terça-feira, 5 de agosto de 2025

Balduíno IV, de Jerusalém, o Rei Leproso – 1

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Esse jovem monarca, quase desconhecido na História, foi entretanto dos mais heróicos cruzados e protótipo de soberano virtuoso, comparável a São Luís IX.

Balduíno, filho de Amaury I de Jerusalém e de Inês de Courtenay, nasceu no ano de 1160 na Cidade Santa, Jerusalém. Apesar de o casamento de Amaury ter sido anulado por questão de parentesco, os filhos dele nascidos, isto é, Amauri e Sibila, foram considerados legítimos herdeiros da Coroa.

Um dia em que Balduíno brincava de guerra com outros meninos de sua idade, seu preceptor notou que, enquanto os demais gritavam quando eram atingidos, ele parecia nada sentir.

Perguntando-lhe a razão disso, o menino respondeu que os outros não o feriam, e por isso não manifestava dor e não gritava. Mas, reparando o preceptor em suas mãos e braços, percebeu que estavam adormecidos.

O rei foi informado e mandou vir os melhores médicos, que ministraram emplastros, ungüentos e outras medicinas à criança, sem alcançar entretanto resultado algum. Era o começo de uma doença que iria progredir à medida que Balduíno fosse crescendo.

Em suma, esse menino tão belo, tão ajuizado e já tão sábio fora atingido por um mal terrível, que se revelou logo: a lepra, que lhe valerá o trágico cognome de o Leproso.

Dificuldades: doença, divisão interna e Islã

Com a morte prematura de Amaury, Balduíno foi aclamado rei aos 13 anos. Nessa época ele era um adolescente encantador, o mais cultivado dos príncipes de sua família, “dotado de uma grande vivacidade de espírito, se bem que gaguejando ligeiramente como seu pai, e de uma excelente memória”, escreve seu historiador e preceptor, Guilherme de Tiro(1).
Descoberta da doença do jovem príncipe, futuro Balduino IV
Descoberta da doença do jovem príncipe, futuro Balduino IV

“O reino desse infeliz jovem, de 1174 a 1185, não foi senão uma longa agonia. Mas uma agonia a cavalo, face ao inimigo, toda enrijecida no sentimento da dignidade real, do dever cristão e das responsabilidades da coroa nessas horas trágicas em que o drama do rei correspondia ao drama do reino”(2).

Com efeito, o clima deste era de insubordinação, muitos procurando seguir apenas seus interesses pessoais. Foi essa funesta divisão entre os cristãos que levou, pouco depois, à perda de todos os reinos que haviam sido conquistados pelos cruzados na Palestina.

Já aos 15 anos e leproso, derrota islamitas

De 26 de junho a 29 de julho do ano de 1176, o sultão Saladino assediou a cidade de Alepo. Balduíno IV, que na ocasião contava apenas 15 anos e a lepra não havia ainda minado suas energias, partiu em socorro daquele bastião cristão, coadjuvado pelo Conde de Trípoli, Raimundo III.

Juntos, conquistaram grande vitória sobre os muçulmanos.

“Assim, mesmo sob o reino do pobre adolescente leproso, mesmo em presença da unidade muçulmana quase inteiramente reconstituída, a dinastia franca da Síria manteve os inimigos em cheque. Apesar de sua enfermidade — logo ele não viajará mais senão em liteira —, Balduíno IV, precocemente amadurecido pela dor, demonstrou uma força de alma diante da qual a História deve se inclinar com respeito”(3).

Progredindo a lepra, Balduíno viu a necessidade de assegurar sua sucessão. Para isso só havia suas duas irmãs, Sibila e Isabel. Esta última era filha do segundo casamento de seu pai.

Sobre Sibila, a mais velha, repousava em particular o futuro da dinastia, pois, segundo o costume do país, seu esposo seria rei de Jerusalém.

Jesus Cristo à testa dos cruzados
Jesus Cristo à testa dos cruzados
A escolha do esposo recaiu sobre o príncipe piemontês Guilherme Longa-Espada, um dos mais nobres da Cristandade, primo do Imperador Frederico Barbarroxa e do Rei da França, Luís VII.

