quarta-feira, 9 de maio de 2012

Epopéia das navegações portuguesas: eco da Idade Média – 1


As explorações portuguesas eram sempre movidas por mais do que império e especiarias, embora isso tenha se tornado a informação-padrão dos livros didáticos.

Os portugueses buscavam igualmente manter contato com bolsões de cristãos há muito perdidos que se sabia existir no Oriente, além de converter pagãos e colonizar novas terras; e, tanto quanto qualquer outra coisa, eram impelidos pelo desejo de conhecimento.

O custo foi enorme, em muitos sentidos incomensurável. “Deus deu aos portugueses um pequeno país como berço, mas o mundo todo como túmulo”, observou o padre Antonio Vieira.

Os oceanos do mundo podem, de fato, ser descritos como um vasto túmulo aquático de marinheiros portugueses.

Embora estivessem tecnicamente no Renascimento, seus corações e pensamentos ainda eram medievais.

Um capitão escreveu, observando a gente que vivia no Brasil – embora pudesse com a mesma facilidade ter dito o mesmo de todos aqueles com que os portugueses depararam – que “se nosso Senhor nos trouxe aqui, acredito que não foi sem propósito”.


Somente no nível mais superficial esta é a história do monopólio comercial de especiarias. Para o príncipe Henrique, Dom João I, Dom João II e Dom Manuel, os mais envolvidos em conduzir o esforço, tratava-se de nada menos do que as Cruzadas, renascidas em uma manifestação diferente, mas com o mesmo objetivo.

Esperava-se inutilmente que isso levasse à reconquista de Jerusalém. Difundiu o Cristianismo e a cultura ocidental até as terras mais distantes, com efeitos que são profundo até hoje e cujas ramificações continuam a ser sentidas.

Devido a sua realização, Vasco da Gama tornou-se o maior português de todos os tempos. Mas se não tivesse sido Vasco da Gama, então teria sido outro.

Dom Manuel I
Vasco da Gama navegou mais do que a distância de uma volta ao mundo seguindo a linha do Equador, avaliada em 23 mil milhas marítimas.

Foram os portugueses que viram o caminho e inflexivelmente a ele se aplicaram, por mais de oitenta anos de sacrifícios e de terríveis perdas de vidas.

Foi uma façanha sem precedentes para uma nação tão pequena. Possuidora de poucos recursos naturais e nenhuma grande riqueza.

A prolongada luta para expulsar os mouros, travada de norte a sul de Portugal, serviu para unir o povo e dar-lhes um senso de destino.

Além disso, eles haviam expulsado os mouros de sua terra dois séculos inteiros antes dos espanhóis. Durante a luta que durou gerações, os portugueses se encheram de ardor religioso.

Expulsar os mouros foi uma sacra cruzada dada por Deus aos portugueses.

Esse senso de missão foi facilmente transferido para as explorações, que sempre tiveram um forte conteúdo religioso.

A Europa medieval sabia que no Oriente existiam bolsões de cristãos. Os boatos e lendas que formavam a base para essa crença brotavam da realidade.

Cristãos de fato habitaram terras no Oriente, embora não mantivessem contato regular com a Europa ocidental e praticassem uma versão da fé, primeiramente como nestorianos.

Havia um forte desejo por parte dos portugueses de entrar em contato com esses grupos e resgatá-los para a autêntica Fé, um desejo equivalente ao de converter os pagãos.

Havia também uma consideração prática. Os muçulmanos constituíam uma enorme barreira para o Oriente. Para terem sucesso em sua tentativa, os portugueses eram forçados a buscar uma rota contornando a África, cujas dimensões eram desconhecidas.

A meta de continuar a repelir os muçulmanos e de levar os pagãos para o mundo de Deus era uma força poderosa.

Quando D. João I acedeu em lançar-se na tomada de Ceuta (por desejo dos 3 filhos, a ínclita geração: Duarte, Rei de Portugal (1391-1438); Pedro, Duque de Coimbra (1392-1449), morto na Batalha de Alfarrobeira, foi regente de Afonso V, seu sobrinho; considerado o príncipe mais culto da sua época; Henrique, Duque de Viseu (1394-1460), conhecido como "Henrique, O Navegador"), o beato Nun’Alvares, um conselheiro conhecido por seu firme julgamento, declarou, ao que se conta: “Esse plano não foi concebido por vós [o rei] nem por qualquer pessoa deste mundo, mas inspirado por Deus”

Ceuta foi tomada em 14 de agosto de 1415. Quatro anos depois iniciavam-se as navegações portuguesas de descobrimento ao longo da costa africana. Mais ou menos nessa época Henrique foi nomeado grão-mestre da Ordem de Cristo.

Ilhas míticas apareciam com frequência em mapas tidos como confiáveis. Mesmo sendo míticas, essas ilhas exerceram considerável influência sobre a História, pois sua presença em mapas nas mãos dos portugueses estimulou a exploração oceânica.

Eram feitas referências a Preste João, à rainha de Sabá e, perto do Himalaia, havia a anotação de que o rei cristão Estevão governava.

De início, mais de 12 viagens para contornar o Cabo Bojador (Saara ocidental, ao sul do Marrocos) fracassaram e houve mortes e perdas de navios.


(Fonte: Ronald J. Watkins, “Por Mares Nunca Dantes Navegados”, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 2004)




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Um comentário:

  1. José Juarez Batista Leite16 de maio de 2012 às 21:21

    Os historiadores, com formação tipicamente materialista, dificilmente conseguirão perceber outras forças motrizes determinantes para que as grandes navegações portuguesas acontecessem.Imbuídos do espírito científico positivista, acabam interpretando a história de forma preconceituosa e não enxergam a moldura que dá coerência ao contexto.Quando pinçam questões religiosas o fazem com o intuito de levantar suspeitas contra a Religião.Estudam determinados fatos sem aprofundarem devidamente o contexto, com a desculpa de não arriscarem se perder numa análise dispersiva e assim incorrem no erro de fazerem uma reflexão desequilibrada e injusta da história,onde elementos importantes são pontuados de forma superficial,servindo como ganchos para suas,muitas vezes,temerárias conclusões.

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