terça-feira, 30 de abril de 2024

Os heróis de Lechfeld

Magiares ainda pagãos tomam posse do território
Magiares ainda pagãos tomam posse do território
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Enquanto em 955 o rei Otton estava em campanha contra os eslavos, um exército húngaro de mais de 100.000 homens abateu-se sobre a Baviera, devastando-a. A vitória que o rei obteve sobre esse inimigo a 10 de agosto em Lechfeld, junto de Augsburgo, é uma das mais formosas, digna de agradecer-se e cheia de conseqüências.

A Alemanha teve desde então tranqüilidade, a derrota trouxe como efeito para os húngaros a conversão ao Cristianismo e, com isso, a entrada no concerto dos reinos católicos.

A derrota de Lechfeld foi a salvação da nação húngara. Se os húngaros tivessem permanecido pagãos, teriam compartilhado a sorte dos hunos e ávaros, os quais finalmente sucumbiram ante os povos civilizados .

Sem declaração de guerra, os húngaros tinham invadido a Alemanha a mando de três generais: Lehel, Bultzu e Botend. Tentaram tomar Augsburgo, protegida por um simples muro.

Cavaleiro magiar
Cavaleiro magiar, ou húngaro
O Duque Henrique estava doente em Regensburg. A surpresa foi tão rápida e violenta que o exército bávaro não pôde reunir-se do outro lado do Lech.

Se Augsburgo se sustentasse alguns dias, Otton teria tempo para reunir um exército. Isto ter sido possível foi mérito de Santo Ulrico, Bispo de Augsburgo, fiel partidário do rei.

Com a confiança em Deus própria de um Santo, com o valor de um herói e a prudência de um general, Santo Ulrico dirigiu a defesa da cidade.

Refreiou os temerários, e suas palavras e orações inflamaram o menosprezo da vida nos corações dos tímidos. Um assalto se seguia a outro. Entre a chuva dos projéteis, o Prelado de 65 anos, com ornamentos sacerdotais, sem escudo, montado a cavalo, sem ser ferido por nenhuma seta, inflamava os lutadores, consolava os feridos e dava conselhos e ordens.

– “Ainda nas sombras da morte, não temo, porque Vós estais comigo, ó Senhor” era a máxima do heróico bispo.

À testa de uma coalizão de povos cristãos, Otton vence a horda invasora
À testa de uma coalizão de povos cristãos, Otton vence a horda invasora
Cada dia crescia o perigo, mas também aumentava o entusiasmo da resistência, ao passo que os comandantes dos húngaros tinham de empurrar a chibatadas suas coortes contra os católicos, quando o som dos olifantes surpreendeu os assediantes, que nas suas costas viram ondular ao longe as bandeiras das tropas imperiais.

De fato, Otton avançava com uma tropa escolhida de saxões, caminhando por Weissengur a Denauwort. Chamou a si a Boêmia, a Suábia e as tropas da Baviera:

“Também o Duque Conrado, com uma numerosa cavalaria, chegou ao acampamento, e animados por sua chegada, os guerreiros desejavam que não se diferisse a peleja. No combate, ora a pé, ora a cavalo, era irresistível. Para seus amigos era tão caro na guerra como na paz”.

Os húngaros recolheram-se na margem esquerda do Lech. Um profundo sentimento religioso penetrava o exército alemão.

“A 9 de agosto mandou-se fazer no acampamento um jejum e que todos estivessem preparados para a batalha no dia seguinte. Com o primeiro alvor da manhã puseram-se de pé, deram-se mutuamente a paz, e juraram primeiro a seus chefes e logo uns para com outros o mútuo auxílio. Logo saíram do acampamento com as bandeiras ao vento, em número de oito legiões. O exército foi conduzido por um terreno acidentado e difícil, para que os inimigos não tivessem ocasião de inquietar a expedição com suas setas”. 


As três primeiras legiões constituíam-se de bávaros, a quarta de francos a mando de Conrado, a quinta de escolhidos entre milhares de guerreiros, a mando do próprio Otton, em cuja bandeira estava pintado o arcanjo São Miguel, vencedor dos poderes das trevas.