Tal casamento, que se realizou em 1177, foi efêmero, pois Guilherme faleceu três meses depois, deixando sua jovem esposa à espera de um herdeiro, o futuro Balduíno V. Esse nascimento póstumo, trazendo como conseqüência para o reino uma nova regência, só poderia enfraquecê-lo ainda mais.

Enquanto isso, Balduíno IV apressou-se em renovar a aliança com o Imperador bizantino Manuel Comeno para, juntos, invadirem o Egito.

As circunstâncias pareciam favoráveis, em virtude das hostilidades que Saladino estava sofrendo na Síria naquela ocasião. Entretanto, como a lepra impedia Balduíno de comandar a expedição, ele ofereceu o comando ao Conde Felipe de Alsácia, que se encontrava em Jerusalém com seus homens.

Mas este, para surpresa geral, não aceitou o convite. Julga-se que Felipe queria suceder ao rei leproso, sendo seu primo. Sua recusa fez fracassar a aliança e comprometer ainda mais os interesses cristãos na Terra Santa.

Fé e heroísmo: causas de vitória inimaginável

Em 1177 Balduíno, cedendo às instâncias do Conde de Flandres, emprestou-lhe grande parte de suas tropas para que este tentasse uma expedição contra Hamas. Sabendo que Jerusalém estava assim desguarnecida, Saladino reuniu todas suas tropas para invadir o reino cristão.

A situação neste era trágica. Balduíno não dispunha senão de 500 cavaleiros. Por outro lado, o Condestável Onfroi de Toron, que o podia ajudar na direção da defesa, caiu gravemente doente.

Nessas circunstâncias quase desesperadas, o jovem rei leproso foi heróico. À aproximação do inimigo, reunindo tudo que podia encontrar de combatentes, saiu com a relíquia da Santa Cruz e chegou a Ascalon.

Mandou uma ordem a Jerusalém e a todo o reino, convocando todos os homens capazes de portar armas a reunirem-se a ele. Mas, quando o reforço se aproximava da Cidade Santa, foi capturado por Saladino.

Julgando-se já dono da situação, o sultão ismaelita permitiu que suas tropas se dispersassem, pilhando, matando, fazendo prisioneiros por toda parte.

Ébrio pelo sucesso, Saladino mostrou-se de uma crueldade inaudita. Mandou reunir os prisioneiros e lhes esmagou a cabeça.

Certo de que os francos estavam reduzidos à impotência, o sultão protegeu-se atrás das muralhas de Ascalon, quando viu aparecer subitamente o rei leproso e seu pequeno exército. Foi no dia 25 de novembro de 1177.

Tinham eles anteriormente perseguido os muçulmanos esparsos, derrotando-os.

Após a batalha, ação de graças no Santo Sepulcro

Os cruzados caíram como um raio sobre o exército de Saladino.

“Ágeis como lobos, ladrando como cães, atacaram em massa, ardentes como a chama”(4), com a relíquia da Santa Cruz à frente, portada pelo bispo de Belém.

Os cristãos tiveram a impressão de que a Cruz crescia até tocar o céu. O cronista siríaco Miguel, Patriarca da Igreja jacobita, contemporâneo dos acontecimentos, assim descreveu a milagrosa batalha de Montgisard:

“O Senhor teve piedade dos cristãos. Todo mundo tinha perdido a esperança, porque o mal da lepra começava a aparecer no jovem rei Balduíno, que enfraquecia, e desde então cada um tremia.

“Mas o Deus que fazia aparecer sua força nos fracos inspirou o rei doente. O resto de suas tropas reuniu-se em torno dele.

Veja vídeo
Montgisard: Balduino IV e
500 templários desfazem
o exército de Saladino
“Ele desceu de sua montaria, prosternou-se com a face contra a terra diante da Cruz e rezou com lágrimas. À vista disto, o coração de todos os soldados se enterneceu.

“Eles estenderam todos a mão sobre a verdadeira Cruz e juraram jamais fugir; e, em caso de derrota, olhar como traidor e apóstata quem fugisse em vez de morrer.

“Montaram de novo nos cavalos e avançaram contra os turcos, que se regozijavam, pensando já os ter derrotado.

“Vendo os turcos, de quem a força parecia um mar, os francos deram-se mutuamente a paz e pediram uns aos outros um mútuo perdão. Em seguida engajaram a batalha.

