quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Godofredo de Bouillon: “Defensor do Santo Sepulcro” (2)


continuação do post anterior: Godofredo de Bouillon: “não posso ser coroado de ouro, onde Nosso Senhor foi coroado de espinhos”



Jerusalém estava fortificada e bem defendida por mais de 40 mil homens. No dia 7 de junho de 1099 os cruzados a cercaram.

Novamente todos os sofrimentos de um sítio prolongado, como a sede sob um sol abrasador de verão, castigaram os cavaleiros da Cruz.

Visão de São Jorge e tomada de Jerusalém

Finalmente, “Godofredo viu no Monte das Oliveiras um homem com brilhante escudo: ‘São Jorge vem em nosso auxílio!’” — exclamou.(10).

Entusiasmados, os guerreiros cristãos empurraram as torres de combate para junto das muralhas da cidade. Estenderam pontes, e Godofredo foi um dos primeiros a saltar, correndo para abrir as portas.

O exército, como a enchente de um rio, penetrou na cidade. “O sangue corria pelas escadas e chegava até as patas dos cavalos”.



Aparição de São Jorge sobre Monte das Oliveiras, Gustave Doré (1832 — 1883)
Aparição de São Jorge sobre Monte das Oliveiras, Gustave Doré (1832 — 1883)
“Foi um juízo de Deus”, afirma o cronista Guilherme de Tyro, “que os que haviam profanado o Santuário do Senhor com ritos supersticiosos, e o haviam tirado do povo fiel, expiassem o crime com seu próprio sangue e extermínio”.(11)

Depois os cruzados se lavaram, e com sentimentos de piedade foram andando pelos lugares santos, osculando-os “com grande devoção, humildade e coração contrito, entre soluços e lágrimas”.(12)

Passados os primeiros dias em devoções e em limpar a cidade dos cadáveres, pensaram logo em fixar a vitória, elevando Jerusalém a Reino Latino.

O escolhido para reinar em Jerusalém

“Quando se tratou de eleger um rei, interrogou-se, sob juramento, aos servidores dos Príncipes com mais condições para isso, sobre a vida de seus senhores. Os de alguns deles declararam coisas que os prejudicavam, de medo de terem que ficar em Jerusalém e não voltar para suas terras.

Alguns outros príncipes declararam que não desejavam ser eleitos para o cargo, tão oneroso.

Godofredo de Bouillon entra em Jerusalém, Gustave Doré (1832 — 1883)
Godofredo de Bouillon entra em Jerusalém, Gustave Doré (1832 — 1883).
Assim, chegando a vez de Godofredo de Bouillon, seus servidores só tiveram a dizer contra ele que sempre ficava demasiado tempo na igreja, mesmo depois de terminada a missa, e perguntava sobre cada quadro e sua história; e que, enquanto isso, em casa se esfriava a comida”,(13) o que serviu para que os eleitores o escolhessem por unanimidade como a pessoa mais digna para o cargo.

Não rei, mas Defensor do Santo Sepulcro

De acordo com as crônicas do tempo, Godofredo recusou-se a usar a coroa “por respeito Àquele que tinha sido coroado com uma Coroa de Espinhos naquele lugar”.(14)

“Ele nunca usou o título de rei (que somente aparece sob seu sucessor), e contentou-se com o de Duque e Defensor do Santo Sepulcro”.(15)

Pouco tempo depois, Godofredo consolidou a vitória na batalha de Ascalon, derrotando, com apenas 5 mil cavaleiros e 15 mil infantes, o exército de Al-Afdhal, Vizir muçulmano do Egito, que contava com 200 mil etíopes, beduínos e árabes.

Com muita valentia e uma direção prudente, logo no primeiro ímpeto os cristãos dispersaram os mouros. Com essa brilhante vitória, a fama de Godofredo espalhou-se por todo o Oriente.

“Um emir pediu a Godofredo que, com sua espada, cortasse o pescoço de um grande camelo com um só golpe, o que o Duque fez sorrindo.

Em seguida, com uma simples lâmina sarracena, degolou o segundo camelo com a mesma facilidade, enchendo de admiração os árabes, que constataram que a fama de sua prodigiosa força era verdadeira”.(16)

Quando Godofredo foi interpelado a respeito da força dos seus braços, respondeu que isso se devia ao fato de que jamais tinha utilizado seus membros para cometer qualquer pecado contra a santa pureza.

A morte de Godofredo de Bouillon. Museu de Versailles, Salles des Croisades.
A morte de Godofredo de Bouillon. Museu de Versailles, Salles des Croisades.
Godofredo era sabidamente tão justo, que até os caudilhos árabes submetiam a ele seus litígios. Ele protegeu as fronteiras, favoreceu o comércio e governou com religiosa prudência e gravidade.

Com a ajuda dos cruzados de Pisa, reconstruiu a cidade de Jaffa para tornar-se um porto para a chegada dos cavaleiros cristãos. Ele intentava assediar Acre, mas era desígnio de Deus que, aquele que passara por tantos perigos nos combates, morreria simplesmente num leito de hospital.

Godofredo foi atacado pela peste em Cesaréia. Retornou a Jerusalém onde, após nomear o irmão Balduíno como seu sucessor, faleceu no dia 18 de julho de 1100, aos 39 anos de idade, sendo enterrado na igreja do Santo Sepulcro.

  • Notas:
  • 1. Hachette Multimedia / Hachette Livre, online edition, Copyright © 2001 Yahoo! France.
  • 2. Juan Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación,Barcelona, 1928, vol. V, p. 467.
  • 3. Robert the Monk, Hist. Occid. Crois., III, 731, apud Louis Bréhier, The Catholic Encyclopedia, 1906, vol. VI, online edition, Robert Appleton & Cia., 1999.
  • 4. La Grande Encyclopédie, Paris, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, tomo 18, p. 1145.
  • 5. Cfr. Guibert de Nogent, Gesta, vol. VII, 11, apud Louis Bréhier,The Catholic Encyclopedia, Online Edition.
  • 6. Weiss, op.cit., p. 470.
  • 7. Cfr. The Catholic Encyclopedia, e Hachette Multimedia.
  • 8. Weiss, op. cit., p. 474.
  • 9. Cfr. Weiss, op. cit., p. 477; La Grande Encyclopédie, tomo XIII, verbete “Croisade”, p. 441.
  • 10. Weiss, op. cit., p. 479.
  • 11. Guilelmus Tyrius, VIII, cap. 20, in Weiss, op. cit., p. 479.
  • 12. Weiss, op. cit., p. 479.
  • 13. Id. , p. 480.
  • 14. The Catholic Encyclopedia, online edition.
  • 15. Id, ib.
  • 16. Weiss, op. cit., p. 482.



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