quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sagração do rei em Reims
Santa Joana d’Arc – 5


Vontade de Deus: sagrar o rei em Reims

O rei Carlos VII encontrava-se em Loches quando lhe chegou a notícia da libertação de Orleans. Em sua companhia encontravam-se vários nobres e bispos. Joana bateu na porta. Dunois narra o fato:

“Quase imediatamente ela entrou e se pôs de joelhos e, enquanto abraçava as pernas do rei, disse: ‘Gentil Delfim, não percais mais tempo em tão intermináveis conselhos, mas vinde a Reims o mais cedo possível para receber a coroa digna de vós’”.

A Corte ficou perplexa e pediu explicações. Joana, segundo Dunois, disse então:

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Uma donzela que desfez o melhor exército da época
Santa Joana d’Arc – 4


As vozes no campo de batalha

O príncipe Jean de Valois (1409-1476), duque de Alençon, chefe dos exércitos reais, foi uma dos mais importantes testemunhas da condução de Santa Joana d’Arc na guerra. Ele a acompanhou lado a lado nos principais episódios de sua epopeia.

Quando a santa entrou na Guerra dos Cem Anos, o pretendente inglês e seu aliado, o Duque de Borgonha, dominavam grande parte da França.

Carlos VII, o legítimo pretendente à coroa francesa, era apelidado de “reizinho de Bourges”, de tal maneira seu território estava reduzido. Seu exército estava dizimado, desmoralizado, mal vestido e mal alimentado.

A batalha decisiva travava-se em volta de Orleans, sobre o rio Loire. A cidade era fiel a Carlos VII, mas os ingleses construíram bastiões e linhas que impediam levar alimentos e munições aos defensores. Orleans ia cair pela fome.

“Tendo visto depois as fortificações construídas pelos ingleses, posso dizer que os bastiões do inimigo foram tomados mais por milagre do que pela força das armas. Isso é verdadeiro, sobretudo quanto ao forte de Les Tourelles, na extremidade da ponte, e ao forte dos Agostinianos”, declarou o príncipe Jean.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Missão profética da Donzela de Orleans
Santa Joana d’Arc – 3


As vozes e o rei da França

D. Cauchon prometera aos ingleses que faria Joana cair em suas rédeas. Estes, por sua vez, precisavam comprovar que as vozes – que guiaram todo o percurso épico e empolgante da Santa – provinham do demônio.

Essas vozes sobrenaturais levaram a Donzela de início até o pretendente legítimo ao trono da França, o qual se encontrava no castelo de Chinon.

Quando ela entrou para falar com ele, um cavaleiro riu de sua virgindade. O confessor de Joana, Pe. Jean Pasquerel, viu o fato:

“‘Ah! – disse-lhe Joana – em nome de Deus, renega isso, tu que estás tão próximo da morte!’. Menos de uma hora depois, esse homem caiu na água e se afogou”.

É bem conhecido o episódio ocorrido depois: a fim de testar a autenticidade da missão da Pucelle, o rei colocou um cortesão no lugar em que se encontrava e fingiu ser apenas um dos presentes.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tribunal tenta enganar a heroína.
Santa Joana d’Arc – 2

Santa Joana d'Arco: estátua equestre na Califórnia
Santa Joana d'Arco: estátua equestre na Califórnia


continuação do post anterior

Procura de pretextos

O tribunal devia declará-la ré de contatos com o demônio para desmoralizar sua imensa fama. D. Cauchon procurava um pretexto para declará-la herética, tendo-lhe exigido várias vezes: “Fala teu Pai Nosso”. A santa respondia sempre: “Ouvi-me em confissão, eu vo-lo direi com muito gosto”.

Incomodado pelo pedido, respondeu encolerizado o mau eclesiástico: “Joana, você está proibida de sair da prisão sem nossa aprovação, sob pena de ser assimilada a um culpado convicto de heresia”.

– “Eu não aceito essa proibição. Se eu fugir, ninguém terá direito de dizer que violei a palavra dada porque não a engajei a pessoa alguma”.

– “Em meu país [Domrémy, Lorena] me chamam de Joaninha. Na França, desde que cheguei me chamam de Joana. Minha mãe me ensinou o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo. Eu não aprendi minha fé de mais ninguém senão de minha mãe”.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A epopeia gloriosa de Santa Joana d’Arc
entra pelo III milênio
Santa Joana d’Arc – 1

Santa Joana d'Arc: estátua em Paris, do escultor Frémiet
Estátua em Paris, de Frémiet


Em 6 de janeiro de 2012 comemorou-se o sexto centenário do nascimento de Santa Joana d’Arc na hoje quase esquecida aldeia de Domrémy-la-Pucelle, na França.

