problema muito sério: o imperador não tem o direito de nomear papa.

O papa só pode ser eleito pelo clero de Roma, na forma canônica, ouvido, quando queria, o povo de Roma. Então, ele iria a Roma e iria consultar se o clero e o povo o queriam como papa. Tomou o traje de peregrino, e foi de Worms a Roma, a pé.

É extraordinário! Porque tem a passagem dos Alpes, com neves eternas, montanhas escarpadíssimas, estradas que são caminhos de cabras. Ele fez como penitente e foi a pé até Roma.

São Leão IX, imagem em Eguisheim
São Leão IX, imagem em Eguisheim
“Mas esperava chegar como um peregrino desconhecido, quando chegou nas cercanias de Roma encontrou a cidade toda que tinha saído...”

“Ele entrou em Roma sem dar atenção para ninguém, e foi direto ao túmulo de São Pedro e rezou.

“O povo de Roma quis entronizá-lo aclamando-o; ele disse para pensarem ainda. Afinal de contas, o povo estava de tal maneira resolvido, que ele foi entronizado na Sé Romana”.

Comparem isso com as intrigas, as encrencas, as políticas que vieram depois. Aí temos o dinamismo oposto, o que faz tocar com a mão como é praticável que o estado de graça seja abundante em determinada época, ocasionando gestos extraordinários.

“Ele tomou por inspiração divina, o título de Leão, considerando que devia à testa da Igreja, lutar como um verdadeiro leão. E mal se entronizou, começou a lutar contra os verdadeiros inimigos da Igreja”.

Ora, quem São Leão IX considerava os verdadeiros inimigos da Igreja? Era a maior parte dos Bispos e dos padres no tempo.

O abuso péssimo chamado simonia, quer dizer, homens vorazes de cargos lucrativos que pagavam o povo ou ao imperador para serem eleitos bispos; ou um filho, um primo, um sobrinho, financeira e politicamente ligado a eles.

Às vezes subornavam os cardeais, ou o povo para elegerem um papa. E comprava-se até a tiara romana.

Esse processo trazia os piores inconvenientes porque bispos e padres desavergonhados davam um escândalo geral na Cristandade, e um amolecimento dos católicos diante das investidas dos pagãos.



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