A sexta e sétima divisões as formavam os suavos a mando de Burkhard II, pois não possuíam ainda o direito de lugar à frente no Império.

Os boêmios, como oitava legião, protegiam as bagagens. Uma divisão de húngaros tinha rodeado o exército formando um largo arco. Com um ataque súbito dispersou a legião de boêmios e pôs os suavos em confusão.

Somente Conrado com seus francos voltou a estabelecer a ordem. Otton já tinha formado sua ordem de batalha, e depois de uma alocução entusiasta, lançou-se com os seus contra o inimigo.

A luta foi longa e árdua. A vitória completa pela tarde. Os inimigos que não juncavam o campo de batalha fugiram sem ordem. Poucos chegaram a seu país. Segundo a lenda magiar, só sete, que foram declarados eternamente sem honra e incapazes de a possuir. Em toda parte levantou-se o povo dos campos como para uma caçada.

Matou e queimou os húngaros fugitivos, julgou-os em fossos, e em um dia vingou-se das injúrias de cinqüenta anos!

Os capitães prisioneiros, Botond, Lehel e Bultzu, não foram tratados conforme o direito da guerra, mas enforcados afrontosamente em Regensburg, porque sem declaração de guerra tinham invadido o país.

Mas com o júbilo misturou-se a tristeza pelo favorito do exército, o heróico Conrado, “o qual, sentindo excessivo calor pelo fogo interior e a violência do sol, que estava muito forte naquele dia, abriu a base do elmo para tomar ar, e caiu ferido na garganta por uma seta”.

Debaixo de sua couraça achou-se um cilício, sinal de quão arrependido estava de sua rebelião, a qual expiou com suas heróicas façanhas e seu sangue.

A derrota de Lechfeld teve para os húngaros o efeito de quebrar a força bárbara da nação e fazer com que os elementos mais nobres ali vencessem.

Outra conseqüência da vitória do dia de São Lourenço foi a fundação das Markas, de onde foi-se formando pouco a pouco a Áustria atual (a Ostmark, que depois seria o Ostroeich).

(Autor: João Batista Weiss, “História Universal”, Tipografia la educación, Barcelona, Volume V, pp. 31 a 34)




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terça-feira, 16 de abril de 2024

Balduíno do Machado, conde truculento e justiceiro ‒ 2

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
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Continuação do post anterior

Detiveram-se um instante, e viram efetivamente chegar um cortejo de camponeses acompanhando um novo casal. Balduíno avançou até a esposa, e tirando um anel de seu dedo, entregou-o a ela e disse:

— Posto que o acaso conduziu-me pelo vosso caminho, que este acaso seja para vós uma providência. Se tiverdes alguma vez necessidade de mim, enviai-me este anel e pedi minha assistência, ela não vos faltará.

A exemplo dele, cada um dos cavaleiros que o seguia deu um presente à jovem, e a cavalgada senhorial retomou o caminho do castelo.

A oportunidade de usar o anel não se fez esperar. No meio de seu primeiro sono, o conde foi acordado por um de seus escudeiros.

Mostrando-lhe o anel, este lhe disse que um camponês ofegante e coberto de pó acabava de trazê-lo da parte da recém-casada da floresta.

Balduíno mandou logo que fosse introduzido o camponês, que era irmão do marido.

Relatou que, quando a recém-casada era conduzida à nova residência do casal, fora raptada pelos seis novos cavaleiros. O esposo e seus amigos quiseram opor resistência, mas como estavam sem armas, foram repelidos.

Dois ou três camponeses haviam recebido ferimentos bastante graves, tanto que a pobre jovem não teve senão tempo de jogar o anel, gritando ao seu marido: “Leve este anel ao Conde Balduíno!”

Mas o marido, que quis vingar-se por si mesmo, dera o anel ao seu irmão, incumbindo-o da missão. Em seguida, chamando toda a aldeia em seu auxílio, preparou-se para perseguir os raptores.

Balduino do Machado. Albrecht De Vriendt (1843 - 1900). Museu Real das Belas Artes, Antuérpia
Balduino do Machado. Albrecht De Vriendt (1843 - 1900).
Museu Real das Belas Artes, Antuérpia
Balduíno, não querendo acreditar em tamanha audácia, subiu aos aposentos dos cavaleiros e os encontrou vazios. Interrogou a sentinela, que confirmou que os cavaleiros haviam saído cerca de uma hora e meia antes.

