quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A epopeia gloriosa de Santa Joana d’Arc
entra pelo III milênio
Santa Joana d’Arc – 1

Santa Joana d'Arc: estátua em Paris, do escultor Frémiet
Estátua em Paris, de Frémiet


Em 6 de janeiro de 2012 comemorou-se o sexto centenário do nascimento de Santa Joana d’Arc na hoje quase esquecida aldeia de Domrémy-la-Pucelle, na França.

Pastorinha chamada por Deus para realizar um feito sem igual no Novo Testamento, ela restaurou a França, país então sem esperança, arruinado pelo caos político-religioso e ocupado em larga medida pelos ingleses.

Reinstalou no trono o rei legitimo e levou à vitória seus desanimados exércitos.

Considerada como profetisa do Novo Testamento, a santa gravou o nome de Jesus na bandeira com que conduzia as tropas ao combate.

Dois séculos e meio depois, o Sagrado Coração viria pedir a Luis XIV, rei da França, mediante aparição à vidente Santa Margarida Maria Alacoque, que gravasse sua imagem nas bandeiras reais.

Aprisionada por ocasião de uma escaramuça, Santa Joana d’Arc foi julgada por um tribunal iníquo que a condenou a ser queimada como bruxa na cidade de Rouen, em 1431.

Hoje, porém, a história da santa, canonizada em 1920, faz vibrar o mundo.

Muitos eclesiásticos e inúmeros de seus devotos estão certos de que sua missão não terminou.



Pelo contrário, que a santa vai continuá-la em nossos dias, comandando do Céu a restauração da Igreja e da sociedade temporal. Ideia que explica a incrível retomada de interesse pela Donzela de Domrémy.

Catedral de Orleans enfeitada pelo 600º aniversário da nascença
Catedral de Orleans enfeitada pelo 600º aniversário da nascença
Quem foi Joana d’Arc e como eram as vozes do Céu que ouvia? Como fez o que parecia impossível?

Leiamos suas palavras, que expõem a proeza que realizou, seu martírio e sua missão póstuma, registrados no processo que a condenou.

Analisemos também os depoimentos de muitos que a viram em pessoa.

Com esses dados reconstituiremos não toda a sua história, mas alguns momentos-chave da odisseia da virgem-guerreira.


Santa Joana d’Arc enfrenta um tribunal ilegítimo

Numa escaramuça junto às muralhas de Compiègne, Santa Joana d’Arc foi aprisionada e vendida aos ingleses que haviam invadido a França.
Orleans comemorou o 600º aniversário da nascença de Santa Joana d'Arc
Orleans comemorou o 600º aniversário da nascença da Santa

Estes queriam condená-la como bruxa para tentar vencer a fabulosa reação que ela inspirou.

Porém, como simples militares, eles não tinham meios para realizar isso. Necessitavam recorrer a maus religiosos do país ocupado.

Promoveram então a instalação de um tribunal composto por mais de 50 eclesiásticos e legistas dirigidos pelo bispo de Beauvais, D. Pierre Cauchon.

Este tribunal, que a condenou em 1431, era destituído de qualquer competência jurídica, civil-criminal ou canônica.

As palavras da santa e de seus injustos interrogadores foram registradas com minúcia pelos escreventes do tribunal.

Anos depois, num processo concluído em 1455 e validamente conduzido, as legítimas autoridades civis e eclesiásticas declararam nulo o processo contra a santa, cuja memória reabilitaram.

(O processo redigido em latim e francês antigo, foi traduzido pelo monge beneditino R. P. Dom H. Leclercq (1906) e reeditado pelas Éditions Saint-Remi (2005). O trabalho inclui os depoimentos escritos de diversas testemunhas apresentados no processo de reabilitação. Texto completo do processo usado para esta série em: http://www.abbaye-saint-benoit.ch/saints/jeanne/index.htm.).

Por fim, um processo de beatificação realizado no século XX constatou a heroicidade de suas virtudes, e Bento XV a canonizou em 1920.

O Bispo Cauchon, chefe do tribunal

O advogado Nicolas de Bouppeville, contemporâneo de Santa Joana d’Arc, depôs da seguinte forma sobre o presidente do tribunal:

“Eu jamais acreditei que o bispo de Beauvais estivesse engajado no processo pelo bem da Fé ou por zelo da Justiça. Ele obedecia simplesmente ao ódio que lhe inspira o devotamento de Joana ao rei da França; longe de capitular diante do medo aos ingleses, ele não fez senão executar sua própria vontade. Eu o vi relatar ao regente [o duque de Bedford] e a Warwick suas negociações para comprar Joana; ele não continha seu contentamento e falava com animação”.

O escrevente Guillaume Manchon registrou:

“Numa sessão, Frei Isambard dirigiu-se a Joana, tentando orientá-la e informá-la sobre o alcance da submissão à Igreja. ‘Calai-vos, em nome do diabo’, interrompeu o bispo aos berros”.

O bispo Cauchon estava tomado de ódio e espírito democrático contra a Santa
O bispo Cauchon: tomado de ódio e filosofia igualitária contra a Santa
Um dos agentes do bispo foi o cônego da catedral de Rouen, Nicolas Loyseleur, que fingia simpatizar com Carlos VII e com a Donzela, a quem dava continuamente péssimos conselhos.

D. Cauchon autorizou a santa a confessar-se somente com ele. Foi um dos signatários da condenação e até propôs que a santa fosse torturada.

Sobre ele, testemunhou o escrivão Guillaume Boisguillaume: “Eu acredito que o bispo de Beauvais estava bem a par da situação; sem ele Loyseleur não teria ousado agir como o fez. Muitos assessores do processo murmuravam isso”.

Jean d’Estivets, promotor no processo, também entrou disfarçado na prisão de Joana, declarou Boisguillaume.

“Esse d’Estivet teve a função de promotor e, no caso, mostrou-se muito apaixonadamente favorável aos ingleses, que ele queria agradar. Ele dirigia injúrias ferozes contra Joana. Acredito que Deus o puniu na hora da morte, pois foi encontrado num brejo às portas de Rouen. Aliás, ouvi dizer, como fato de domínio público, que todos os que condenaram Joana pereceram miseravelmente. Foi o caso do clérigo Nicolas Midi (da Universidade Paris, que pronunciou o sermão na hora de Joana ser queimada), atingido pela lepra poucos dias depois, e do bispo Cauchon, que morreu subitamente enquanto fazia a barba”.

Em 24 de fevereiro, enquanto era interrogada, a Donzela pediu licença para falar e disse ao bispo:

– “Eu vos digo: prestai atenção no que vós tentais, porque vós sois meu juiz e assumis uma pesada carga tentando me inculpar”.

Cauchon: “Chega, eu exijo, jura!”.

Santa Joana: “Eu direi com todo gosto o que eu sei, mas não tudo agora. Eu venho da parte de Deus e não tenho nada a fazer neste tribunal. Eu vos rogo que me mandeis de volta a Deus, de quem eu venho”. E acrescentou:

– “O que eu sei bem, é que hoje, quando acordei, a voz me disse para responder com intrepidez. [E voltando-se para D. Cauchon :] Vós, ó bispo, dizeis que sois meu juiz; prestai atenção naquilo que estais a fazer, pois em verdade eu fui enviada da parte de Deus e vós vos colocais num grande perigo”.


Video: Santa Joana d'Arc entra em Orléans
(música dos arqueiros escoceses de Robert Bruce)






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