quarta-feira, 3 de maio de 2017

Godofredo de Bouillon (II), “Duque e Defensor do Santo Sepulcro”

O encontro da Santa Lança
O encontro da Santa Lança
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






continuação do post anterior: Godofredo de Bouillon (I), “Duque e Defensor do Santo Sepulcro”



O encontro da lança de Longinus

Durante o cerco de Antioquia, com o inverno vieram as chuvas e as enfermidades, atingindo homens e animais. O exército cruzado ficou reduzido à metade.

A primavera trouxe uma melhora. Sobretudo devido a reforços vindos por mar, os cruzados conquistaram afinal a cidade.

Por pouco tempo, pois três dias depois os turcos voltaram com mais de 200 mil homens e cercaram Antioquia.

A fome e a doença abateram-se novamente sobre os cristãos agora sitiados. Foi quando um sacerdote da Provença, Pedro Bartolomeu, anunciou que Nosso Senhor lhe havia aparecido em sonhos e revelado onde estava enterrada a lança que atravessara seu peito adorável. Com efeito, junto ao altar da igreja de São Pedro encontraram uma lança.(9)


Esse fato sobrenatural deu novo ânimo aos cristãos que, tomados de entusiasmo, caíram sobre os muçulmanos, apesar da desproporção numérica.

Alguns afirmaram ter visto São Jorge conduzindo a batalha. Com a vitória, Boemundo estabeleceu-se como senhor de Antioquia.

O mesmo impulso poderia ter levado imediatamente à conquista da Cidade Santa. Mas o cansaço, a falta de cavalos, e sobretudo a contenda entre os príncipes cristãos, além de outra peste devastadora que ceifou a vida de 50 mil soldados, diminuíram em muito o número de cruzados que se dirigiram a Jerusalém.

A cidade de Jerusalém estava fortificada e bem defendida por mais de 40 mil homens. No dia 7 de junho de 1099 os cruzados a cercaram. Novamente todos os sofrimentos de um sítio prolongado, como a sede sob um sol abrasador de verão, castigaram os cavaleiros da Cruz.

Visão de São Jorge e tomada de Jerusalém

Finalmente, “Godofredo viu no Monte das Oliveiras um homem com brilhante escudo: ‘São Jorge vem em nosso auxílio!’” — exclamou.(10)

Entusiasmados, os guerreiros cristãos empurraram as torres de combate para junto das muralhas da cidade. Estenderam pontes, e Godofredo foi um dos primeiros a saltar, correndo para abrir as portas.

O exército, como a enchente de um rio, penetrou na cidade.

“O sangue corria pelas escadas e chegava até as patas dos cavalos”. “Foi um juízo de Deus”, afirma o cronista Guilherme de Tyro, “que os que haviam profanado o Santuário do Senhor com ritos supersticiosos, e o haviam tirado do povo fiel, expiassem o crime com seu próprio sangue e extermínio”.(11)

Depois os cruzados se lavaram, e com sentimentos de piedade foram andando pelos lugares santos, osculando-os “com grande devoção, humildade e coração contrito, entre soluços e lágrimas”.(12)

Passados os primeiros dias em devoções e em limpar a cidade dos cadáveres, pensaram logo em fixar a vitória, elevando Jerusalém a Reino Latino.

O escolhido para reinar em Jerusalém

“Quando se tratou de eleger um rei, interrogou-se, sob juramento, aos servidores dos Príncipes com mais condições para isso, sobre a vida de seus senhores. Os de alguns deles declararam coisas que os prejudicavam, de medo de terem que ficar em Jerusalém e não voltar para suas terras.

“Alguns outros príncipes declararam que não desejavam ser eleitos para o cargo, tão oneroso. Assim, chegando a vez de Godofredo de Bouillon, seus servidores só tiveram a dizer contra ele que sempre ficava demasiado tempo na igreja, mesmo depois de terminada a missa, e perguntava sobre cada quadro e sua história; e que, enquanto isso, em casa se esfriava a comida”,(13) o que serviu para que os eleitores o escolhessem por unanimidade como a pessoa mais digna para o cargo.