Pastorinha chamada por Deus para realizar um feito sem igual no Novo Testamento, ela restaurou a França, país então sem esperança, arruinado pelo caos político-religioso e ocupado em larga medida pelos ingleses.

Reinstalou no trono o rei legitimo e levou à vitória seus desanimados exércitos.

Considerada como profetisa do Novo Testamento, a santa gravou o nome de Jesus na bandeira com que conduzia as tropas ao combate.

Dois séculos e meio depois, o Sagrado Coração viria pedir a Luis XIV, rei da França, mediante aparição à vidente Santa Margarida Maria Alacoque, que gravasse sua imagem nas bandeiras reais.

Aprisionada por ocasião de uma escaramuça, Santa Joana d’Arc foi julgada por um tribunal iníquo que a condenou a ser queimada como bruxa na cidade de Rouen, em 1431.

Hoje, porém, a história da santa, canonizada em 1920, faz vibrar o mundo.

Muitos eclesiásticos e inúmeros de seus devotos estão certos de que sua missão não terminou.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

São Domingos e a Inquisição - 2

continuação do post anterior



São Domingos teria sido inquisidor?

Não são raros os historiadores dominicanos que sustentam a opinião de que o fundador de sua Ordem teria sido o primeiro inquisidor. O próprio Papa Sixto V se fez eco dessa opinião na bula de canonização de São Pedro de Verona (1588).

Segundo o "Dizionario di Erudizione Storico-Ecclesiastico", "o Pontífice Gregório IX, a pedido de São Raimundo de Penaforte, dominicano, confirmou em Tolosa o primeiro tribunal da Inquisição, já erigido por Inocêncio III, nomeando para inquisidores os religiosos dominicanos, cujo Santo Fundador havia trabalhado com feliz sucesso na conversão dos albigenses, razão pela qual o Pe. João do Gabaston escreveu numa apologia que São Domingos foi o primeiro inquisidor".

Note-se que São Raimundo de Penaforte, que exerceu o cargo de inquisidor, entrara para a Ordem dos Dominicanos em 1222, oito meses após a morte de São Domingos. Em tão breve prazo, já teria a Ordem perdido o espírito que lhe inculcara o Santo Fundador?

Também Oldoino diz que Inocêncio III fez de São Domingos o primeiro inquisidor.

terça-feira, 21 de junho de 2011

São Domingos e a Inquisição - 1


Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Um conhecido escritor agnóstico dizia que as cruzadas contra os albigenses e o extermínio dos focos heréticos no sul da França atrasaram de alguns séculos o advento do humanismo renascentista e da nova ordem de coisas que seria instaurada no mundo.

Maior elogio não poderia ser feito àqueles que, como São Domingos, contribuíram para livrar a Cristandade daquele flagelo.

É oportuno lembrar um aspecto freqüentemente deformado da personalidade do fundador da Ordem dos Pregadores, em cujos membros, ao aprovar a nova regra, o Papa Honório III, em palavras proféticas, entreviu "futuros atletas da fé e verdadeiros luzeiros do mundo".

Queremos nos referir ao aspecto combativo da vida desse insigne santo e ao apoio dado por ele e por seus filhos à Santa Sé na repressão das heresias, pois se acha neste concurso prestado pelo piedoso apóstolo do Rosário à defesa da Verdade a principal origem das incompreensões e das injustiças que sofre por parte de muitos de seus inimigos.

A apregoada "intolerância medieval"

Com efeito, não são poucos os adversários da Igreja que, movidos pela paixão e pelo sectarismo, fazem convergir em São Domingos toda a "intolerância medieval", nele vendo a figura sinistra do primeiro inquisidor, a mandar para a fogueira as "pobres vítimas da superstição", e que não lhe perdoam o fato de se colocar solidário com a cruzada organizada a pedido do Papa Inocêncio III contra os albigenses.

Mostrando assim os hereges como vítimas inocentes da violência dos católicos, e classificando como um crime os métodos inquisitoriais, esses detratores de São Domingos não somente deformam a personalidade do grande santo espanhol, mas sobretudo cobrem de injúrias a Igreja e a Ordem Dominicana, a primeira por ter sido a principal responsável pela criação desses tribunais, e a segunda pelo apoio decidido que deu a essa instituição no correr dos séculos.

