Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: São Raimundo de Penhaforte: grande canonista e moralista que pregou a Cruzada (1)
Ordena a coleção das Decretales
Em 1230 o Papa chamou-o à corte pontifícia, escolhendo-o seu confessor, capelão e penitenciário. Nessa qualidade o santo redigiu grande número de documentos para o Soberano Pontífice.
Como confessor, impunha ao Papa, como penitência, despachar com misericórdia e brevidade as causas dos pobres que acudiam à corte pontifícia e não tinham protetor.
São Raimundo tomou ainda parte ativa na introdução da Inquisição em Aragão e deu seu parecer sobre o procedimento a seguir em relação aos hereges da província de Tarragona.
Vagando a sé dessa cidade, Gregório IX nomeou-o seu bispo. São Raimundo protestou tanto e chegou a adoecer tão gravemente, que o Papa revogou a nomeação, pelo temor de perdê-lo.
O trabalho intelectual mais importante que se deve a São Raimundo de Penhaforte na corte pontifícia foi o de ordenar e editar a nova coleção das Decretales (os vários decretos e decisões pontifícias regulando pontos da disciplina eclesiástica e civil), destinada a substituir as várias existentes, que estavam em profunda desordem e confusão.
O santo trabalhou durante quatro anos nessa tarefa. Gregório IX, mediante bula de 5 de setembro de 1234, enviou a nova coleção às universidades de Paris e Bolonha, em caráter oficial.
Em 1237, Gregório IX encarregou-o de absolver o rei Jaime de Aragão da excomunhão em que havia incorrido, devido ao atentado cometido, através de seus agentes, contra o bispo eleito de Saragoça.
O santo exerceu as funções de penitenciário até 1237 ou começo de 1238. Tendo então adoecido gravemente, os médicos aconselharam-lhe os ares da pátria.
No capítulo geral dos dominicanos realizado em Bolonha, apesar de ausente, foi eleito por unanimidade para substituir o geral Jordão de Saxe, falecido num naufrágio.
Tendo que aceitar o cargo por obediência, promoveu nova redação das constituições da Ordem, que foram aprovadas em 1239 no capítulo geral de Paris.
Em 1240 demitiu-se do generalato devido à idade e pouca saúde, e voltou para seu convento de Barcelona. Mas lá não permaneceu inativo. Promoveu uma campanha de apostolado em relação aos judeus e mouros da Espanha e da África, e trabalhou com sucesso para a repressão da heresia na Espanha.
Foi também por iniciativa sua que se abriu em Múrcia uma escola de hebreu, para facilitar o ministério apostólico com os judeus.
A tradição conservou um fato milagroso ocorrido com São Raimundo nessa época. O rei Jaime I – que tinha o santo em grande consideração, e freqüentemente recorria ao seu ministério e conselhos – levou-o consigo numa viagem à ilha de Mallorca.
Levou também ocultamente uma mulher com quem mantinha relações ilícitas. Ao descobrir o fato, pediu ao rei que despedisse a mulher, caso contrário ele se retiraria.
Túmulo do santo na catedral de Barcelona |
O soberano prometeu atendê-lo, mas não cumpriu a promessa. Para impedir o santo de deixar a ilha, ordenou a todos os portos que não o aceitassem a bordo.
São Raimundo estendeu então seu manto sobre as águas, e nesse barco improvisado atravessou o braço do Mediterrâneo até Barcelona.
São Raimundo de Penhaforte morreu no dia 6 de janeiro de 1275, já nonagenário, sendo canonizado em 1601.
(Autor: Plinio Maria Solimeo, “Catolicismo”, janeiro de 2010)
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