“No mesmo instante o Senhor fez cair violenta tempestade, que levantava a poeira do lado dos francos e a lançava no rosto dos turcos.

“Então os francos, compreendendo que o Senhor havia aceito seu arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos deram meia-volta e fugiram. Os francos os perseguiram, matando e massacrando durante o dia todo”(5).

Somente a fidelidade dos mamelucos salvou Saladino de morte certa.

Balduíno IV retornou a Jerusalém como triunfador e foi render graças ao Deus dos Exércitos na igreja do Santo Sepulcro.

“Jamais vitória cristã mais bela tinha sido infligida ao Levante, e todo o mérito voltava-se ao heroísmo do rei, cuja juventude [tinha então 17 anos], triunfando por um instante do mal que corroía o corpo, igualou-se em maturidade a um Godofredo de Bouillon ou a um Tancredo”(6).





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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Godofredo de Bouillon (II), “Duque e Defensor do Santo Sepulcro”

O encontro da Santa Lança
O encontro da Santa Lança
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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continuação do post anterior: Godofredo de Bouillon (I), “Duque e Defensor do Santo Sepulcro”



O encontro da lança de Longinus

Durante o cerco de Antioquia, com o inverno vieram as chuvas e as enfermidades, atingindo homens e animais. O exército cruzado ficou reduzido à metade.

A primavera trouxe uma melhora. Sobretudo devido a reforços vindos por mar, os cruzados conquistaram afinal a cidade.

Por pouco tempo, pois três dias depois os turcos voltaram com mais de 200 mil homens e cercaram Antioquia.

A fome e a doença abateram-se novamente sobre os cristãos agora sitiados. Foi quando um sacerdote da Provença, Pedro Bartolomeu, anunciou que Nosso Senhor lhe havia aparecido em sonhos e revelado onde estava enterrada a lança que atravessara seu peito adorável. Com efeito, junto ao altar da igreja de São Pedro encontraram uma lança.(9)

Esse fato sobrenatural deu novo ânimo aos cristãos que, tomados de entusiasmo, caíram sobre os muçulmanos, apesar da desproporção numérica.

Alguns afirmaram ter visto São Jorge conduzindo a batalha. Com a vitória, Boemundo estabeleceu-se como senhor de Antioquia.

O mesmo impulso poderia ter levado imediatamente à conquista da Cidade Santa. Mas o cansaço, a falta de cavalos, e sobretudo a contenda entre os príncipes cristãos, além de outra peste devastadora que ceifou a vida de 50 mil soldados, diminuíram em muito o número de cruzados que se dirigiram a Jerusalém.

A cidade de Jerusalém estava fortificada e bem defendida por mais de 40 mil homens. No dia 7 de junho de 1099 os cruzados a cercaram. Novamente todos os sofrimentos de um sítio prolongado, como a sede sob um sol abrasador de verão, castigaram os cavaleiros da Cruz.

Visão de São Jorge e tomada de Jerusalém

Finalmente, “Godofredo viu no Monte das Oliveiras um homem com brilhante escudo: ‘São Jorge vem em nosso auxílio!’” — exclamou.(10)

Entusiasmados, os guerreiros cristãos empurraram as torres de combate para junto das muralhas da cidade. Estenderam pontes, e Godofredo foi um dos primeiros a saltar, correndo para abrir as portas.

O exército, como a enchente de um rio, penetrou na cidade.

“O sangue corria pelas escadas e chegava até as patas dos cavalos”. “Foi um juízo de Deus”, afirma o cronista Guilherme de Tyro, “que os que haviam profanado o Santuário do Senhor com ritos supersticiosos, e o haviam tirado do povo fiel, expiassem o crime com seu próprio sangue e extermínio”.(11)

Depois os cruzados se lavaram, e com sentimentos de piedade foram andando pelos lugares santos, osculando-os “com grande devoção, humildade e coração contrito, entre soluços e lágrimas”.(12)

Passados os primeiros dias em devoções e em limpar a cidade dos cadáveres, pensaram logo em fixar a vitória, elevando Jerusalém a Reino Latino.

O escolhido para reinar em Jerusalém

“Quando se tratou de eleger um rei, interrogou-se, sob juramento, aos servidores dos Príncipes com mais condições para isso, sobre a vida de seus senhores. Os de alguns deles declararam coisas que os prejudicavam, de medo de terem que ficar em Jerusalém e não voltar para suas terras.

