O milagre de Empel. Augusto Ferrer-Dalmau (1964 - ) FD Magazine |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A Imaculada Conceição teve um papel essencial em vários episódios muito importantes da história da Cristandade.
Um dos menos conhecidos é o chamado Milagre de Empel onde a intervenção da Imaculada determinou a vitória dos regimentos católicos espanhóis em guerra contra os protestantes holandeses em Flandres.
O escritor espanhol José Javier Esparza dedicou uma valiosa matéria publicada pelo jornal “La Gaceta” de Madri sob o título “Empel: Um tercio para um milagre”, reproduzido por Infovaticana.
Nota: tercio, literalmente terço em português, designa um tipo de unidade militar de infantaria no exército espanhol.
O fato portentoso se deu na ilha de Bommel, lembrada como Empel, em Brabante, região hoje dividida entre Bélgica e Holanda, nos dias 7 e 8 de dezembro de 1585. A guerra religiosa de Flandres, da qual fazia parte Brabante se disputou essencialmente em trincheiras onde a infantaria desempenhou um papel essencial.
Os protestantes fortemente apoiados por seus correligionários ingleses e franceses, professavam a fórmula calvinista e erguiam a bandeira da independência contra seu rei e a Espanha, corajosa defensora do catolicismo.
Os terços espanhóis lutavam em condições adversas de extrema dureza. Além da geografia pantanosa, o apoio inglês e francês conferia aos rebeldes heréticos flamencos um poder extraordinário.
Naquela data, na ilha de Bommel, entre os rios Maas e Waal, estavam dispostos cinco mil católicos (espanhóis e flamencos) do Terço Tercio Viejo de Zamora, comandado pelo mestre de campo Don Francisco Arias de Bobadilla.
Eles enfrentaram e derrotaram em condições muito adversas a uma frota de cem barcos dos rebeldes protestantes dos Estados Gerais dos Países Baixos, comandada pelo almirante Felipe de Hohenlohe-Neuenstein. Cfr. Wikipedia, Milagre de Empel.
Os porta-estandartes do erro preferiram não atacá-los por terra, porque a infantaria espanhola era tida com razão como a melhor do mundo e lhes inspirava muito respeito.
Vista aérea de Empel na região de Brabante em foto atual |
Porém, esses pareciam lembrar o que dissera seu compatriota Bonnivet:
“Cinco mil espanhóis são cinco mil homens que lutam e cinco mil cavalos ligeiros, e cinco mil homens de infantaria e cinco mil sapadores e cinco mil demônios”.
Então os franceses tiraram o corpo.
Antes da morte que a desonra
O conde de Hollac então projetou um assedio marítimo usando barcaças de fundo chato capazes de formar uma barreira formidável nos canais pouco profundos.
Pretendia assim cortar os fornecimentos a Bobadilla, deixa-lo sem comida, sem abrigo, e sem qualquer esperança de receber reforços.
Ao mesmo tempo, fez saber aos católicos que lhes oferecia uma capitulação honrosa.
Ele evitaria um desenlace de luta corpo a corpo com os temidos terços apelando ao “bom senso”: os católicos poderiam sair sem deixar prisioneiros ou reféns e levariam suas bandeiras.
Bobadilla não pareceu gostar da proposta e respondeu:
“A infantaria espanhola prefere a morte à desonra. Nós vamos falar sobre a capitulação após a morte”.
Num outro a frase soaria a bravata, mas os exemplos de centenas de outros feitos de armas nessas terras ensinavam que eram muito sérias.
Entres aqueles homens alguns anos atrás haviam sido capturados em Tournai e em Maastricht, mas voltaram e reconquistaram Dunquerque e Nieuwpoort, desfilaram suas bandeiras por Bruges e Gante, e ainda sitiaram e conquistaram Antuérpia ...
O conde Hollac acreditou: aqueles católicos fariam o que tinham dito. Mas concebeu uma estratagema brilhante para quebrar sua resistência sem ter que medir o aço com os sitiados.
Ele mandou inundar a área só ficando a ilha de Bommel onde estavam as forças leais ao rei. Para isso fez voar pelos ares as barragens que continham os rios Maas e Waal.
Quando tudo estava perdido, Nossa Senhora deu a vitória. Detalhe de Augusto Ferrer-Dalmau (1964 - ) FD Magazine |
Os soldados dos terços ficaram tão cansados como antes e famintos como sempre naquele moimento passaram a também ficar encharcados até os ossos e reduzidos a um pedaço de terra que era facilmente bombardeável pelo inimigo
Enquanto isso, cem barcos holandeses ocuparam todos os fortes da área, juntando-se à artilharia que já vomitava fogo sobre os resistentes.
Em 7 de dezembro, os terços ainda defenderam a colina de Empel durante o dia todo. Na noite os homens de Bobadilla em desespero de causa foram cavar abrigos.
E eis que a pá de um soldado bate num objeto estranho, que a princípio foi confundido com uma pedra.
Ele conseguiu remover a terra que o circundava e resultou ser pedaço de madeira.
Com as próprias mãos, ele removeu a lama e a areia e foi descobrindo cores azul e branca, até finalmente aparecer a figura da Imaculada Conceição.
As tropas estavam lá servindo a fé.
Nas cidades católicas que eles defendiam – como é o caso de Bolduque – os habitantes conduziam o Santíssimo Sacramento em procissão, implorando pelos sitiados.
Nessa hora, apareceu a imagem da Imaculada. Ainda passariam mais de quatro séculos até que o Beato Papa Pio IX proclamasse o dogma da Imaculada Conceição, que Nossa Senhora confirmou em Lourdes.
Mas a devoção de povos como o espanhol e o português por esse dogma se manifestava fervorosamente entre os soldados.
A Imaculada é heroína veterana da imensa vitória contra os mouros em Navas de Tolosa de 1212 e da conquista de Granada (1492), as vitórias nessas batalhas foram confiadas a ela.
E nessa hora Ela voltava a aparecer naquela cumbuca de Empel, onde apenas um milagre poderia impedir a derrota!
Vídeo: A Imaculada mostrou que o Deus católico é o único verdadeiro: o milagre de Empel (espanhol)
continua no próximo post:
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