Tão grande e generalizada tem sido esta campanha contra o Bem-aventurado fundador da Ordem dos Pregadores, que alguns autores católicos como o Pe. Lacordaire, impressionados com ela, procuraram defender São Domingos mediante o argumento de que ele nada teve que ver com a Inquisição.

Este método apologético, mesmo no caso de conseguir isentar São Domingos de qualquer compromisso com a Inquisição, tem a seu desfavor o fato de deixar pairando no ar as acusações que, paralelamente e no mesmo sentido, são feitas à Santa Igreja e à Ordem Dominicana, mas que constituíram os tesouros mais caros ao coração do grande patriarca.

Com efeito, três foram os elementos que cooperaram na obra da Inquisição: os Soberanos Pontífices, através dos inquisidores que eles tinham o hábito de nomear entre as Ordens que formam a milícia da Santa Sé na Idade Média — os dominicanos ou frades pregadores e os franciscanos ou frades menores; os bispos ou os ordinários dos lugares, diretamente ou por seus delegados; enfim, o poder civil, que punha à disposição da Igreja o braço secular, punindo a heresia como uma ameaça à segurança do Estado.

Vivendo em plena época do advento da Inquisição, tomando parte ativa e saliente no drama da heresia albigense, teria São Domingos se mostrado alheio às medidas tomadas pela Igreja para debelar aquele terrível incêndio? E será a santidade incompatível com o mister de inquisidor?

Defesa da civilização

Foi no Concílio de Latrão, de 1179, que Alexandre III promulgou o primeiro sistema completo de repressão que a Igreja haja imaginado contra a heresia. Ora, as medidas então adotadas visavam antes de tudo os hereges que, não contentes de professar opiniões heterodoxas, subvertiam a sociedade por suas violências e propagação de falsos princípios.

Nenhuma pessoa honesta e sensata pode deixar de aplaudir o Cânon 27 do Concílio Geral de Latrão, que consagrou a legítima defesa da civilização naquela época: "Estando os brabanções, aragoneses, navarros, bascos, coteraux e triaverdinos exercendo tão grandes crueldades sobre os cristãos, não respeitando nem igrejas nem mosteiros e não poupando viúvas, órfãos, velhos e crianças, não tendo consideração nem para a idade nem para o sexo, mas derrubando e devastando tudo como pagãos, ordenamos a todos os fiéis, pela remissão de seus pecados, que se oponham corajosamente a essas selvagerias e defendam os cristãos contra esses infelizes". São esses hereges acusados de exercer devastações nas regiões que ocupam, e se Alexandre III ordena contra eles uma cruzada, é para remediar grandes desastres, ut tantis claudibus re viribiliter opponant (Decreto de Gregório IX, v. VII, 8).

Doutrinas anti-sociais

Segundo Guiraud, que é um dos mais abalizados historiadores da Inquisição, o exame das doutrinas heterodoxas dos séculos XI e XII e a enumeração das perturbações que elas provocaram demonstra:

Jan Huss, heresiarca queimado em Praga1) Que depois do ano mil a heresia deixa de ser uma opinião puramente teológica, destinada a ser discutida no recinto das escolas, mas se transforma cada vez mais em doutrinas anti-sociais e anárquicas, em oposição não somente com a ordem social da Idade Média, mas ainda com a ordem social de todos os tempos.

2) Que essas doutrinas anarquistas provocaram movimentos subversivos e perturbações profundas no seio do povo, e que assim a heresia que as informava se transformou num perigo público.

3) Que, desde então, a autoridade temporal teve tanto interesse quanto a autoridade espiritual em combater e em destruir a heresia.

4) Que essas duas autoridades, depois de haver agido separadamente durante muito tempo — o Estado pelas condenações de seus tribunais à forca e à fogueira, e a Igreja pela excomunhão e pelas censuras eclesiásticas — acabaram por unir seus esforços em uma ação comum contra a heresia.

5) Que essa ação conjunta inspirou as decisões do Concílio de Latrão em 1179 e do Concílio de Verona em 1184.