“Alguns outros príncipes declararam que não desejavam ser eleitos para o cargo, tão oneroso. Assim, chegando a vez de Godofredo de Bouillon, seus servidores só tiveram a dizer contra ele que sempre ficava demasiado tempo na igreja, mesmo depois de terminada a missa, e perguntava sobre cada quadro e sua história; e que, enquanto isso, em casa se esfriava a comida”,(13) o que serviu para que os eleitores o escolhessem por unanimidade como a pessoa mais digna para o cargo.

Não rei, mas Defensor do Santo Sepulcro

De acordo com as crônicas do tempo, Godofredo recusou-se a usar a coroa “por respeito Àquele que tinha sido coroado com uma Coroa de Espinhos naquele lugar”.(14)

“Ele nunca usou o título de rei (que somente aparece sob seu sucessor), e contentou-se com o de Duque e Defensor do Santo Sepulcro”.(15)

Pouco tempo depois, Godofredo consolidou a vitória na batalha de Ascalon, derrotando, com apenas 5 mil cavaleiros e 15 mil infantes, o exército de Al-Afdhal, Vizir muçulmano do Egito, que contava com 200 mil etíopes, beduínos e árabes.

Com muita valentia e uma direção prudente, logo no primeiro ímpeto os cristãos dispersaram os mouros.

Com essa brilhante vitória, a fama de Godofredo espalhou-se por todo o Oriente.

“Um emir pediu a Godofredo que, com sua espada, cortasse o pescoço de um grande camelo com um só golpe, o que o Duque fez sorrindo. Em seguida, com uma simples lâmina sarracena, degolou o segundo camelo com a mesma facilidade, enchendo de admiração os árabes, que constataram que a fama de sua prodigiosa força era verdadeira”.(16)

A morte de Godofredo
Quando Godofredo foi interpelado a respeito da força dos seus braços, respondeu que isso se devia ao fato de que jamais tinha utilizado seus membros para cometer qualquer pecado contra a santa pureza.

Godofredo era sabidamente tão justo, que até os caudilhos árabes submetiam a ele seus litígios. Ele protegeu as fronteiras, favoreceu o comércio e governou com religiosa prudência e gravidade.

Com a ajuda dos cruzados de Pisa, reconstruiu a cidade de Jaffa para tornar-se um porto para a chegada dos cavaleiros cristãos.

Ele intentava assediar Acre, mas era desígnio de Deus que, aquele que passara por tantos perigos nos combates, morreria simplesmente num leito de hospital.

Godofredo foi atacado pela peste em Cesaréia.

Retornou a Jerusalém onde, após nomear o irmão Balduíno como seu sucessor, faleceu no dia 18 de julho de 1100, aos 39 anos de idade, sendo enterrado na igreja do Santo Sepulcro.


(Autor: José Maria dos Santos, “Catolicismo”, setembro de 2003)

Notas:
1. Hachette Multimedia / Hachette Livre, online edition, Copyright © 2001 Yahoo! France.
2. Juan Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1928, vol. V, p. 467.
3. Robert the Monk, Hist. Occid. Crois., III, 731, apud Louis Bréhier, The Catholic Encyclopedia, 1906, vol. VI, online edition, Robert Appleton & Cia., 1999.
4. La Grande Encyclopédie, Paris, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, tomo 18, p. 1145.
5. Cfr. Guibert de Nogent, Gesta, vol. VII, 11, apud Louis Bréhier,The Catholic Encyclopedia, Online Edition.
6. Weiss, op.cit., p. 470.
7. Cfr. The Catholic Encyclopedia, e Hachette Multimedia.
8. Weiss, op. cit., p. 474.
9. Cfr. Weiss, op. cit., p. 477; La Grande Encyclopédie, tomo XIII, verbete “Croisade”, p. 441.
10. Weiss, op. cit., p. 479.
11. Guilelmus Tyrius, VIII, cap. 20, in Weiss, op. cit., p. 479.
12. Weiss, op. cit., p. 479.
13. Id., p. 480.
14. The Catholic Encyclopedia, online edition.
15. Id, ib.
16. Weiss, op. cit., p. 482.



