quarta-feira, 11 de março de 2015

O acordo impossível – o grande cerco de Malta (3)

Estátua de 'Dragut', ou Turgut Reis, sob o Palácio de Topkapi, Estambul.
Estátua de 'Dragut', ou Turgut Reis, sob o Palácio de Topkapi, Estambul.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




continuação do post anterior: La Valette: heroico líder da resistência



O velho corsário turco Dragut ficou indignado ao desembarcar com um exército auxiliar em Malta, em junho de 1565.

Experiente e respeitado como era, criticou os dois comandantes turcos que haviam instalado o cerco contra as defesas cristãs da ilha.

“Atacar o Forte Santo Elmo primeiro foi uma péssima ideia”, disse Dragut. O cerco deveria ter sido armado do lado oposto da Baía Grande, cortando as comunicações dos cristãos.

Após a tomada das principais fortalezas dos cavaleiros de Malta, Santo Elmo não ofereceria mais resistência.

Mas a crítica do velho Dragut — ele próprio o sabia — chegara tarde. Ao mesmo tempo em que o pequeno Santo Elmo resistia a todos os ataques, conquistá-lo havia se tornado uma questão de honra para os turcos. Abandonar o primeiro plano agora seria vergonha!

Dragut passou então a preparar as novas baterias para acabar de vez com Santo Elmo.


Uma furtiva bala de canhão atirada pelos cavaleiros, entretanto, atingiu o velho, tirando-lhe a vida antes que pudesse assistir a queda do “insignificante” Santo Elmo.

Como vimos, esse pequenino forte resistiu durante um mês a toda fúria dos otomanos.

Os valentes cavaleiros da Ordem de Malta exigiram um preço alto por ele: oito mil mortos nas hostes turcas e preciosos dias perdidos.

Entretanto, o cenário estava preparado para o confronto decisivo. De um lado, a Ordem Militar de São João, com 500 cavaleiros e quatro mil soldados voluntários apinhados nas duas fortalezas de Santo Ângelo e São Miguel, situadas nas penínsulas de Birgu e Senglea.

Brasão da Ordem de Malta
Brasão da Ordem de Malta
Do outro lado, a poderosa frota turca e mais de 30 mil muçulmanos ansiosos por expulsar o glorioso domínio da Cruz da pequena ilha de Malta.

O verão daquele julho de 1565 estava especialmente sufocante. O Grão-mestre dos cavaleiros, La Valette, dentro das muralhas de Santo Ângelo, sem se incomodar com o calor, vestido de armadura e elmo de aço, mantinha a vigilância e a calma de um grande general.

Ele já havia previsto todas as possibilidades de ataques turcos, bem como os planos de emergência. Na terra e no mar as defesas estavam montadas.

Malta precisaria resistir apenas mais algumas semanas. A força de resgate da Sicília viria em seu socorro e a batalha seria vencida. A questão era manter os cavaleiros firmes até lá.

Os turcos trabalharam durante dias transportando e armando seus canhões. Dezenas deles foram colocados nas colinas ao redor das defesas.

Mas, sentindo talvez os efeitos da feroz resistência de Santo Elmo e a possibilidade de alongar demais o cerco, Mustafá Pachá, o comandante turco, ofereceu um acordo a La Valette.

Um mensageiro trouxe a proposta ao Grão-mestre. O turco dava sua palavra de que os cavaleiros poderiam se retirar da ilha em segurança, levando o que pudessem.

La Valette levou o mensageiro até o alto de uma muralha, e apontando para o fosso lá embaixo, disse:

“Avise o seu líder que este é o único pedaço desta ilha que cederemos aos turcos. Nós o encheremos com seus cadáveres”.(1)

(Autor: Paulo Henrique Américo de Araújo, in CATOLICISMO, agosto e outubro 2014) 

continua no próximo post: A Batalha Total



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