Eis, portanto, bem delineado o caráter da Inquisição, tal como foi estabelecido pelas Decretais de Alexandre III no Concílio de Latrão e de Lúcio III no Concílio de Verona. Podemos defini-la como um sistema de medidas repressivas, umas de caráter espiritual, outras de caráter temporal, promovidas simultaneamente pelo poder eclesiástico e pelo poder civil para a defesa da ortodoxia religiosa e da ordem social, ameaçadas igualmente pelas doutrinas teológicas e sociais da heresia (Jean Guiraud, "La Inquisition Médievale").

A Inquisição é de todos os tempos

Além das conjunturas históricas que deram origem à Inquisição, devemos pôr em relevo que essa instituição existe de modo natural e necessário, embora com nomes diferentes, em toda sociedade que deseja sua própria conservação. Como acentua Rohrbacher, toda sociedade, a menos que espose um liberalismo suicida, vigia e persegue aqueles que conspiram ou trabalham pela subversão de sua estrutura. As próprias constituições dos Estados modernos cominam penas para quem tentar derrubar a forma de governo existente, em geral a republicana.

Ora, a constituição da humanidade cristã se baseia nos princípios de que é guardiã e alma a Igreja Católica. Os povos vitalmente cristãos, impérios, reinos, repúblicas, são membros vivos dessa Igreja e vivem de sua vida. Lei fundamental da sociedade cristã — disso a que se dá o nome de Cristandade — tanto para a sua existência quanto para a sua conservação e aperfeiçoamento, é a lei católica. E se não há verdadeira civilização sem a verdadeira Religião, como diz Pio X, é claro que, defendendo a verdadeira Religião, os cristãos estão defendendo a própria causa da verdadeira civilização.

Estas verdades estavam arraigadas no espírito da sociedade medieval, sincera e coerentemente católica. Não passam, portanto, de pura declamação as acusações violentas que são freqüentemente dirigidas à Igreja a este propósito. Provam apenas a ignorância e a paixão de seus autores, que transformam em mártires da liberdade de pensamento os hereges que, por seu fanatismo, desencadearam as piores desordens na sociedade de seu tempo.

continua no próximo post

(Autor: José de Azeredo Santos, "Catolicismo" nº 8, agosto de 1951)



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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Santa Joana d’Arc, Guerreira do Altíssimo (2)

Santa Joane d'Arc auxilia a cidade de Compiegne, St-Jacques de Compiègne, Herois medievaisDisse ao rei que vinha da parte de “seu Senhor”, o Rei do Céu, a quem pertencia o reino da França, e não a ele.

Mas "seu Senhor” queria muito confiar a guarda desse reino ao rei, ela o levaria a Reims para ser coroado.

Para provar o caráter divino de sua missão, em particular revelou a Carlos VII um segredo que somente ele e Deus poderiam saber.

A retumbante vitória que Joana alcançou, fazendo levantar o cerco de Orleans, conseguiu mudar o quadro de então. O caminho para a sagração em Reims estava praticamente aberto.

Após essa vitória, a donzela foi ter com Carlos VII para apressá-lo a se fazer sagrar em Reims, porque — explicava ela — “eu durarei um ano, e não mais”, como lhe haviam dito as "Vozes". Era preciso, pois, apressar-se.

Após a sagração do rei Carlos VII na Catedral de Reims, Joana afirmou ao Arcebispo daquela cidade:

-- “Praza a Deus, meu Criador, que eu possa agora partir, abandonando as armas, e ir servir meu pai e minha mãe guardando suas ovelhas, com minha irmã e irmãos, que terão grande alegria em me rever!”.

No auge de sua glória, ela não desejava senão retirar-se para a sombra.

No dizer de Dunois, o Bastardo de Orléans, isso fez com que aqueles que a viram e ouviram nesse momento compreendessem que ela vinha da parte de Deus.

Mas Joana cria que sua missão consistia em reconquistar pelas armas todo o território francês sob domínio inglês.

Santa Joana d'Arc, santuário de Bois Chenu, Lorena, Herois medievais
Entretanto o rei, não lhe deu o apoio necessário. Os soldados insistiram com ela para que continuasse a comandar as tropas. Aquiesceu, mas limitou-se a comandar seguindo os conselhos dos generais, pois suas "Vozes" não mais lhe indicavam o que fazer. Elas se limitavam a lhe dizer que seria feita prisioneira e vendida aos ingleses, mas que confiasse, pois Deus não a abandonaria.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Santa Joana d’Arc, Guerreira do Altíssimo (1)

Santa Joane d'Arc recebe as vozes, St-Jacques de Compiègne, Herois medievais

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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O Reino Cristianíssimo da França em 1429 estava prestes a desaparecer. Justamente castigada por Deus com quase cem anos de guerras contra os ingleses, como consequência do pecado de revolta contra o Papado, cometido no início do século XIV por seu Rei Filipe IV, o Belo.

