quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O espírito da Cavalaria no Condestável Du Guesclin

Bertrand du Guesclin, estatua em Chateauneuf de Randon
Fidelidade ao Rei, mesmo diante da injustiça

Du Guesclin jurou a Carlos V uma fidelidade que nunca foi desmentida, mesmo depois da injustiça que o Rei cometeu em 1378, ao confiscar indevidamente a Bretanha (Du Guesclin era bretão).

Atestou brilhantemente sua fidelidade no dia seguinte à sua vitória de Cochorel, em 16 de maio de 1364, não encontrando nada mais urgente que anunciá-la a Carlos V.

O mensageiro chegou com a noticia às portas de Reims, na véspera da sagração real (19 de maio de 1364).

Também pouco antes da morte declarou:

“Eu tinha a intenção de pôr fim às guerras da França e colocar todo o Reino na obediência ao Rei... Rogo a Deus que nos dê sempre leal coragem para servir o Rei, que porá fim a estas guerras”.

E ainda, com gravidade impressionante, no leito de morte, em 1380, recomendou: “Reze por mim, meu tempo encerrou-se. Amai-vos uns aos outros. Sede boas pessoas e servi lealmente o Rei coroado’’”.

Tais foram as últimas palavras que escaparam de seus lábios agonizantes, dirigidas aos pares que choravam à sua cabeceira.


Zelo pelos subordinados

Brasão de Bertrand du GuesclinApesar da pobreza daqueles tempos, Du Guesclin obteve a confiança da coroa da França também por meio da exata probidade com que pagava aos seus súditos, ora com dinheiro particular, alienando seus haveres ou vendendo a maior parte do espólio de guerra que trouxera da Espanha para sua esposa, Tiphaine Raguenel, ora instando com seu soberano o sustento para manter seus compromissos com as tropas.

Em 1358, não hesitou em ir a todo galope de Pentorsin a Provins, onde se encontrava o Regente, para obter dele as somas para suas tropas.

Bertrand du Guesclin, estátua em DinanE o futuro Carlos V, tão sagaz como ele, escutou-lhe logo a súplica e ordenou a seus “generais eleitos” que mandassem pagar sem delongas “com base nos subsídios estabelecidos na Diocese de Avranches, os atrasos devidos a Du Guesclin e às suas gentes de armas”, não seja que “por falta de pagamento abandonem o país e que por isto o dito cavaleiro torne a se queixar de nós”.

Foi assim que suas tropas associando à bondade de seu chefe a justiça de seu Soberano, foram conduzidas a compartilhar entre um e outro a gratidão e o afeto.

Além do mais, Du Guesclin sempre cioso do bem-estar de seus homens, não lhes exige sacrifício da vida senão quando não pode fazer outra coisa. Antes que derrotar o inimigo, prefere conduzi-lo a uma composição.

Mais do que lançar o assalto contra uma cidade ou um castelo, prefere cercá-lo por um bloqueio que os sujeite pela fome, e se o bloqueio se prolonga, como em Chaliers e em Châteauneuf-de-Randon, apóia-se no fogo terrível dos seus canhões e bombardeia incessantemente o inimigo para não ter que enfrentá-lo num entrechoque de armas brancas onde sua tropa, vitoriosa, se arriscaria a sofrer tantas perdas como as que infligiria.

Despretensão e humildade

Em toda a ocasião atribuía à valentia de seus homens a honra dos sucessos conquistados sob suas ordens. E ademais, sabe-se com que modéstia recebeu a elevação ao cargo supremo de Condestável de França.

Bertrand du Guesclin nomeado condestável por Carlos VNo dia em que, no Hôtel Saint Paul, onde entrara na véspera à noite, com sua simples roupa de tecido cinza, Carlos V entregou-lhe a espada de Condestável ornada na empunhadura com flores de lis douradas, símbolo de um comando que não podia ser sujeito senão ao de Rei, começou por declarar que julgava demasiadamente grande para si a dignidade com a qual seria revestido:

“Caro Senhor e nobre Rei, é bem verdade que sou um pobre homem e de humilde procedência, e eis meus senhores vossos irmãos, vossos sobrinhos e primos que terão carga de gentes de armas em Ost e de cavalgadas. Como poderei comandar a eles?”

Carlos V respondeu-lhe com amizade:

“Bertrand, não vos desculpeis, pois não tenho nem irmão nem sobrinho nem conde nem barão no meu Reino que não vos obedeça; e se algum fosse contrário a isso, ele me enfureceria de tal modo que não tardaria em percebê-lo”.

Religiosidade

Jazigo de Bertrand du Guesclin, Abadia de Santi Denis, ParisQuando, em junho de 1380, parte a Clermont para perseguir o que resta das Grandes Companhias, desvia-se do trajeto para ir rezar diante da Virgem de Puy-en-Velay.

Algumas semanas mais tarde, quando, atingido de pneumonia, considera-se perdido, a 9 de julho dita um testamento no qual, em memória da peregrinação que em 1363 tinha visto Charles de Blois, seu senhor feudal, realizar de pés descalços, desde la Roche-Dorrien até Tréguier, Du Guesclin expressa vontade de que cada ano, às expensas de sua casa, um peregrino vá a Tréguier rezar ante os túmulos de São Ivo e de Charles de Blois.



(Fonte: Jérôme Carcopine, “Bernard Du Guesclin”, “Historia”, nº 232, março de 1966, pp. 55- 59).




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