“Alista-se nos guardas, e aumentarás teu brilho”: este slogan dos regimentos de guarda da Rainha da Inglaterra poderia aplicar-se a todos os corpos de honra dos soberanos atuais ou passados.
Os guardas de honra reais tinham sempre gozado de um grande prestígio junto a seus compatriotas, mesmo quando, às vezes, inspirando medo.
Os ‘Suíços’ de Luís XVI resistiram até o último contra a revolta de 10 de agosto de 1792 em frente às Tulherias; os guardas britânicos participaram da batalha de Waterloo.
A história dessas guardas permite atravessar os mais célebres períodos da historia do mundo.
Os turistas que visitam a Itália e sua capital dirigem sempre seus passos para os mesmos monumentos e museus célebres, mas nenhum fica sem ver os guardas suíços.
Este minúsculo território, o Vaticano, situado no coração de Roma, abriga há mais de cinco séculos, o mais antigo exército da Europa.
Apenas aparecem, os guardas são fotografados, mas ninguém imagina, ao lhes admirar os uniformes, que esses homens, aparentemente folclóricos, pertencem a um corpo de elite cuja tradição é ancestral.
A 31 de outubro de 1503, os Cardeais reunidos em conclave elegem Júlio de La Rovere para o trono pontifício sob o nome de Júlio II.
Como seu predecessor Sixto IV, o novo Papa deseja reforçar seu poder temporal.
É-lhe necessário para isso expulsar os franceses da Itália, rompendo notadamente sua aliança com os suíços, cujo papel não é negligenciável nesse predomínio francês.
Júlio II criou então a “guarda suíça'', que ficaria a serviço dos Soberanos Pontífices. Uma centena de homens, recrutada nos cantões de Lucerna e Zurich e posta sob as ordens de Kaspar von Silenem, originário de Uri.
Estes soldados vão logo se revelar combatentes excepcionais, notadamente no saque de Roma, empreendido a 6 de maio de 1527 pelo Condestável de Bourbon por, ordem de Carlos V.
Na Porta delle Fornaci a guarda suíça resiste heroicamente; mas, logo sepultada pelo número dos assaltantes, não pôde impedir a devastação da cidade vaticana.
Só quarenta e dois sobrevivem acompanhando Clemente VII ao Castelo Sant'Angelo.
O intervalo é de curta duração, pois a 5 de junho o Papa rende-se e dissolve a guarda... por vinte anos somente.
Em 1548, Alexandre Farnese, Soberano Pontífice sob o nome de Paulo III, a re-institui sob as ordens de Jost ven Meggen.
Apesar das vicissitudes atravessadas pelo Vaticano no decurso dos séculos seguintes, os guardas suíços permanecem de uma fidelidade exemplar ao Trono de São Pedro, e que lhes vale logo o título invejado de “Defensores da Liberdade da Igreja”.
A celebridade dos guardas suíços liga-se principalmente a seu uniforme. Desenhado por Michelangello, não sofreu reais transformações desde aquela época, a última, tendo sido em 1915, a do coronel Jules Repont.
Em contrapartida, as cores do traje nunca mudaram: o vermelho simboliza a bandeira helvética, enquanto que o azul e o amarelo são as do fundador do corpo.
Os guardas vestem este uniforme de tempos idos em cerimônias oficiais, especialmente quando o Papa recebe algum chefe de Estado estrangeiro.
Em dias comuns, usam um uniforme bastante mais funcional, de cor azul, e trocam suas legendárias alabardas por um fuzil cuja utilidade é toda relativa.
Uma lei pontifícia proibe, com efeito, a qualquer um, disparo no recinto do Vaticano.
Fiéis à sua tradição, os guardas suíços têm como missão velar pela segurança e independência dos Estados Pontifícios, bem como assegurar a proteção pessoal do Papa.
Uma vez por ano, em princípio, vestem o grande traje de cerimônia. Todos os 6 de maio, com efeito, realiza-se no Pátio de São Dâmaso o juramento dos novos guardas. Para isso colocam ‘o capacete cinzelado com o brasão dos La Rovere’, bem como a couraça, e renovam nesta ocasião sua fidelidade ao Papa.
Ser guarda suíço não é coisa fácil e os que pretendem devem apresentar qualidades excepcionais, atendendo a uma série de critérios draconianos.
É preciso obviamente ser cidadão helvético, mas originário dos cantões de Zurich, Unterwalden, Uri ou Lucerna, em principio. O candidato deve também ser celibatário, ter menos de trinta anos, ser de uma moralidade irrepreensível e... medir mais de um metro e setenta e quatro.
O principal motivo de alistamento na guarda permanece de ordem moral e espiritual e os jovens suíços que escolhem de servir o Soberano Pontífice são católicos fervorosos, principal condição do recrutamento, e não esperam de seu serviço nenhuma satisfação material.
Todo alistamento na guarda é de pelo menos dois anos, e atualmente certos homens podem comprovar mais de vinte anos de serviço.
Além da proteção dos Estados e da segurança do Papa, os guardas suíços garantem igualmente a dos Cardeais reunidos em conclave durante a vacância do Trono Pontifício.
Atualmente, os cento e vinte homens da guarda são comandados pelo Coronel Franz Pfyffer von Altishofen, que é o undécimo membro da família a ocupar esse posto. Esta linhagem presidiu os destinos da guarda suíça sem interrupção desde 1652 até 1847, uma fidelidade à imagem daquele que a guarda suíça tem para com o Papa desde 1506.
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