Seu território estava reduzido a menos da metade e os ingleses cercavam a cidade de Orleans, última barreira que lhes impedia a conquista do resto do país.

O herdeiro do trono, o delfim Carlos, duvidava da legitimidade de seus direitos, e seus capitães e soldados estavam desmoralizados.

"O Analista de Saint Denis, começando a narração do ano de 1419, escrevia: 'Era de se temer, segundo a opinião das pessoas sábias, que a França, essa mãe tão doce, sucumbisse sob o peso de angústias intoleráveis, se o Todo Poderoso não se dignasse atender do alto dos Céus as suas queixas.

Assim apelou-se para as armas espirituais: cada semana faziam-se procissões gerais, cantavam-se piedosas ladainhas e celebravam-se Missas solenes.

Em sua terrível decadência, sentindo-se incapaz de salvar-se a si mesmo, o Delfim guardava sua fé no Deus de Clóvis, de Carlos Magno e de São Luís, a sua confiança na Santíssima Virgem".

Santa Joana d'Arc, Notre Dame, Paris, Herois medievais
Em sua infinita misericórdia, quis Deus atender essas preces, e escolheu para salvar a França não um grande chefe de guerra ou um hábil político, mas uma virgem, a fim de mostrar que era unicamente d'Ele e de seu poder que vinha a vitória.

Joana nasceu na festa da Epifania de 1412, na aldeia de Domrémy (Lorena francesa).

Seus pais, Jacques d’Arc e Isabelle Romée, eram “excelentes trabalhadores e fervorosos católicos, que serviam a Deus com um coração simples e educavam seus filhos no trabalho e no temor de Deus”, conforme testemunho de contemporâneos.

Desde seus primeiros anos sua conduta foi pura e irrepreensível. Logo que a idade o permitiu, entregou-se aos trabalhos da casa. Mais que uma criança precoce, Joana era uma menina virtuosa.

Tinha um coração bom e compassivo, uma prudência madura; era modesta, humilde mas determinada, e apontada como exemplo em toda a aldeia.

A inocência de vida e a simplicidade de coração de Joana atraíram-lhe os olhares do Céu. E foi assim que lhe apareceu por vez primeira o Arcanjo São Miguel, rodeado de Anjos.

Santa Joana d'Arc, entrada em Orleans, Herois MedievaisO Príncipe da milícia celeste narrou-lhe o triste estado (“grande penúria”) em que estava a França, dizendo-lhe que ela deveria apressar-se em socorrê-la; e que Santa Margarida e Santa Catarina viriam também, da parte de Deus, para incentivá-la a isso. E elas vieram.

Falaram também da “grande penúria” e da necessidade de ela cumprir essa missão.

Joana mostrou-se digna da missão que lhe foi confiada. Seguindo as diretrizes do “Senhor São Miguel, da Senhora Santa Catarina e da Senhora Santa Margarida”, venceu todas as objeções e foi avante. E, de fato, chegou à corte do rei, em Chinon.

Como se tivesse passado toda a vida nesse ambiente, fez com graça as três reverências de praxe diante do rei.

O futuro Carlos VII, para prová-la, estava disfarçado entre os 300 nobres presentes, e um deles tomara seu lugar.

Isso não atrapalhou a donzela, que foi direto a ele. Segundo um contemporâneo, “seu discurso foi abundante, poderoso e inspirado, como o de uma profetiza”.



Santa Joana d'Arco, estátua em Paris





Autor: Plinio Maria Solimeo



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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A morte de Gonçalo Mendes da Maia, «O Lidador» ‒ V

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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CAPÍTULO VII

Quem hoje ouvir recontar os bravos golpes que no mês de julho de 1170 se deram na veiga da fronteira de Beja, notá-los-á de fábulas sonhadas; porque nós, homens corruptos e enfraquecidos por ócios e prazeres de vida afeminada, medimos por nossos ânimos e forças, a força e o ânimo dos bons cavaleiros portugueses do século XII; e todavia, esses golpes ainda soam, através das eras, nas tradições e crônicas, tanto cristãs como agarenas.