O conde voltou ao pequeno camponês, perguntou-lhe para que lado se tinham dirigido os raptores, e este lhe respondeu que tinham tomado o caminho da Maison Rouge, uma taverna muito mal afamada, situada nos arredores do castelo.

Balduíno não duvidou mais que os culpados estivessem lá. Mandou que dez de seus homens se armassem o mais rapidamente possível e o alcançassem, levando pregos e cordas.

Quanto a ele, saltou no primeiro cavalo, com o machado à mão, e dirigiu-se para a taverna suspeita.

Logo que avistou a Maison Rouge, Balduíno convenceu-se de que não se enganara. O primeiro andar, fortemente iluminado, reboava com gargalhadas, imprecações e blasfêmias, enquanto o andar térreo estava escuro, mudo e solitário.

Balduíno apeou, amarrou seu cavalo a uma das argolas da parede e bateu à porta. Mas depois da terceira vez, vendo que ninguém vinha atendê-lo, arrombou a porta com um ponta-pé e entrou.

O andar inferior estava solitário e escuro. Guiado pelas vozes que ouvia, Balduíno subiu a escada e logo achou-se diante da porta do recinto do qual provinha todo o barulho.

A chave estava na fechadura, pois os cavaleiros acreditavam estar suficientemente protegidos pelas precauções que tomaram no andar térreo.

Balduíno abriu a porta sem dificuldade, lançou um olhar rápido pelo quarto e viu a jovem fortemente amarrada, enquanto seus raptores jogavam dados para ver a quem ela pertenceria.

A aparição de Balduíno foi como um raio para os culpados. Lançaram um grito de terror, ao qual a jovem respondeu por um grito de alegria.

Pelos olhares que Balduíno dardejava, viram logo que estariam perdidos se não fugissem o mais depressa possível.

Precipitaram-se em direção à escada, mas o conde postou-se diante da porta, com seu machado à mão, ameaçando fender a cabeça do primeiro que fizesse qualquer movimento. Todos permaneceram imóveis.

Nesse momento, Balduíno viu fora a luz das tochas e ouviu o galope dos cavalos que conduziam seus homens de armas.

— Aqui! — gritou-lhes ele.

Entraram pela porta arrombada, subiram a escada e apareceram detrás do conde.

— Tendes os pregos e as cordas?

— Sim, meu senhor.

Baudoin à la Hache, VII conde de nome em Flandes
Baudoin à la Hache, VII conde de nome em Flandes
— Fixai seis pregos nesta trave e preparai seis cordas.

Os cavaleiros empalideceram, vendo bem que tudo estava terminado para eles. Alguns começaram a pedir perdão, outros a se confessar em voz alta.

Mas Balduíno, sem dar-lhes ouvidos, apressava a montagem, de modo que depois de alguns minutos os pregos estavam afixados e os nós corrediços prontos.

Então fez colocar um banco debaixo das cordas, e ordenou aos seis cavaleiros que subissem no banco.

Uns obedeceram com resignação, outros quiseram oferecer resistência, mas uns e outros acabaram subindo. Ao cabo de um instante, os seis cavaleiros tinham a corda ao pescoço.

Balduíno lançou um último olhar sobre eles, para ver se estava tudo bem em ordem. Depois, satisfeito com a inspeção, afastou o banco com um ponta-pé, e os seis cavaleiros acharam-se bem e devidamente enforcados.

Nisto ouviu-se um grande alarido. Era o marido, que chegava com todos os jovens da aldeia, armados de picaretas e forcados.

Balduíno fê-los entrar todos no quarto, mostrando-lhes de um lado a jovem, que devolvia a seu esposo, virgem como havia sido raptada, e de outro os culpados já punidos. A justiça do conde andara mais depressa que a vingança do marido.

Balduíno morreu deixando a Carlos da Dinamarca o seu Condado de Flandres, em recompensa pelos grandes serviços que este prestara aos cristãos na Palestina.

Carlos da Dinamarca, depois chamado Carlos o Bom, era filho de São Canuto, Rei da Dinamarca, e de Adélia da Frísia.

