Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Continuação do post anterior: São Bento de Núrsia, Patriarca dos Monges do Ocidente – 1
Superior de doze mosteiros
Entretanto, os discípulos continuaram a afluir, mas desta vez em tão grande número, que foi preciso dividi-los em grupos de doze monges, em doze mosteiros diferentes, cada um deles regido por um abade sob a supervisão de Bento.
Sob a direção do grande abade, a existência dos primeiros monges beneditinos transcorria pacífica e prosperamente, dedicada por inteiro à oração e ao trabalho.
Os milagres, a doutrina, a santidade de Bento lhe atraíam numerosas vocações.
Mesmo de Roma afluíam nobres varões, desejosos de se tornarem seus discípulos, enquanto patrícios lhe entregavam seus filhos para que os educasse.
Foi o caso dos meninos Mauro e Plácido, posteriormente também elevados à honra dos altares, que ficaram famosos na história de São Bento.
O Mosteiro de Monte Cassino
Novos dissabores fizeram com que Bento resolvesse partir, desta feita para um local entre Roma e Nápoles denominado Cassinum, antiga vila fortificada dos romanos.
Ali se instalou com os que o seguiram na fortaleza abandonada, que ele reformou, dando origem à célebre Abadia de Monte Cassino.
Sob a direção do santo, o novo mosteiro floresceu.
“Pai bondoso e ao mesmo tempo mestre rigoroso, o homem de Deus os corrige [os monges] e repreende sempre que necessário; nem uma só falta de seus discípulos, seja coletiva, seja pessoal, lhe passa inadvertida.
“Todos no mosteiro sabem por experiência que têm um abade extraordinário, a quem nada se pode ocultar de quanto pensam no mais recôndito da alma (Diálogos), de quanto fazem fora de casa. [...]
“Já em Subíaco, vários de seus milagres ressaltaram com força o valor da oração, da confiança na Providência, do trabalho, da obediência” (Dom Colombas, op.cit., p. 62.).
Os últimos anos de São Bento transcorreram no Monte Cassino.
“A morte, ou melhor, o trânsito de São Bento – como é descrito por São Gregório Magno – tem a majestade, a elegância e a placidez de uma cerimônia litúrgica” (Dom Colombas, op.cit., p. 65.).
Ela ocorreu provavelmente no dia 21 de março de 547.
A Regra de São Bento
Para Bossuet, o erudito bispo e teólogo do século XVII, a Regra de São Bento é “uma suma de cristianismo, um douto compêndio de toda a doutrina do Evangelho, de todas as instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição.
“Nela sobressaem eminentemente a prudência e a simplicidade, a humildade e o valor, a severidade e a mansidão, a liberdade e a dependência; nela a correção desdobra todo o seu vigor, a condescendência todo o seu atrativo, a autoridade a sua robustez, a sujeição a sua tranquilidade, o silêncio a sua gravidade, a palavra as sua graça, a força o seu exercício, e a debilidade o seu sustentáculo” (In Dom Colombas, Introducción General, op.cit., p.143.).
Figura moral de São Bento
Com o subtítulo “A figura Moral”, Dom Garcia M. Colombas, monge de Montserrat, na sua Introdução à Vida e Regra de São Bento, que estamos seguindo, nos oferece em rápidas pinceladas alguns traços da personalidade do Santo, baseado no que este diz em sua Regra. Citaremos alguns deles.
Gravidade
“Uma das características que chama a atenção ao contemplar a figura moral do Santo é a austeridade, a dureza, a virilidade de seu caráter, marcado pelo selo de seu país de origem. [...]
“O patriarca não é amigo de muito falar, detesta o riso imoderado, proíbe com singular energia as piadas (Regra, 6,8); a cada momento nos descobre seu desgosto diante do olvido da própria responsabilidade, pelas decisões prematuras, ligeireza de espírito.
“E essa gravidade que exige dos outros, brilha em cada uma de suas frases; ao dispor qualquer detalhe da observância monástica, desde o mais trivial ao mais importante, suas palavras são sempre circunspectas” (Op.cit., pp. 67-68.).
Objetividade
“Toda a Regra leva a marca de um espírito que não constrói a priori, segundo um ideal abstrato e um plano rígido, mas que vê a realidade tal qual é, e tenta adaptar-se a ela” (Id.ib., p. 69).
“Temperamento de chefe, e de chefe romano, quer que no mosteiro tudo esteja em ordem, que tudo se cumpra nele com perfeição”.
“Outro aspecto da personalidade moral de São Bento, que começa por ser um dos predicados mais importantes de seu temperamento romano e acaba com um marcado caráter de virtude sobrenatural, é a sua discrição.
Morte de São Bento, Lorenzo di Niccolò di Martino (1373 – 1412). |
Em nada vulgar
“Rebento de uma família rica e distinta, São Bento se mostra em todo momento cheio de nobreza, de finura, de urbanidade. Tanto em seu porte quanto em suas relações sociais, em seu pensamento como na forma de expressá-lo, nada achamos nele que seja vulgar” (Id.ib., p.73.).
São Bento “possuiu do pensador a amplitude e a profundidade do olhar que compreende os problemas da vida e, em seus próprios limites, procura resolvê-los.
“A Regra nos revela esta inteligência poderosa, muito mais prática que especulativa, cujos dotes essenciais são a clareza e a lógica. [...] Outra característica notável da inteligência de São Bento é sua penetração psicológica.
“O patriarca conhece o homem, suas possibilidades, suas fraquezas, suas reações” (Id. ib., p. 75).
“Pius pater”
“Graças a essas qualidades de coração, São Bento pôde encarnar plenamente o pius pater que deve ser todo abade beneditino. A Regra inteira está impregnada do espírito de paternidade afetuosa e terna, que sabe compreender e adaptar-se, dissimular e alentar” (Id.ib., p. 79).
“A virtude da religião nele é algo mais que uma característica: é o sentimento dominante que informa toda sua maneira de julgar e de agir, que unge inteiramente a figura, a vida e a Regra do patriarca, constituindo sem dúvida o verdadeiro fundo de sua personalidade” (Id. ib., p. 81).
Enfim, São Gregório Magno declara em seus Diálogos: “Se alguém quer conhecer mais profundamente sua vida e seus costumes [de São Bento], poderá encontrar no mesmo ensinamento da Regra todas as ações de seu magistério, porque o santo varão de modo algum pôde ensinar outra coisa senão o que ele mesmo viveu” (Diálogos, II, 36, in op. cit. p. 255.).
(Autor: Plinio Maria Solimeo, in CATOLICISMO, julho 2016).
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