Depois de deixar assinadas muitas armaduras mouriscas, o Lidador vibrara pela última vez a espada e abrira o elmo e o crânio de um cavaleiro árabe.

O violento abalo que experimentou lhe fez rebentar em torrentes o sangue da ferida que recebera das mãos de Almoleimar e, cerrando os olhos, caiu morto ao pé do Espadeiro, de Mem Moniz e de Afonso Hermingues de Baião, que com eles se ajuntara.

Repousou, finalmente, Gonçalo Mendes da Maia de oitenta anos de combates!

Já a este tempo cristãos e mouros se haviam descido dos cavalos e pelejavam a pé.

Traziam-se assim à vontade, e recrescia a crueza da batalha.

Entre os cavaleiros de Beja espalhou-se logo a nova da morte do seu capitão, e não houve ali olhos que ficassem enxutos.

O despeito do próprio Mem Moniz deu lugar à dor, e o velho de Riba-Douro exclamou entre soluços:

— Gonçalo Mendes, és morto! Nós todos quantos aqui somos, não tardará que te sigamos; mas ao imenso, nem tu, nem nós ficaremos sem vingança!

— Vingança! — bradou o Espadeiro com voz rouca, e rangendo os dentes. Deu alguns passos e viu-se o seu montante reluzir, como uma centelha em céu proceloso.

Era Ali-Abu-Hassan: Lourenço Viegas o conhecera pelo timbre real do morrião.

CAPÍTULO VIII 

Se já vivestes vida de combates em cidade sitiada, tereis visto muitas vezes um vulto negro que em linha diagonal corta os ares, sussurrando e gemendo.

Rápido, como um pensamento criminoso em alma honesta, ele chegou das nuvens à terra, antes que vos lembrásseis do seu nome.

Se encontrou na passagem ângulo de torre secular, o mármore converte-se em pó; se atravessou, pelas ramas de árvore basta e frondosa, a folha mais virente e frágil, o raminho mais tenro é dividido, como se, com cutelo sutilíssimo, mão de homem lhe houvera cerceado atentamente uma parte; e, todavia, não é um ferro açacalado: é um globo de ferro; é a bomba, que passa, como a maldição de Deus.

Depois, debaixo dela, o chão achata-se e a terra espadana aos ares; e, como agitada, despedaçada por cem mil demônios, aquela máquina do inferno estoura, e de roda dela há um zumbir sinistro: são mil fragmentos; são mil mortes que se derramam ao longe.

Então faz-se um grande silêncio vêem-se corpos destroncados, poças de sangue, arcabuzes quebrados, e ouvem-se o gemer dos feridos e o estertor dos moribundos.

Tal desceu o montante do Espadeiro, roto dos milhares de golpes que o cavaleiro tinha descarregado.

O elmo de Ali-Abu-Hassan faiscou, voando em pedaços pelos ares, e o ferro cristão esmigalhou o crânio do infiel, abriu-o até os dentes. Ali-Abu-Hassan caiu.

— Lidador! Lidador! — disse Lourenço Viegas, com voz comprimida.

As lágrimas misturavam-se-lhe nas faces com o suor, com o pó e com o sangue do agareno, de que ficou coberto. Não pôde dizer mais nada.

Tão espantoso golpe aterrou os mouros. Os portugueses seriam já apenas sessenta, entre cavaleiros e homens d'armas: mas pelejavam como desesperados e resolvidos a morrer.

Mais de mil inimigos juncavam o campo, de envolta com os cristãos.

A morte de Ali-Abu-Hassan foi o sinal da fugida.

Os portugueses, senhores do campo, celebravam com prantos a vitória. Poucos havia que não estivessem feridos; nenhum que não tivesse as armas falsadas e rotas.

O Lidador e os demais cavaleiros de grande conta que naquela jornada tinham acabado, atravessados em cima dos ginetes, foram conduzidos a Beja.

Após aquele tristíssimo préstito, iam os cavaleiros a passo lento, e um sacerdote templário, que fôra na cavalgada com a espada cheia de sangue metida na bainha, salmodiava em voz baixa aquelas palavras do livro da Sabedoria:

“Justorum autem animae in manu Dei sunt, et non tangent illos tormentum mortis”.


FIM


(Fonte: Universidade de Amazonia . NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, Av. Alcindo Cacela, 287 – Umarizal, CEP: 66060-902, Belém – Pará, www.nead.unama.br, e-mail: nead@unama.br)



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