(Fonte : Alexandre Dumas, « Excursions sur les bords du Rhin - Impressions de voyage », Calmann-Lévy, Paris)




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terça-feira, 2 de abril de 2024

Balduíno do Machado, conde truculento e justiceiro ‒ 1

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Balduíno à la Hache, ou Balduíno do Machado, era assim denominado porque tinha o hábito de servir-se, em vez da espada, de um machado pesando quinze quilos.

Era um severo justiceiro esse conde. A reforma de quase todos os abusos e a punição de todos os crimes datam de seus dias. Relatarei dois exemplos da maneira como fazia justiça.

Três mercadores de jóias e perfumes, que pelas roupas podiam ser reconhecidos como orientais, dirigiam-se, no ano de 1112, a uma feira que devia ter lugar em Thourout, e pousaram no Hotel da Cruz de Ouro.

Sucedeu que no mesmo hotel estava hospedado, com alguns de seus amigos, o Sr. Henry de Calloo, um dos mais ricos e nobres senhores do País de Gales, o qual precisamente acabara de perder no jogo somas enormes.

Por mais rico que fosse, não sabia como pagá-las. Vendo os mercadores e suas esplêndidas mercadorias, o demônio o tentou, e veio-lhe a idéia fatal de apoderar-se de suas jóias e dinheiro.

Antes de partir, os mercadores enviaram na frente servidores com o encargo de lhes prepararem os alojamentos. Pensando que não tinham nada a temer, deixaram Bruges duas horas após seus mensageiros.

Henry de Calloo e seus amigos deixaram que eles tomassem a dianteira. Então, alcançando-os no momento em que atravessavam um bosque, caíram sobre eles e os assassinaram. Tendo conduzido os cadáveres à parte mais densa do bosque, apoderaram-se de todo o ouro e jóias que os infelizes mercadores tinham consigo.

Entretanto, os servidores, depois de terem tudo preparado para a chegada de seus senhores, vieram aguardá-los na porta da cidade. Como o tempo corria e os mercadores não chegavam, começaram a preocupar-se, e viram então chegar Henry de Calloo com seus companheiros.


Saíram imediatamente ao seu encontro, para lhes perguntar se, posto que dispunham de tão boas montarias, não tinham encontrado e ultrapassado seus senhores.

Mas os flamengos responderam, com um ar perfeitamente natural, que não compreendiam essa pergunta, visto que os mercadores, tendo partido de Bruges bem na frente deles, já deveriam ter chegado a Thourout àquela hora.

Essa resposta redobrou os temores dos criados, que a partir daí se separaram. Três ficaram na porta da cidade e três voltaram pelo caminho de Bruges. Chegados ao bosque, viram a terra manchada de sangue. Seguiram o rastro, e após alguns passos dentro do bosque encontraram os três cadáveres.

Então, sem perder um instante, sem mesmo fazê-los transportar, foram correndo a Wynendaele, onde estava o conde, para denunciar o crime e pedir-lhe vingança.

Balduíno ouviu-os com a atenção e a gravidade que exigia semelhante denúncia. Quando terminaram o relato e o conde lhes tinha feito detalhar todas as circunstâncias, perguntou-lhes se não tinham alguma suspeita sobre quais seriam os autores do assassinato. Os pobres servidores entreolharam-se, tremendo e sem ousar responder.

Mas interrogados novamente pelo conde de maneira mais premente, responderam que as únicas pessoas sobre as quais podiam recair suas suspeitas, se lhes era dado ousar suspeitar de poderosos senhores, eram Henry de Calloo e seus dois companheiros.

A acusação era tanto mais grave quanto atingia personagens dos mais elevados. Balduíno então ordenou que os denunciantes fossem mantidos sob vigilância num castelo, enquanto ia sozinho a Thourout.

Com efeito, mandou selar seu cavalo, e sem dizer a ninguém para onde ia nem permitir que ninguém o acompanhasse, partiu a galope. De resto, como era habitual vê-lo fazer essas expedições solitárias, e contanto que levasse seu machado, ninguém se preocupava. Seus criados viram-no afastar-se ao longe, dizendo entre si:

— Bem, amanhã ouviremos contar alguma coisa de novo.

