terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Fernão Antolínes, o herói que uma vez não chegou ao combate

Fernán Antolinez, Heróis medievais
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Fernán Gonzalez, primeiro conde de Castela, guerreava continuamente contra os mouros, fazendo tal número de mortos que não podiam ser contados.

Derramou o sangue de vários reis muçulmanos, cujos reinos ele ia incorporando ao reino de Castela.

O bom conde foi em busca dos exércitos muçulmanos que, saindo de Gormas, na província de Soria, acamparam no vale de Cascavajes.

Aí os enfrentou Fernán Gonzalez, acompanhado de seu valoroso exército formado pelos mais nobres cavaleiros castelhanos.

Entre estes estava Fernán Antolinez, cavaleiro profundamente religioso, que tinha o costume de ir à igreja todos os dias, ao romper da aurora, e aí permanecer rezando enquanto não tivesse terminado a última missa.

Existia ali perto um magnífico santuário, que o conde Garcia Fernandez havia fundado perto do castelo de Santo Estêvão.

Fernán Gonzalez fez grandes doações a este mosteiro, e trouxe para ali habitar oito monges do mosteiro de São Pedro de Arlanza.



No dia em que o conde esperava que se desse a batalha contra os mouros, seria rezada ali a primeira missa. Fernán Gonzalez, seguido de seus cavaleiros, entrou na igreja e ouviu devotamente a missa.

Uma vez terminada, armou-se de todas as suas armas, e todos os cavaleiros o imitaram.

Em seguida saíram do santuário, e montando seus cavalos, partiram rapidamente em busca das tropas árabes que estavam no vale de Cascavajes.

Virgem da Majestade. Zamora. Heróis medievaisO piedoso cavaleiro Fernán Antolinez não saiu da igreja com seu senhor. Seguiu seu costume e ficou ali, ajoelhado diante do altar, até que terminassem todas as missas.

Entretanto, as tropas do conde Fernán Gonzalez, que haviam se dirigido ao vale, já enfrentavam os exércitos mouros ali acampados.

Houve uma encarniçada batalha.

Os castelhanos lutavam valentemente, atacando com indomável bravura os mouros, que recuavam diante da ferocidade das lanças e espadas castelhanas.

Até a porta do santuário chegava o fragor do combate.

Dali assistia entusiasmado a batalha o escudeiro de Fernán Antolinez.

Guardando o cavalo, o escudo e a lança de seu senhor, esperava ansioso que ele saísse da igreja. Imaginando que ele havia ficado na igreja por covardia, para não tomar parte no combate em que tão valorosamente lutavam o conde Fernán Gonzalez e seus cavaleiros, e indignado por essa covardia, chamava aos berros o seu senhor, para que imediatamente fosse ao combate.

Fernán Antolinez tão recolhido estava em suas orações, que mesmo ouvindo seu escudeiro, que o chamava aos gritos, não se mexia, e acompanhava com profunda devoção o santo sacrifício da missa.

Quis Nosso Senhor recompensar aquele fervor com um portentoso milagre, demonstrando desta forma prodigiosa os infinitos benefícios da missa, e livrando seu devoto da vergonha e do opróbrio.

São Miguel Arcanjo, Simone Martini, Heróis medievais
Sucedeu que nem Fernán Gonzalez nem seus cavaleiros notaram a falta de Fernán Antolinez no combate.

Pelo contrário, viram-no lutar com grande arrojo e valentia, embrenhando-se nas fileiras inimigas e matando grande número de mouros, com um heroísmo superior ao de todos os combatentes.

Apesar de haver recebido vários ferimentos, continuou lutando.

Chegou até onde estava a bandeira moura e apoderou-se dela com um valor invencível, desmoralizando com isto os exércitos árabes, que fugiram em debandada e deixaram o campo coberto de cadáveres.

Quinze mil mouros foram mortos. Apenas 400 guerreiros católicos perderam a vida.

Assim se ganhou a famosa batalha de Santo Estêvão de Gormoz, vitória devida em grande parte a Fernán Antolinez.

Todos os seus companheiros de armas, admirados ante aquele heroísmo, comentavam as virtudes de Fernán Antolinez.

Terminado o combate, Fernán Gonzalez quis felicitar aquele cavaleiro que tão heroicamente havia se distinguido na batalha, dando ordem para se apresentar imediatamente diante dele. Mas depois de procurá-lo por todo o campo, não o encontraram nem entre os vivos nem entre os mortos.

Soube-se, por fim, que Fernán Antolinez estava na igreja, sem atrever-se a sair dela, confuso e envergonhado por não haver tomado parte na batalha recém-terminada.

Foram buscá-lo na igreja, e ali o encontraram com as mesmas feridas que havia recebido aquele angélico personagem, que levara suas armas no combate e lutara por ele.

Todos reconheceram o milagre de Deus, que havia enviado um anjo do céu para lutar com grande bravura em seu lugar, até conseguir a vitória.

Fernán Antolinez, ao ver-se ferido, ajoelhou-se, dando graças ao Altíssimo pelo milagre estupendo.

E todos, comovidos, de joelhos diante do altar, louvaram a Deus e a Virgem Santíssima por aquela grande graça feita em favor do cavaleiro, que com sua devoção havia alcançado um grande triunfo para o exército católico.


(Fonte: V. Garcia de Diego, "Antología de leyendas de la literatura universal" - Labor, Madrid, 1953)



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