Não rei, mas Defensor do Santo Sepulcro

De acordo com as crônicas do tempo, Godofredo recusou-se a usar a coroa “por respeito Àquele que tinha sido coroado com uma Coroa de Espinhos naquele lugar”.(14)

“Ele nunca usou o título de rei (que somente aparece sob seu sucessor), e contentou-se com o de Duque e Defensor do Santo Sepulcro”.(15)

Pouco tempo depois, Godofredo consolidou a vitória na batalha de Ascalon, derrotando, com apenas 5 mil cavaleiros e 15 mil infantes, o exército de Al-Afdhal, Vizir muçulmano do Egito, que contava com 200 mil etíopes, beduínos e árabes.

Com muita valentia e uma direção prudente, logo no primeiro ímpeto os cristãos dispersaram os mouros.

Com essa brilhante vitória, a fama de Godofredo espalhou-se por todo o Oriente.

“Um emir pediu a Godofredo que, com sua espada, cortasse o pescoço de um grande camelo com um só golpe, o que o Duque fez sorrindo. Em seguida, com uma simples lâmina sarracena, degolou o segundo camelo com a mesma facilidade, enchendo de admiração os árabes, que constataram que a fama de sua prodigiosa força era verdadeira”.(16)

A morte de Godofredo
Quando Godofredo foi interpelado a respeito da força dos seus braços, respondeu que isso se devia ao fato de que jamais tinha utilizado seus membros para cometer qualquer pecado contra a santa pureza.

Godofredo era sabidamente tão justo, que até os caudilhos árabes submetiam a ele seus litígios. Ele protegeu as fronteiras, favoreceu o comércio e governou com religiosa prudência e gravidade.

Com a ajuda dos cruzados de Pisa, reconstruiu a cidade de Jaffa para tornar-se um porto para a chegada dos cavaleiros cristãos.

Ele intentava assediar Acre, mas era desígnio de Deus que, aquele que passara por tantos perigos nos combates, morreria simplesmente num leito de hospital.

Godofredo foi atacado pela peste em Cesaréia.

Retornou a Jerusalém onde, após nomear o irmão Balduíno como seu sucessor, faleceu no dia 18 de julho de 1100, aos 39 anos de idade, sendo enterrado na igreja do Santo Sepulcro.


(Fonte: José Maria dos Santos, “Catolicismo”, setembro de 2003, )

Notas:
1. Hachette Multimedia / Hachette Livre, online edition, Copyright © 2001 Yahoo! France.
2. Juan Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1928, vol. V, p. 467.
3. Robert the Monk, Hist. Occid. Crois., III, 731, apud Louis Bréhier, The Catholic Encyclopedia, 1906, vol. VI, online edition, Robert Appleton & Cia., 1999.
4. La Grande Encyclopédie, Paris, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, tomo 18, p. 1145.
5. Cfr. Guibert de Nogent, Gesta, vol. VII, 11, apud Louis Bréhier,The Catholic Encyclopedia, Online Edition.
6. Weiss, op.cit., p. 470.
7. Cfr. The Catholic Encyclopedia, e Hachette Multimedia.
8. Weiss, op. cit., p. 474.
9. Cfr. Weiss, op. cit., p. 477; La Grande Encyclopédie, tomo XIII, verbete “Croisade”, p. 441.
10. Weiss, op. cit., p. 479.
11. Guilelmus Tyrius, VIII, cap. 20, in Weiss, op. cit., p. 479.
12. Weiss, op. cit., p. 479.
13. Id., p. 480.
14. The Catholic Encyclopedia, online edition.
15. Id, ib.
16. Weiss, op. cit., p. 482.




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2 comentários:

  1. Os mais dignos exeplos de honra, lealdade coragem e desambição se encontram entre estes heróis medievais como Godofredo de Bouillhon.
    São pessoas tão corretas que a simples leitura de suas vidas fazem vibrar a alma deste velho soldado.
    Gelio Fregapani

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