Atravessando a grande praça de Thourout, Balduíno notou um grande ajuntamento de povo, que começava a se dissolver. É que naquele mesmo lugar acabavam de ser executados dois falsários de moedas, de sorte que os caldeirões cheios de azeite fervente, onde haviam sido jogados, estavam ainda lá.

Balduíno, ao passar, ordenou que se reacendesse o fogo sob os caldeirões, a fim de que o azeite se mantivesse num grau de ebulição conveniente, e continuou seu caminho.

Chegando ao albergue onde estavam hospedados Henry de Calloo e seus dois companheiros, fez-se reconhecer pelo hospedeiro, e como eles haviam saído, subiu com este ao quarto.

Seus cofres estavam no chão e fechados a chave. O conde mandou romper as fechaduras, e aí encontraram as jóias dos mercadores.

Logo Balduíno fez prender Henry de Calloo e seus dois cúmplices. Tendo-os feito conduzir à praça pública, onde os aguardava, interrogou-os com tal severidade que, graças às provas que o conde tinha já em mãos, não ousaram sequer por um instante negar seu crime.

Assim que a confissão foi feita, e sem dar-lhes tempo de tomar nenhuma providência, o conde fê-los agarrar, vestidos e armados como estavam, e os fez jogar nos caldeirões, à vista do povo, que teve assim dois espetáculos no mesmo dia.

Um outro dia, Balduíno acabava de ter a assembléia de seus Estados em Yprès. Como era uma grande cerimônia, e para dar-lhe ainda mais brilho, havia naquele dia armado seis cavaleiros, todos pertencentes às mais nobres famílias das Flandres.

Segundo o juramento habitual, estes haviam prometido dar proteção aos fracos, às viúvas e aos órfãos, mediante o que Balduíno lhes dera a accolade com suas próprias mãos.

Concluída a cerimônia, Balduíno retornou a seu castelo, acompanhado dos novos cavaleiros que armara. Quando atravessavam a floresta dos seus domínios, notou os preparativos de uma festa.





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terça-feira, 19 de março de 2024

Enrique conde de Champagne, largo com Deus e com os homens

Luis Dufaur
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Enrique, conde de Champagne e Brie foi chamado o conde Enrique o Largo, e ele mereceu bem esse nome, pois ele foi largo com Deus e com os homens.

Que foi generoso em relação a Deus atestam-no a igreja de Santo Estevão de Troyes e as outras igrejas que ele fez construir na Champagne.

E generoso em relação aos homens como ficou manifesto no caso de Artaud de Nogent e em muitas outras ocasiões.

Artaud de Nogent era o burguês em quem o conde mais confiança tinha no mundo. Ele era tão rico que pagou de seu próprio bolso o castelo de Nogent l’Artaud.

Aconteceu que o conde Enrique descia de seu palácio em Troyes para ouvir a Missa em Santo Estevão num dia de Pentecostes.

Embaixo da escadaria um nobre cavaleiro pobre se pôs de joelhos e lhe disse estas palavras:

‒ “Meu senhor, eu vos rogo em nome de Deus que me deis do vosso para que eu possa casar minhas filhas que vós vedes aqui”.

Catedral de Troyes, região da Champagne, França
Artaud, que vinha atrás do conde, disse ao cavaleiro pobre:

‒ “Senhor cavaleiro, não é cortês pedir a meu senhor, pois ele deu tanto que não tem mais nada para dar.”

O generoso conde voltou-se para Artaud e lhe disse:

‒ “Senhor vilão, vos não dizeis verdade dizendo que eu não tenho mais nada para dar: eu vos tenho a vós mesmo!”

E se dirigindo ao cavaleiro, disse:

‒ “Tende, pois, senhor cavaleiro, eu vos dou ele, e eu fico garante da doação”.

O cavaleiro não perdeu o sangue frio, e pegou Artaud pelo manto dizendo que não largaria enquanto ele não pagar.

E antes do conde se afastar, Arnaut já tinha entregue quinhentas livras.



(Fonte: Joinville, “Vie de Saint Louis”, Livre de Poche, Garnier, Paris, nº91)



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