São Gregório Magno, Menlo Park, Califórnia. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
São Gregório Magno foi papa entre 3 de setembro de 590 e sua morte, em 12 de março de 604. Também ficou conhecido como Gregório, o Dialogador na Ortodoxia por causa de seus “Diálogos” muito diversos dos atuais que procuram o relativismo e o meio termo.
Ele foi um herói da ortodoxia, quer dizer do ensinamento reto, no qual foi um leão. Tal foi a força de seu pensamento que até o heresiarca João Calvino no século XVI teve que se render diante de seus feitos e declarar em seus péssimos escritos antipapistas ou “Institutos” que São Gregório teria sido o “último bom papa”.
São Gregório Magno é Doutor e Padre da Igreja.
Foi o primeiro papa a ter sido monge antes do pontificado e sua obra no Papado, contrariamente à crise atual, foi de um rigor e de uma mansidão que corrigiu todos os abusos ou fraquezas que encontrou.
Nasceu por volta do ano 540 em Roma e seus pais o batizaram Gregorius, que em grego significa “vigilante”, em inglês 'watchful'. O nome deriva de outro semelhante que significa “despertado do sono” ou “acordar alguém”.
E o nome resultou apropriado pois acordou do sono os católicos amolecidos e dorminhocos, notadamente aos bispos mundanizados.
Sua família era altamente distinta e ligada a reis e pontífices. Ele morava na mesma rua – atualmente chamada de “Via di San Gregorio” - onde estavam os palácios dos imperadores romanos, no Monte Palatino.
São Gregório Magno, milagre eucarístico |
Sem dúvida foi muito mais danosa que o nosso coronavírus pela carência da medicina. Em algumas regiões, até um terço da população morreu, provocando profundos traumas emocionais e espirituais nos sobreviventes.
Mas Gregório não era de sair em pânico diante das complicações.
Ele recebeu uma educação de elite se destacando em todas as ciências e artes. Chegou a ser prefeito de Roma, o mais alto posto civil na cidade, com apenas 33 anos de idade.
Mas ele não se conformava com a mediocridade burocrática. Quando seu pai morreu, converteu a villa da família num mosteiro dedicado a Santo André, hoje rebatizado San Gregorio Magno al Celio.
Gregório compreendia a grandeza da solidão e fazia jus a seu nome porque “naquele silêncio do coração, enquanto permanecemos vigilantes no interior através da contemplação, estamos como que dormindo para tudo que está no exterior”.
Para Gregório monge é aquele que está numa “busca ardente pela visão de nosso Criador”.
Em 579, o Papa Pelágio II escolheu Gregório como embaixador papal na corte imperial em Constantinopla, equivalente à função moderna do Núncio apostólico, o mais alto posto diplomático da época que ocuparia até 586.
Gregório passou se relacionou com a elite bizantina da capital e tornou-se tão popular na classe mais alta que se tornou “um pai espiritual para um grande e importante segmento da aristocracia de Constantinopla”.
São Gregório Magno, seu trono na abadia de Monte Celio |
Gregório voltou para Roma em 585 para viver em seu mosteiro no Monte Célio, mas em 590, foi eleito por aclamação para suceder a Pelágio II, morto em mais uma epidemia de peste que assolou a cidade.
No trono de São Pedro sua primeira preocupação foi exaltar a vida contemplativa dos monges.
São Gregório enviou a Santo Agostinho de Cantuária, seu sucessor no Mosteiro de Santo André a evangelizar os anglo-saxões das ilhas britânicas.
Ele foi o primeiro a fazer uso frequente do termo “Servo dos Servos de Deus” (Servus Servorum Dei) como título papal conservado até hoje mas tal vez não tão posto seriamente na prática.
Mas a situação era muito difícil.
Os bispos da França estavam sob forte influência de famílias ricas e politicamente poderosas; na Espanha, os bispos pouco ligavam para Roma; na Itália estavam envolvidos nas intrigas e guerras locais.
Em 590, a Itália romana encontrava-se em ruínas. Roma estava lotada com refugiados de todos os tipos, vivendo nas ruas sem nenhuma condição de saúde ou alimentação. Todos, inclusive os nobres e importantes, tinham pouco para comer.
O Santo Papa Gregório administrou os recursos da Igreja com tanto talento e rigor contável que seus métodos foram imitados durante séculos.
Substituiu os administradores moles e o bom clero foi muito bem provido. A Teologia da Libertação hoje o execraria como um homem do agronegócio porque pôs a produzir as terras da Igreja com metas e estrutura administrativa.
Então os cereais, vinho, queijo, carne, peixe e azeite começaram a chegar a Roma em grandes quantidades. Ele doava tudo em forma de esmolas.
São Gregório Magno, Nossa Senhora da Assunção e São Gregório, Londres |
Aos necessitados de famílias nobres, Gregório enviava na forma de presentes refeições que ele mesmo preparava, preservando-os da indignidade de receber caridade.
Por conta disto tudo, Gregório conquistou completamente as mentes e corações dos romanos, e o papado se estabeleceu desde então como o poder mais influente na Itália.
Em seus escritos ficaram abundantes exemplos do fogo que o animava.
Citamos um a seguir, apertando os bispos que cumprem relaxadamente seus deveres, extraído de “Regra Pastoral” (fim do capítulo 2), coleção de conselhos aos eclesiásticos, por certo grandemente válidos e necessários nos dias de hoje:
Com efeito, ninguém faz mais mal à Igreja do que um homem que, conduzindo-se de maneira indigna, tem renome de santidade ou ocupa um cargo santo.
Porque ninguém ousa denunciar a infâmia desse culpado e é com força que o crime se apresenta como exemplo quando seu autor é honrado em razão do respeito devido à função que ocupa.
Como fugiria dessas pessoas indignas o peso esmagador dessa falta se sua alma prestasse atenção a esta sentença da Verdade:
“Quem escandalizar um desses pequenos que creem em mim, seria melhor que se lhe amarrasse ao pescoço a mó que um asno gira e que se o atirasse ao fundo do mar”?
Ora, “a mó que o asno gira” designa o trabalho e os caminhos tortuosos da vida mundana.
Quanto “ao fundo do mar”, significa a suprema condenação.
Quem desceu ao ponto de ostentar santidade ou que, por palavras ou exemplos, é causa da perdição de alguém, seria melhor que levasse uma vida licenciosa sob hábito secular, encadeado à morte, antes do que ser visto pelos outros como modelo de pecado por causa das funções sagradas que exerce.
Porque se ao menos se perdesse sozinho, a tortura de seu inferno lhe teria sido menos grave.
Porque ninguém ousa denunciar a infâmia desse culpado e é com força que o crime se apresenta como exemplo quando seu autor é honrado em razão do respeito devido à função que ocupa.
Como fugiria dessas pessoas indignas o peso esmagador dessa falta se sua alma prestasse atenção a esta sentença da Verdade:
“Quem escandalizar um desses pequenos que creem em mim, seria melhor que se lhe amarrasse ao pescoço a mó que um asno gira e que se o atirasse ao fundo do mar”?
Ora, “a mó que o asno gira” designa o trabalho e os caminhos tortuosos da vida mundana.
Quanto “ao fundo do mar”, significa a suprema condenação.
Quem desceu ao ponto de ostentar santidade ou que, por palavras ou exemplos, é causa da perdição de alguém, seria melhor que levasse uma vida licenciosa sob hábito secular, encadeado à morte, antes do que ser visto pelos outros como modelo de pecado por causa das funções sagradas que exerce.
Porque se ao menos se perdesse sozinho, a tortura de seu inferno lhe teria sido menos grave.
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