quarta-feira, 11 de julho de 2018

O Santo Condestável: maior gênio militar português se fez monge

São Nuno Alvares Pereira, o Santo Condestável.
São Nuno Alvares Pereira, o Santo Condestável.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





As relíquias do Condestável Dom Nuno Alvares Pereira, que, em religião, tomou o nome de Frei Nuno de Santa Maria haviam sido conduzidas em solene e concorridíssima procissão pelas ruas de Lisboa.

A finalidade foi pedir a canonização do Condestável, que já tinha as honras de Bem-aventurado.

O religioso é considerado o maior estratega, comandante e génio militar português de todos os tempos, comandou forças em número substancialmente inferior ao inimigo e venceu todas as batalhas que travou. Cfr. Wikipedia Nuno Álvares Pereira

O anseio popular impulsionado pela fama de santidade do Condestável que se fez simples monge foi felizmente atendido em 26 de Abril de 2009. Desde então é cultuado nas igrejas de todo o mundo como o Santo Condestável – formalmente São Nuno de Santa Maria ou linguagem corrente Nun'Álvares.

Dom Nuno Alvares Pereira foi o restaurador de Portugal no século XIV, quando essa nação corria o perigo de cair sob o domínio espanhol, em consequência de grave crise dinástica.

Nesta difícil conjuntura, foi Dom Nuno o braço forte, que apoiou e firmou a novel casa de Avis.



Que um reino passe para uma coroa estrangeira, isto não tem grande importância, se tudo se realiza no seio da Cristandade.

Nos tempos em que a ideia de Cristandade era viva, e correspondia a uma realidade palpável e fundamental, não havia os pruridos de nacionalismo extremado que faz a desgraça de nossos dias, dividindo o mundo em porções arrogantes que se entrechocam.

Naqueles tempos, a expressão normal do patriotismo era a fidelidade ao príncipe legítimo.

E, por isso, não era nenhuma catástrofe que uma nação recebesse o governo de uma Casa estrangeira, coisa que aconteceu frequentes vezes, sem qualquer desdouro para grandes e ilustres povos da Cristandade.

Haja vista, por exemplo, a Espanha, governada pela Casa d’Áustria antes de ser regida até hoje pela Casa de Bourbon francesa.

Portanto, não foi apenas para impedir que Portugal fosse governado por Castela que a Providência lhe enviou o santo Condestável.

São Nun'Alvares Pereira reza antes da batalha de Aljubarrota, Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães, Esposende, Portugal.
São Nun'Alvares Pereira reza antes da batalha de Aljubarrota,
Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães, Esposende, Portugal.
Havia questões muito mais profundas envolvidas no conflito entre Castela e as pretensões da incipiente Casa de Avis.

Em primeiro lugar, estava-se no início do grande cisma do Ocidente. Portugal havia escolhido a obediência de Urbano VI, mas a Espanha escolhera a de Clemente VII.

Ora, Urbano VI era o Papa legítimo, ao passo que Clemente VII era antipapa.

Portanto, se Portugal passasse para o domínio de Castela, passaria, “ipso facto”, para a obediência do antipapa.

E isto é que os portugueses, que sempre se salientaram pela inquebrantável fidelidade, absolutamente não queriam.

O rei de Castela, por seguir o antipapa, era para eles herege e cismático, e simplesmente não era possível que Portugal tivesse um rei herege e cismático.

Este era um dos motivos da Providência a favor de Portugal; e, deste motivo, os portugueses estavam conscientes.

Mas havia ainda outro motivo, que estava apenas nos desígnios da Providência: o Portugal da Casa de Avis ia ser o grande Portugal missionário, cuja preocupação era o serviço de Deus, e cujo ideal era a dilatação dos limites da Cristandade.

Era para isto, para estabelecer as bases de uma nação apostólica, para confirmar um reino cuja razão de ser era a fé, que a Providência enviou a Portugal o santo Condestável.

Para uma obra santa, era também necessário um santo.

Dom Nuno Alvares Pereira sempre manifestou a sua missão predestinada.

Batalha de Aljubarrota 14 de Agosto de 1385, as tropas de D. João I, comandadas pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira, British Library, Royal 14 E IV f. 204 recto
Batalha de Aljubarrota 14 de Agosto de 1385.
As tropas de D. João I, comandadas pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira,
British Library, Royal 14 E IV f. 204 recto
Do princípio ao fim de sua vida, sempre encontramos nele o mesmo fervor religioso, a mesma fé ardente, a mesma piedade profunda.

A sua vida guerreira era o corolário de sua vida religiosa.

O grande general invencível, que não conheceu derrotas, e era o terror de seus inimigos, ia buscar a sua força em Deus, em Deus punha a esperança de suas vitórias e, particularmente, apoiava-se em sua devoção filial à Nossa Senhora, a “Santa Maria” de sua grande devoção.

No auge das batalhas, quando a sorte vacila, e o sucesso é incerto, Dom Nuno afasta-se do combate e, num lugar retirado, queda-se longos momentos em oração contemplativa, enquanto os seus capitães o procuravam ansiosos.

Porém, quando ele volta da oração, é como um Anjo do Céu, radiante e cheio de força, que cai sobre os inimigos, fulminando-os, e decidindo a vitória em poucos instantes: o combate continuava a sua oração sobrenatural.

E enquanto foi preciso lutar, ele lutou. Mas quando veio a paz, e o seu rei estava garantido, ele, que podia ter tudo, tudo abandonou, e foi ser o humilde Frei Nuno de Santa Maria.

O grande guerreiro cristão orava e batalhava, porque assim o dever o exigia; agora que ele venceu todas as batalhas, ele vai apenas orar, porque já não há onde batalhar.

Fosse, porém, necessário e lá estaria ele novamente no campo da honra.

Sirva o grande e santo Condestável de exemplo a todos os católicos, principalmente nestes tempos em que a diminuição humana das verdades divinas desfigurou o ideal cristão, transformando-o, não raro, em ridícula caricatura.

Um santo guerreiro não é uma contradição, como o desfibramento do liberalismo religioso o quer considerar, mas é uma sublime coerência.



(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, Legionário, 2 de julho de 1944, N. 621, pag. 2, apud PlinioCorrêadeOliveira.info)




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Um comentário:

  1. Caríssimo, apesar de sêr totalmente verdade o que diz de Dom Nun'Álvres Pereira como Génio Militar, Comandante e Estratega Superiôr, não foi êle o único em Portugal.
    Tivemos vários, especialmente Vice-Reys das Índias, entre outros, o Grande Dom Afonso de Albuquerque.
    Para além disso, tôdos êles, não eram só os maiores de Portugal, mas sim alguns dos maiores de tôdos os Tempos no Mundo.

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