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terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Godofredo de Bouillon (I), “Duque e Defensor do Santo Sepulcro”

Godofredo de Bouillon, estátua em Bruxelas
Godofredo de Bouillon, estátua em Bruxelas
Luis Dufaur
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Alguns grandes homens deixam após si uma legenda que os rodeia com uma luz especial, arquetipizando seus feitos e suas glórias.

Um desses foi Godofredo de Bouillon, o conquistador e fundador do Reino Latino de Jerusalém.

“A legenda logo se apoderou deste possante e terno senhor do país valão para torná-lo o arquétipo do cruzado”.(1)

Após sua morte, tornou-se herói de canções de gesta, como o tinham sido antes dele o famoso Carlos Magno e Roland.

Filho de Eustáquio, conde de Boulogne, e de Ida, filha de Godofredo o Barbudo, duque da Baixa Lorena e de Bouillon, Godofredo pertencia a uma antiga família que alegava ter Carlos Magno entre seus ancestrais.

Ele era “geralmente estimado, reto, valoroso, manso, casto, devoto, humano, de formoso aspecto e elevada estatura, cabelos ruivos”,(2) e “é retratado como o perfeito tipo do cavaleiro cristão. Alto de estatura, com um porte agradável e com uma maneira tão cortês, ‘que parecia mais um monge do que um guerreiro’”.(3)

Era “tido por tão bom guerreiro quanto fervoroso cristão”. (4) Sua força era proverbial.

Narram as crônicas que, com um só golpe de espada, ele partiu um guerreiro árabe de alto abaixo, em duas partes iguais.(5)

Godofredo de Bouillon conduz os cruzados
Godofredo, o Cruzado: início da epopéia

À morte do tio Godofredo III, o Corcunda, em 1076, dele herdou o condado de Verdun e a Marca de Anvers. Mais tarde, em 1089, o Imperador Henrique IV cedeu-lhe em vassalagem o Ducado da Baixa Lorena.

Godofredo seguiu o Imperador, tornado seu suserano, na Guerra das Investiduras e em sua iníqua expedição contra o Papa São Gregório VII, entrando em Roma em 1084.

Segundo alguns, para expiar esse pecado, Godofredo foi dos primeiros a tomar a cruz por ocasião do apelo do papa Urbano II, em 1096, juntamente com seus dois irmãos, Balduíno e Eustáquio.

Para financiar sua campanha, ele vendeu ou empenhou vários de seus estados, reunindo, com seus irmãos, 80 mil guerreiros.

Seu exército era composto em sua maioria de valões e flamengos. Como ele falava correntemente ambas as línguas, por ter nascido na fronteira dessas duas nações, servia de árbitro entre as querelas nacionalistas desses povos.

Os vários príncipes cruzados seguiram, com seus respectivos exércitos, diferentes percursos para a Terra Santa, combinando reunir-se em Constantinopla.

Godofredo e os franceses do norte seguiram seu caminho com severa disciplina, pela Alemanha, Hungria e Bulgária, chegando às portas da capital do Império do Oriente.

Brado “Deus o quer”– vitória de Godofredo

Foi então que Boemundo, príncipe de Tarento, convidou Godofredo a unirem seus exércitos para atacar o Imperador bizantino Aleixo,

“Godofredo, que era demasiado honrado, não quis lutar contra cristãos, e temeu esgotar as forças de seu exército antes de enfrentar os infiéis”.(6)

Depois de muitas negociações, Godofredo prestou juramento de fidelidade a Aleixo, embora com restrições, e levou outros a fazê-lo.

Mas alguns príncipes recusaram-se a prestar o juramento, pois os francos menosprezavam os gregos.

Em 1097 deu-se o cerco de Nicéia, afirmando alguns que nele Godofredo não teve qualquer destaque especial;(7) e outros, que foi “só quando a divisão comandada por Godofredo se acercou, com o clamor do trovão ‘Deus o quer!’, que se decidiu a renhida batalha em favor dos cristãos”.(8)

Os cruzados tomaram depois Edessa, formando um principado do qual Balduíno, irmão de Godofredo, se tornou o senhor, derrotando os turcos de várias fortalezas.


(Autor: José Maria dos Santos, “Catolicismo”, setembro de 2003)


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