domingo, 18 de janeiro de 2015

Godofredo de Bouillon: “não posso ser coroado de ouro, onde Nosso Senhor foi coroado de espinhos” (1)

Estátua de Godofredo de Bouillon em Insbruck. Fundo: Porta de Damasco em Jerusalém
Estátua de Godofredo de Bouillon em Insbruck. Fundo: Porta de Damasco em Jerusalém

Alguns grandes homens deixam após si uma legenda que os rodeia com uma luz especial, arquetipizando seus feitos e suas glórias.

Um desses foi Godofredo de Bouillon, o conquistador e fundador do Reino Latino de Jerusalém.

“A legenda logo se apoderou deste possante e terno senhor do país valão para torná-lo o arquétipo do cruzado”.(1)

Após sua morte, tornou-se herói de canções de gesta, como o tinham sido antes dele o famoso Carlos Magno e Roland.

Filho de Eustáquio, conde de Boulogne, e de Ida, filha de Godofredo o Barbudo, duque da Baixa Lorena e de Bouillon, Godofredo pertencia a uma antiga família que alegava ter Carlos Magno entre seus ancestrais.


Ele era “geralmente estimado, reto, valoroso, manso, casto, devoto, humano, de formoso aspecto e elevada estatura, cabelos ruivos”,(2) e “é retratado como o perfeito tipo do cavaleiro cristão.

Alto de estatura, com um porte agradável e com uma maneira tão cortês, ‘que parecia mais um monge do que um guerreiro’”.(3) Era “tido por tão bom guerreiro quanto fervoroso cristão”. (4)

Sua força era proverbial. Narram as crônicas que, com um só golpe de espada, ele partiu um guerreiro árabe de alto abaixo, em duas partes iguais.(5)

Godofredo, o Cruzado: início da epopéia

Estátua de Godofredo. No fundo: castelo de Bouillon
Estátua de Godofredo. No fundo: castelo de Bouillon
À morte do tio Godofredo III, o Corcunda, em 1076, dele herdou o condado de Verdun e a Marca de Anvers. Mais tarde, em 1089, o Imperador Henrique IV cedeu-lhe em vassalagem o Ducado da Baixa Lorena.

Godofredo seguiu o Imperador, tornado seu suserano, na Guerra das Investiduras e em sua expedição italiana contra o Papa São Gregório VII, entrando em Roma em 1084.

Segundo alguns, para expiar esse pecado, Godofredo foi dos primeiros a tomar a cruz por ocasião do apelo do papa Urbano II, em 1096, juntamente com seus dois irmãos, Balduíno e Eustáquio.

Para financiar sua campanha, ele vendeu ou empenhou vários de seus estados, reunindo, com seus irmãos, 80 mil guerreiros. Seu exército era composto em sua maioria de valões e flamengos.

Como ele falava correntemente ambas as línguas, por ter nascido na fronteira dessas duas nações, servia de árbitro entre as querelas nacionalistas desses povos.

Os vários príncipes cruzados seguiram, com seus respectivos exércitos, diferentes percursos para a Terra Santa, combinando reunir-se em Constantinopla.

Godofredo e os franceses do norte seguiram seu caminho com severa disciplina, pela Alemanha, Hungria e Bulgária, chegando às portas da capital do Império do Oriente.

Brado “Deus o quer”– vitória de Godofredo

Quando Boemundo, príncipe de Tarento, convidou Godofredo a unirem seus exércitos para atacar o Imperador bizantino Aleixo, “Godofredo, que era demasiado honrado, não quis lutar contra cristãos, e temeu esgotar as forças de seu exército antes de enfrentar os infiéis”.(6)

Depois de muitas negociações, Godofredo prestou juramento de fidelidade a Aleixo, embora com restrições, e levou outros a fazê-lo. Mas alguns príncipes recusaram-se a prestar o juramento, pois os francos menosprezavam os gregos.

A Sagrada Lança, hoje conservada na Sainte Chapelle de Paris
A Sagrada Lança, hoje conservada na Sainte Chapelle de Paris
Em 1097 deu-se o cerco de Nicéia, afirmando alguns que nele Godofredo não teve qualquer destaque especial;(7) e outros, que foi “só quando a divisão comandada por Godofredo se acercou, com o clamor do trovão ‘Deus o quer!’, que se decidiu a renhida batalha em favor dos cristãos”.(8)

Os cruzados tomaram depois Edessa, formando um principado do qual Balduíno, irmão de Godofredo, se tornou o senhor, derrotando os turcos de várias fortalezas.

O encontro da lança de Longinus

Durante o cerco de Antioquia, com o inverno vieram as chuvas e as enfermidades, atingindo homens e animais. O exército cruzado ficou reduzido à metade. A primavera trouxe uma melhora.

Sobretudo devido a reforços vindos por mar, os cruzados conquistaram afinal a cidade. Por pouco tempo, pois três dias depois os turcos voltaram com mais de 200 mil homens e cercaram Antioquia. A fome e a doença abateram-se novamente sobre os sitiados.

Foi quando um sacerdote da Provença, Pedro Bartolomeu, anunciou que Nosso Senhor lhe havia aparecido em sonhos e revelado onde estava enterrada a lança que atravessara seu peito adorável.

Com efeito, junto ao altar da igreja de São Pedro encontraram uma lança.(9) Esse fato sobrenatural deu novo ânimo aos cristãos que, tomados de entusiasmo, caíram sobre os muçulmanos, apesar da desproporção numérica.

Alguns afirmaram ter visto São Jorge conduzindo a batalha. Com a vitória, Boemundo estabeleceu-se como senhor de Antioquia.

O mesmo impulso poderia ter levado imediatamente à conquista da Cidade Santa. Mas o cansaço, a falta de cavalos, e sobretudo a contenda entre os príncipes cristãos, além de outra peste devastadora que ceifou a vida de 50 mil soldados, diminuíram em muito o número de cruzados que se dirigiram a Jerusalém.

continua no próximo post: Godofredo de Bouillon: “Defensor do Santo Sepulcro”


GLÓRIA CRUZADAS CASTELOS CATEDRAIS ORAÇÕES CONTOS CIDADE SIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISORAÇÕES E MILAGRES MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário! Comente sempre. Este blog se reserva o direito de moderação dos comentários de acordo com sua idoneidade e teor. Este blog não faz seus necessariamente os comentários e opiniões dos comentaristas. Não serão publicados comentários que contenham linguagem vulgar ou desrespeitosa.